Movimentos populares organizam calendário de mobilização continental

Celebrando a história e a articulação de povos e movimentos sociais em luta, a Alba Movimentos, que reúne organizações populares de diversos países das Américas, se reuniu no Panamá, em um encontro que iniciou na última sexta-feira (10) e finalizou no domingo (12). Como resultado do espaço, foi divulgada uma declaração política que indica as próximas mobilizações.

A primeira atividade é o Encontro Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, que ocorre de 16 a 18 de novembro, em Montevidéu, no Uruguai. Posteriormente, estão sendo organizados protestos paralelos à reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Buenos Aires, na Argentina, entre os dias 11 e 13 de dezembro.

E, no ano que vem, a cidade de Caracas, na Venezuela, recebe a Assembleia Internacional de Movimentos e Organizações dos Povos, de 27 de fevereiro a 6 de março. “Este é um processo de articulação mundial de encontro dos movimentos populares dos quatro cantos do planeta para debater, trocar e projetar experiências de luta; um momento de organização para uma estratégia mundial dos povos”, anunciam.

Em relação aos atuais temas da disputa política das Américas, a Alba Movimentos declara apoio ao processo constituinte da Venezuela e também ao governo de Nicolás Maduro; além disso, defende a possibilidade de que o presidente boliviano, Evo Morales, possa se candidatar nas eleições presidenciais de 2019. Outros posicionamentos da articulação dizem respeito à retirada das tropas da ONU do território haitiano, o fim do bloqueio econômico a Cuba e o cumprimento dos Acordos de Paz pelo governo colombiano.

Um tema pouco citado e que chama a atenção na declaração é sobre o feminicídio ocorrido na Guatemala no dia 8 de março deste ano, em que 56 meninas foram queimadas vivas em uma instituição pública do país. Nesse sentido, os movimentos sinalizam que: “Elas seguirão presentes nas nossas lutas contra o patriarcado e no combate às violências contra as mulheres.”

Confira a declaração na íntegra:

Declaração final da Quarta Reunião de Coordenação Continental

Panamá, novembro de 2017

Após 191 anos do Congresso do Panamá, 100 anos da Revolução Russa, 50 anos do assassinato de Che Guevara e um ano da morte do comandante Fidel Castro, representantes de organizações populares do Caribe, da América Central e da América do Sul estiveram reunidos entre os dias 10, 11 e 12 de novembro de 2017, no Panamá, para realizar a quarta reunião da coordenação continental da

Alba Movimentos.

Em reconhecimento ao seu passado e seu presente de luta e resistência constantes, escolhemos este território insubmisso do continente para potencializar as lutas dos povos da nossa América e Caribe, na articulação continental contra nossos inimigos comuns: o capitalismo, o imperialismo e o colonialismo.

Entendemos que o atual momento está marcado pela crise do capitalismo e pelo aprofundamento da ocupação integral dos nossos territórios, afetando os interesses dos setores populares e a soberania dos nossos países. Estamos diante de um cenário de disputa global: política, econômica, ideológica, cultural e comunicacional.

Esta disputa recrudesce a agressão contra nossos povos, a militarização, a ingerência política, a repressão contra as comunidades que lutam pelo direito à terra e à moradia, a imposição de múltiplos cercos político-militares, como o Triângulo Norte da América Central (Guatemala, El Salvador e Honduras) e o “Plano de Aliança para a Prosperidade”.

A estratégia de guerra não-convencional que os Estados Unidos aplicam contra a Venezuela sofreram uma derrota política com o triunfo popular da Assembleia Nacional Constituinte e as eleições regionais, exemplo de resistência continental ao imperialismo que se mantém em toda a região. Seguimos defendendo a Revolução Bolivariana da Venezuela, expressa no governo de Nicolás Maduro e no povo

Constituinte.

Respaldamos também o companheiro Evo Morales em sua candidatura nas próximas eleições de 2019 e sua permanência à frente do Estado plurinacional da Bolívia, garantia da continuidade do processo de mudança, uma vitória necessária para as lutas populares e anti-imperialistas em todo o continente.

