Míster Presidente!

Por Marc H. Ellis.

“Para o senhor, Sr. Presidente, os palestinos e a Palestina são problemas que devem ser encarados. Não pude sentir de sua palestra que haja um problema real que precisa ser exposto e corrigido. Como foi necessário no caso dos judeus. Como continua sendo necessário no caso dos judeus… Parece que sua lousa presidencial está repleta de judeus e história judaica. Quando o senhor decide falar sobre os palestinos, volta-se para a lousa e escreve “Problema”.

————————————————————

Vamos encarar o fato, Presidente Obama, seu discurso nas Nações Unidas desta semana foi tão somente enrolação, essência de política doméstica com vistas ao ciclo eleitoral estadunidense de 2012. Aqui, eu me refiro principalmente à questão do reconhecimento de um Estado Palestino.

Sr. Presidente, o senhor já foi acusado de ser excessivamente profissional. Eu sei que os políticos precisam ser eleitos ou reeleitos para que tenham êxito. Gente de consciência que fica sentada ao lado do campo político têm de soltar as rédeas do político. Ainda assim, com seu perdão, eu lamento seu desempenho opaco em relação com uma variedade de pontos. O senhor parece não estar disposto a jogar duro politicamente com respeito às questões que nosso país está enfrentando.

Sim, eu sei que as coisas poderiam ser piores. Sim, posso imaginar um dos principais contendentes republicanos, suponhamos Rick Perry, fazendo o discurso nas Nações Unidas depois de ter sido eleito em 2012. Sim, eu me lembro do Presidente Bush. Eu moro no Texas. Posso imaginar o Presidente Rick Perry. Eu entendo seu ponto claramente. Eu deveria ter cuidado ao fazer minhas críticas.

Mesmo assim, eu tenho uma pergunta básica para o senhor. E eu a faço como judeu. Mesmo administrando as artimanhas políticas necessárias para navegar no cenário político estadunidense, o senhor realmente crê em suas próprias palavras com respeito ao Estado Palestino?

Eu estou fascinado, Sr. Presidente. Sua discussão sobre o reconhecimento do Estado Palestino centra-se fundamentalmente sobre o Estado de Israel, a história judaica e o Holocausto. Por quê isso, Sr. Presidente? Eu escutei suas palavras com interesse.

“Mas entendam isto também: O compromisso dos EUA com a segurança de Israel é indestrutível. Nossa amizade com Israel é profunda e duradoura. E, assim, cremos que qualquer paz duradoura deve reconhecer as preocupações muito reais que Israel enfrenta a cada dia.

Vamos ser honestos conosco mesmos: Israel está rodeado de vizinhos que lhe livraram repetidas guerras. Cidadãos israelenses foram mortos por foguetes lançados sobre suas casas e por homens bombas em seus ônibus. As crianças de Israel ficam adultas sabendo que por toda a região outras crianças são ensinadas a odiá-las, um pequeno país de menos de oito milhões de pessoas olha para fora a um mundo onde os líderes de nações muito maiores ameaçam varrê-lo do mapa. O povo judeu carrega o fardo de séculos de exílio e perseguição e as recordações frescas de saber que 6 milhões de pessoas foram eliminadas simplesmente por serem o que eram.

Esses são os fatos. Eles não podem ser negados.

O povo judeu ergueu um Estado exitoso em sua pátria histórica. Israel merece ser reconhecido. Merece ter relações normais com seus vizinhos. E os amigos dos palestinos não lhes fazem nenhum favor ao ignorar esta verdade, assim como os amigos de Israel devem reconhecer a necessidade de buscar uma solução de dois estados com um Israel seguro junto a uma Palestina independente.”

Eu leio também o resto de seu discurso. Fecho meus olhos por um momento e o vislumbro em seu modo professoral. Eu o ouço discursar, de uma perspectiva judaica, sobre por que Israel é importante para os judeus. O senhor recita o que quase se tornou mecânico em minha comunidade. O senhor está certo quando fala sobre séculos de exílio e perseguição, a devastação e o Holocausto e o retorno à pátria antiga.

E logo, o senhor se refere aos palestinos. Ouço com expectativa. Mas, Sr. Presidente, fico frustrado. Parece que em sua interpretação histórica os judeus, o Holocausto e a história judaica simplesmente desabam sobre os palestinos. Ou melhor, há a história judaica e, então, há os palestinos, que também merecem um estado.

O fato de os judeus terem expulsado os palestinos e tomado sua terra parece ser um incidente para o senhor. Na verdade, o senhor nunca menciona isso. O senhor não emprega a expressão “limpeza étnica”, que ocorreu com os palestinos na criação do Estado de Israel.

Para o senhor, Sr. Presidente, os palestinos e a Palestina são problemas que devem ser tratados. Não pude sentir de seu discurso que há questões de carne e sangue que precisam ser expostas e corrigidas. Assim como foi necessário para os judeus. Assim como continua sendo necessário para os judeus.

