Moradores denunciam degradação do Ratones

ratonesPor Edson Rosa (texto e fotos). Especial para o Daqui na Rede.*

A omissão da Prefeitura, do ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade) e da Casan (Companhia Catarinense de Água e Saneamento) mais uma vez foi criticada por lideranças comunitárias presentes em ato público do Movimento Esgoto no Mangue Não, na manhã de domingo (26), na SC-402, Norte da Ilha. Com faixas e cartazes e reforçados por vizinhos de Vargem Pequena, Jurerê, Daniela e da Ponta Grossa (praia do Forte), moradores e pescadores de Ratones denunciaram a crescente degradação ambiental da maior bacia hidrográfica da Ilha de Santa Catarina, com reflexos diretos no ecossistema da Estação Ecológica de Carijós, na balneabilidade e nas atividades de pesca e maricultura na baía Norte de Florianópolis.

Recorrente, o despejo de esgoto doméstico e de estabelecimentos comerciais afeta diretamente os rios Papaquara, da Palha e Ratones, que banham o manguezal de Carijós e deságuam entre o Pontal da Daniela e a Barra do Sambaqui para formarem o principal estuário da baía Norte – criadouro natural de peixes, moluscos e crustáceos. A poluição deixa escura e fétida as águas que circulam pelos 759 hectares da maior reserva ambiental da Ilha, proveniente, em parte, do próprio sistema de coleta e tratamento da Casan em Canasvieiras. Agravada pelas ligações clandestinas de construções irregulares nos bairros do entorno da bacia do rio Ratones, não atendidos pelo serviço de saneamento básico.

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Fiscalização

“A Casan saneou o rio do Brás, devolveu a balneabilidade àquele trecho da praia de Canasvieiras na última temporada, às custas do desvio dos efluentes da estação de tratamento para o rio Papaquara, que está morto”, critica o presidente da Amora (Associação dos Moradores de Ratones), Flávio De Mori. Com dados da própria estatal, ele diz que 170 litros por segundo de efluentes com tratamento secundário são despejados diariamente pela Casan no riacho, cuja vazão média é de 420 litros por segundo.

O líder comunitário questiona, ainda, a falta de projetos de saneamento básico para os bairros do entorno de Carijós. “Pelo Plano Municipal de Saneamento, as comunidades de Ratones, Vargem Grande, Vargem Pequena e Vargem do Bom Jesus só serão atendidos em 2035 por sistema de coleta e tratamento. “É muito tempo, os rios não aguentarão mais esgoto. E, com isso, está em risco a balneabilidade de Jurerê e Daniela e as atividades de pesca e maricultura em Sambaqui e toda a baía Norte”, alerta.

A falta de fiscalização da prefeitura nas construções irregulares e ligações clandestinas e a ineficiência do programa Se Liga na Rede foram atacadas pelo presidente da Associação dos Pescadores do Rio Ratones, Virgílio Manoel dos Santos, 67 “Não temos nada contra este prefeito [Gean Loureiro, PMDB], mas ele precisa parar de dizer que o problema é das administrações passadas. A prefeitura não pode virar as costas para este grave problema ambiental e social, precisa ajudar a bacia do rio Ratones e seu ecossistema”, emenda.

Inspeção

O prefeito Gean Loureiro, segundo Flávio De Mori, foi convidado para uma reunião com a comunidade, na sede da Associação dos Pescadores de Ratones, no dia 8 de março. “Infelizmente, não apareceu nem mandou representante”, lamenta o líder comunitário, que espera algum encaminhamento do poder público depois de reunião marcada para quarta-feira, 29, no Ministério Público Federal, com a procuradora geral da República em Santa Catarina, Analúcia Hartmann. Afinal, até agora não foi realizada nem a inspeção técnica na estação de tratamento de Canasvieiras, determinada em janeiro pelo juiz federal Marcelo Krás Borges para determinar os pontos de origem do esgoto despejado na calha do rio Papaquara.

Rosa e Silva
Rosa e Silva

Um dos mais velhos pescadores do rio Ratones, Manoel Julio da Rosa, 71, questiona a ineficiência e a omissão do ICMbio diante do despejo de esgoto diário nos rios da estação de Carijós. “É incompreensível que fiscais e técnicos do órgão cumpram expediente ali dentro do manguezal e ignorem a poluição que passa pela frente deles”, critica o pescador.

A fiscalização do ICMbio em Carijós, segundo Manoel Julio da Rosa, só funciona contra os pescadores. “Estamos com as embarcações e as redes paradas. Os rios estão assoreados e poluídos, e, se navegarmos por dentro da reserva [Carijós] para pescar no mar da baía Norte, somos perseguidos, multados e humilhados. Enquanto isso, o esgoto desce com força, mata rios e contamina o mar”, diz.

Também diretor da Associação dos Pescadores do Rio Ratones, Orlando Silva, 55, garante que nunca tinha visto “poluição tão grande no rio”. Além do desaparecimento de espécies antes fartas naquelas águas, como tainhas, robalos, pescadas, bagres, camarões e siris, Silva alerta para a redução da área vegetal do manguezal e para o assoreamento dos cursos naturais de água.

*Edson Rosa é jornalista em Florianópolis.

Fonte: Daqui na Rede.

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