Denunciamos o incumprimento do Estado colombiano no Processo de Paz no país, que se manifesta na falta de implementação do Acordo de Paz de Havana e dos múltiplos acordos subscritos com os movimentos sociais, a obstrução à participação social no diálogo com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e a inexistência de garantias de segurança para as comunidades, para as suas lideranças e para aqueles que estão em processo de reincorporação, com um trágico saldo de 137 líderes e 37 integrantes das FARC assassinados somente neste ano. Seguimos com nosso compromisso militante e solidário com a construção de uma paz com justiça social, colocando todo o nosso empenho em acompanhar este momento importante para a Colômbia e para toda região.

Resgatamos o legado histórico da Revolução haitiana para a independência da Nossa América e rechaçamos a ocupação estadunidense que há 102 anos está oprimindo este povo irmão. Opressão que atualmente se expressa na MINUJUSTH, missão que representa a continuidade da MINUSTAH. Exigimos reparação e justiça para as vítimas desta ocupação criminosa.

Exigimos o fim imediato e incondicional do bloqueio econômico, financeiro e comercial à Cuba, rechaçado uma vez mais pela comunidade internacional e pelos povos de todo o mundo na última sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Denunciamos as novas medidas impulsionadas pelo governo fascista de Trump, que aprofundam as múltiplas agressões ao povo cubano, referência de dignidade, resistência e solidariedade e internacionalismo.

Estamos observando atentamente o processo eleitoral que acontecerá no dia 26 de novembro em Honduras, pelo respeito à vontade popular e em defesa da democracia e da soberania, para que nunca mais aconteçam golpes de Estado na Nossa América.

Denunciamos os governos entreguistas da América Central e do Caribe que assassinam e

criminalizam os lutadores e lutadoras populares por suas justas demandas de uma vida digna: acesso à terra, moradia, educação, saúde e trabalho.

Exigimos justiça no caso das 56 garotas queimadas vivas em uma instituição pública na Guatemala no último 8 de março. Elas seguirão presentes nas nossas lutas contra o patriarcado e no combate às violências contra as mulheres.

Apesar dos golpes dos poderes dominantes, nós, dos movimentos populares da Nossa América, seguimos de pé, projetando nossa unidade para uma contraofensiva dos povos. Por isso:

Saudamos e reconhecemos a importância da Assembleia dos Povos do Caribe, realizada entre os dias 26 e 30 de outubro na República Dominicana e a primeira plenária caribenha da ALBA Movimentos, que contou com a participação de organizações sociais e populares de 19 países, comprometidas a impulsionar a integração da nossa região.

Participaremos ativamente do Encontro Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, que será realizado entre os dias 16 e 18 de novembro na cidade de Montevidéu, no Uruguai, um momento de unidade entre diversas plataformas continentais de articulação para enfrentar a ofensiva imperialista.

Convocamos os povos do nosso continente a se mobilizarem para rechaçar a mercantilização da vida impulsionada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja reunião ministerial acontecerá em Buenos Aires, na Argentina, entre os dias 11 e 13 de dezembro.

Com o espírito de unidade que caracteriza nossa organização, impulsionamos a Assembleia Internacional de Movimentos e Organizações dos Povos, que será realizada nas terras chavistas de

Caracas, na Venezuela, entre os dias 27 de fevereiro e 6 de março de 2018. Este é um processo de articulação mundial de encontro dos movimentos populares dos quatro cantos do planeta para debater, trocar e projetar experiências de luta, um momento de organização para uma estratégia mundial dos povos.

A ALBA Movimentos se coloca no caminho do processo emancipador que acontece há mais de 500 anos no Continente, desde as resistências dos povos originários, passando pela Revolução antiescravagista do Haiti, as guerras emancipadoras da independência e as revoluções populares até os nossos dias. Nosso compromisso é continuar com o legado de revolucionárias e revolucionários como Tupac Amaru, Bolívar, San Martín, Dolores Cacuango, Manuela  Saenz,  Jean Jacques Dessalines, José María Morelos, Francisco Morazán, Bartolina Sisa, Zumbi dos Palmares, José Artigas, Victoriano Lorenzo e tantos outros que fazem parte da nossa identidade e do nosso horizonte.

A luta se faz lutando!

Fonte: Rede Mundo. 

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