Monólogos Cotidianos – Polêmico

Foto: Pixabay

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

– Não sou a pessoa mais sabida do mundo. E talvez pode parecer meio bobo o que penso. Leio, mas não li nas salas das faculdades. Eu leio e me informo. Gosto de saber as coisas, de conversar sobre. O que sei, ensino. O que não sei, aprendo. E vou vivendo melhor assim. Falando! Ouvindo! Trocando! É curioso. Tantas vezes me deparo com coisas que parecem que foram feitas pra não serem ditas. Qual a razão disso? Coisas polêmicas? Essa de colocar coisas em caixinhas são só pra não discutirmos. É uma forma de calar as pessoas, percebe? Principalmente temas que podem alterar o andamento da coisa e tirar o poder da mão de quem mata e morre pra não perder poder. É uma mentira! Jogam tudo na conta de uma moral ridícula. Quando a gente vai discutir drogas, qual que é o grande mistério disso? Todo mundo sabe o lugar que tem, quanto custa, como usar. Sabe quem usa, porque usa e como fica quando usa. E mais. Sabe que tem gente que gosta pra caramba, logo, qual é o mal nisso? Nenhum! O mal seria não ter motivo pra ficar matando, pra encher cadeia e lucrar. Dar tiro em traficante ajuda em eleição. Por vezes, só prometer já é suficiente. Não viu o psicopata que foi eleito só prometendo matar, foder e expulsar? Tô dizendo, pô. A intenção nunca é bem a que mostram e o silêncio é pra que não cheguemos às respostas debatendo. Então ficam atrás de uma moral hipócrita. Vestem a roupa do pai de família e mandam whatsapp pra outra pessoa escondido no banheiro fingindo que estão cagando. Seria mais fácil pensar família como uma coisa idealizada, construída, não? E que vem mudando com o tempo. Caso contrário, a gente tenta ter uma família do século dos nossos avós, repetindo o erro dos nossos pais e estando no tempo atual como nos tempos dos nossos avós. Confuso, não? Mas acho que você entendeu! Tipo religião. Uma disputa, uma guerra entre ontem e agora. Dane-se o estado laico. É um Deus e forma de ser que prevalecem. Quantas vezes a gente não ouviu que determinadas coisas não se discutem? É por respeito ao que cada um pensa? Óbvio que não! É pra deixar tudo nas caixinhas que estão. Sem solução! Política não se discute? Não? Então posições que divergem devem ficar em silêncio? E a troca? Domingo passado mostrou que a cegueira é violenta. Faz de um lado um lixo e o outro lado solução. E solução por pena de morte, resolução com cadeia, solução com ditadura. É… acho que a gente foi longe demais nisso. Essa de ficar fechado para o que incomoda criou repressões que se confundiram com respeito. Respeito é bom tal como é outra coisa. Debater algo não é desrespeitar a posição, é fazer dela soma ou não ao que se pensa. Mas permanece o estado de silêncio. Acho que considerar algo polêmico é como colocar cacos de vidro no muro. A pessoa olha e já pensa se vai querer pular. Se pular, pode ter um problema enorme. São nossas próprias fragilidades que não expomos de forma alguma e achamos o fim do mundo tê-las. Naturais, porém diabólicas. Polêmicas! Talvez seja necessário repensar. Nos abrirmos para discutir tudo e procurar alternativas. Para nós e os outros. Sem essa de polêmico. Sem essa de não discutir. A pauta é essa? Vamos pra ela! Vamos aproveitar que podemos falar, expôr o que pensamos. A gente não sabe o dia de amanhã. A gente não sabe se esse silêncio todo vai matar a gente. Ou se resolver falar vai matar. A gente não sabe.

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 A série “Monólogos Cotidianos” buscou discutir temas considerados polêmicos caminhando por formas diferentes em seus personagens. Sobretudo, tentou trazer como ideia principal algo urgente: que todo tópico, toda pauta, tudo que nos envolve necessita, sim, ser dialogado, pensado e propagado para maior e melhor informação. Em tempos duros como o que estamos, talvez ter ressaltado isso foi essencial. Afinal, apesar de não serem de hoje, as posições cada vez mais convergem para nos aproximar do silêncio. Assim, uma hora sem nos darmos conta, lá ficaremos de vez. Essa é a intenção de quem resolveu brincar de presidente.

Guigo RibeiroGuigo Ribeiro é ator, músico e escritor.

 

 

 

A opinião dos autores não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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