Parece que sua lousa presidencial está repleta de judeus e história judaica. Quando o senhor se refere aos palestinos, volta-se para a lousa e escreve – “Problema”. Como o senhor se referiu ao “problema” várias vezes, em minha imaginação, o senhor também o envolve num círculo. Daí, o senhor volta a seu assunto principal – a história judaica.

Foguetes sendo lançados sobre Israel a partir de Gaza. Sr. Presidente, o senhor se esqueceu da Operação Chumbo Derretido, a invasão de Gaza por Israel logo após o senhor ser eleito presidente?

Árabes falando mal de Israel. O senhor deveria me acompanhar em uma de minhas giras de palestras. O senhor ouviria o que as audiências de judeus e não-judeus estadunidenses têm a dizer sobre árabes, muçulmanos e palestinos. Em momentos desprevenidos e frequentemente em público, o senhor procurou ouvir as discussões sobre os palestinos na “única democracia do Oriente Médio”, nosso grande aliado, Israel?

Sr. Presidente – e com todo o devido respeito – permita-me dizer claramente que o senhor não fala por mim nem por muitos outros judeus que não acham que “algo” aconteceu aos palestinos como se fossem simplesmente um subproduto da história judaica. Nós não pensamos que os palestinos existem sem uma história ou sem um destino dentro de sua própria terra.

Certamente, como o senhor diz, poderia ser pior, Sr. Presidente. Mas, talvez, já seja pior. Quando eu ouvi suas palavras, eu pensei que o final tinha chegado. Eu segurei minha cabeça com as mãos – a história judaica não deveria acabar nisto. Eu queria abafar suas palavras. Eu queria que o senhor falasse sobre outras coisas das quais o senhor entende melhor ou, pelo menos, que lhes são mais próximas do coração. Eu queria algo mais do que a rotação do ciclo político.

Sim, os judeus realmente carregam séculos de exílio e perseguição. Os judeus europeus sim sofreram seis milhões de mortes. Eu sei disso como judeu. Eu cresci com essas recordações. Mas Sr. Presidente, como uma criança que aprende nossa história, eu nunca imaginei que os judeus fossem usar esses séculos de exílio e perseguição, nossos seis milhões de mortos, como um instrumento cego contra um outro povo. Nunca! Nem mesmo em minha imaginação mais selvagem. Não!

Ao ouvi-lo, eu imaginei como as coisas terminam. Como a história judaica terminou – em limpeza étnica e ocupação.

Mas, Sr. Presidente, isto também pode ser nosso começo. Esse começo somente vai vir quando a verdade for contada pelos judeus e pelos palestinos juntos. E sim, talvez um dia, pelo Presidente dos Estados Unidos da América.

Fonte original: http://americas.mediamonitors.net/content/view/full/89992

Marc H. Ellis é professor universitário de Estudos Estadunidenses e Judaicos e Diretor do Centro para Estudos Estadunidenses e Judaicos da Baylor University, de Waco, Texas. Ele ofereceu este artigo a Media Monitors Network (MMN)

Versão em português: Jair de Souza.

 

¡Míster President!

Por Marc Ellis.

El discurso de Obama sobre Palestina

“Para usted, Míster President, los palestinos y Palestina son problemas que hay que encarar. Su sermón no me dio la impresión de que exista un problema real que es necesario denunciar y corregir. Como fue necesario para los judíos. Como sigue siendo necesario para los judíos… Parece que su pizarra presidencial está repleta de judíos e historia judía. Cuando llega a hablar de los palestinos, se vuelve a la pizarra y escribe: “Problema”.

Señor presidente, a usted le han acusado de ser demasiado profesional. Sé que los políticos tienen que ser elegidos o reelegidos para tener éxito. Gente juiciosa sentada a a la espera de su turno político tiene que dar algo de cuerda a los políticos. A pesar de todo, si me lo permite, deploro su deslucida actuación en una serie de temas. Parece que no está dispuesto a jugar duro frente a los problemas que enfrenta nuestro país.

Sí, sé que las cosas podrían ir peor. Sí, me puedo imaginar a uno de los favoritos republicanos, digamos Rick Perry, pronunciando el discurso ante las Naciones Unidas después de salir elegido presidente en 2012. Sí, recuerdo al presidente Bush. Vivo en Texas. Me puedo imaginar al presidente Rick Perry. Oigo claramente lo que usted dice. Debería tener más cuidado cuando critica.

A pesar de todo, tengo una pregunta básica. Y se la formulo como judío. Incluso teniendo en cuenta el sesgo necesario para navegar en la escena política estadounidense, ¿cree realmente sus propias palabras sobre el reconocimiento del Estado palestino?

Estoy fascinado, señor presidente. Su discusión sobre el reconocimiento del Estado palestino gira sobre todo alrededor del Estado de Israel, la historia judía y el Holocausto. ¿Por qué? Escuché con interés sus palabras:

Pero entiendan esto también: el compromiso de Estados Unidos en la seguridad de Israel es inquebrantable. Nuestra amistad con Israel es profunda y duradera. Y es así que creemos que cualquier paz duradera debe reconocer las muy reales preocupaciones de seguridad que Israel enfrenta, todos y cada uno de los días.

