Morre jornalista do Piauí que denunciou ao mundo a fome no Brasil na Ditadura Militar

O repórter fotográfico Antônio Costa estava internado fazia mais de dois meses tratando de problemas cardíacos

O repórter Antônio Costa: um talento além do seu tempo
Foto: Arquivo do Sindicato dos Jornalistas

Por Luiz Brandão.

Morreu nesta terça-feira (09.07), em Teresina, o jornalista Antônio Costa, um dos mais antigos repórteres fotográficos que atuaram em jornais no Piauí. Ele tinha 82 anos e estava internado havia mais de dois meses tratando de complicações causadas por doenças cardíacas e renais.

Costa morava no bairro Parque Piauí, na zona Sul de Teresina. Ele havia se aposentado e estava afastado da profissão há alguns anos.

Natural de Crateús (CE), Antônio Costa mudou-se ainda muito jovem para a cidade de Água Branca (PI). Ele foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do Piauí e, entre as décadas de 1970 e 1990, trabalhou como repórter fotográfico nos jornais O Estado e no Jornal da Manhã, ambos extintos.

Casado com Dona Maria Divina, Costa era pai dos também jornalistas Williame Costa (repórter/redator), Gelsoneto Costa (cinegrafista) e Raimundo Costa, o “Costinha, também repórter fotográfico e já falecido em acidente de moto em Teresina.

Dizendo sempre ser um “homem prevenido” e com fama de ser zangado, quando saía para reportagens levava sua pequena peixeira pontiaguda que batizara de “piaba”.

Foto histórica de Antônio Costa que denunciou ao mundo a fome do Brasil durante a Ditadura Militar. Teresina em 8 de julho de 1980

FATO HISTÓRICO – O repórter Antônio Costa notabilizou-se e criou fama mundial, no dia 8 de julho de 1980, data em que o Papa João Paulo II visitou o Piauí. Naquele dia, ainda em plena Ditadura Militar, uma multidão superlotou a parte sul da pista do Aeroporto de Teresina para prestigiar a visita de Sua Santidade.

No meio da multidão, um grupo protestou contra o regime militar que vigorava e contra a fome no Brasil. Os manifestantes estenderam uma grande faixa branca com a frase “Stº Padre, O Povo Passa Fome”. O repórter Antônio Costa não perdeu tempo e fotografou a multidão, o protesto e a faixa.

Em meio à censura e ao rígido esquema de segurança montado pelo Exército, Costa consegui escapar com o filme, já que sua máquina fotográfica fora apreendida e destruída por militares que faziam a segurança nas proximidades do papa.

Ele contava que quando perceberam que havia feito a foto do protesto, incluindo a faixa, os militares partiram para tomar o equipamento. Segundo ele, rapidamente cuidou de trocar o filme e esconder na boca. Quando a máquina fotográfica foi quebrada ela estava com novo rolo de filme.

A fotografia de Antônio Costa ganhou o mundo e foi publicada em jornais de diversos países. Foi uma das primeiras a denunciar a fome que tomava conta do Brasil desde os primeiros anos da Ditadura Militar implantada no país em 1964 . Esse aspecto destacou a importância da foto, a sensibilidade e o profissionalismo de um jornalista talhado no dia a dia da redação.

O PROTESTO – Segundo artigo do jornalista Roberto John, o protesto contra a ditadura militar e contra a fome no Brasil foi comandado por jovens ligados à Pastoral da Juventude, incentivados pelos padres italianos Sandro Spinelli e Roberto Agostini, da Diocese de Verona.

A frase exposta na faixa foi lida pelo Papa. Os jovens que lideraram o protesto foram Edmilson Silva de Araújo (autor intelectual da faixa), Hortência Mendes, Francisca Assunção, Francisca Nascimento, Francisca Trindade, Antônio Carlos, José Libonato e o Décio Solano Nogueira.

 

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