Seamos honestos con nosotros mismos: Israel está rodeado de vecinos que han librado repetidas guerras contra él. Ciudadanos de Israel han sido asesinados por cohetes lanzados contra sus casas y por atentados suicidas contra sus autobuses. Los niños de Israel maduran sabiendo que, en toda la región, a otros niños se les enseña a odiarlos. Israel, un pequeño país de menos de ocho millones de personas, mira afuera, hacia un mundo donde líderes de naciones más grandes amenazan con borrarlo del mapa. El pueblo judío lleva la carga de siglos de exilio y persecución, y el recuerdo fresco de que seis millones de personas fueron asesinadas, simplemente por ser quienes eran. Esos son los hechos. No se pueden negar.

El pueblo judío ha forjado un exitoso Estado en su patria histórica. Israel merece reconocimiento. Merece relaciones normales con sus vecinos. Y, amigos de los palestinos, no les hagan ningún favor ignorando esta verdad, del mismo modo que los amigos de Israel deben reconocer la necesidad de buscar una solución de dos Estados con un Israel seguro al lado de una Palestina independiente. [Traducción de forojudio.com]

También leo el resto de su discurso. Cerrando mis ojos por un momento, me lo imagino en su modo profesional. Lo oigo sermoneando, desde la perspectiva judía, sobre por qué Israel es importante para los judíos. Recita lo que casi se ha convertido en rutina en mi comunidad. Tiene razón cuando habla de siglos de exilio y persecución, la devastación del Holocausto y el retorno a nuestra antigua patria.

Y luego se vuelve hacia los palestinos. Escucho con expectación. Pero, señor presidente, me deja desilusionado. Parece que en su interpretación histórica, los judíos, el Holocausto y la historia judía simplemente caen sobre los palestinos. O más bien, existe la historia judía, y luego están los palestinos, quienes también merecen un Estado.

El hecho de que los judíos hayan dislocado a los palestinos y tomado su tierra le parece algo trivial. De hecho, usted nunca lo menciona. Usted no utiliza el término “limpieza étnica”, lo que sucedió a los palestinos al crearse el Estado de Israel.

Para usted, señor presidente, los palestinos y Palestina son problemas que hay que encarar. Su sermón no me dio la impresión de que exista un problema real que es necesario denunciar y corregir. Como fue necesario para los judíos. Como sigue siendo necesario para los judíos… Parece que su pizarra presidencial está repleta de judíos e historia judía. Cuando llega a hablar de palestinos, se vuelve a la pizarra y escribe: “Problema”.

Ya que usted volvió varias veces al “problema”, en mi imaginación usted también hace un círculo a su alrededor. Luego vuelve a su tema principal – la historia judía.

Caen cohetes en Israel desde Gaza. Señor presidente, ¿ha olvidado la Operación Plomo Fundido, la invasión de Gaza por pate de Israel justo después de su elección?

Árabes que humillan a Israel. Debería acompañarme en una de mis giras de conferencias. Oiría lo que judíos y audiencias estadounidenses no judías dicen sobre los árabes, los musulmanes y los palestinos. En momentos desprevenidos y a menudo en público, ¿ha escuchado cómo se habla de los palestinos en la única democracia en Medio Oriente, nuestro gran aliado, Israel?

Señor presidente –y con todo debido respeto– me permito decirle claramente que usted no habla en mi nombre ni en el de muchos otros judíos que no piensan que “algo” sucedió a los palestinos solo como si fuera un subproducto de la historia judía. No pensamos que los palestinos existan sin una historia o sin un destino en su propio país.

Por cierto, como usted dice, podría ser peor, señor presidente. Pero tal vez ya lo sea. Cuando escuché sus palabras pensé que había llegado el fin. Sujeté mi cabeza entre mis manos, la historia judía no puede haber llegado a este punto. Quería ahuyentar sus palabras. Quería que hablara de otras cosas de las que sabe más o que por lo menos lo preocupen más. Quería algo diferente del ciclo del sesgo político.

Sí, los judíos llevan a cuestas siglos de exilio y persecución. Los judíos europeos sufrieron la masacre de seis millones. Lo sé como judío. Crecí con esos recuerdos. Pero, señor presidente, como niño que aprendió nuestra historia, nunca imaginé que los judíos utilizarían esos siglos de exilio y persecución, nuestros seis millones de muertos, como un instrumento brutal contra otro pueblo. Nunca. Ni en mi más descabellada imaginación. ¡No!

Al escucharle pensé en cómo terminan las cosas. Cómo ha terminado la historia judía, en limpieza étnica y ocupación.

Pero, señor presidente, esto también puede ser nuestro comienzo. Ese comienzo solo tendrá lugar cuando judíos y palestinos digan juntos la verdad. Y, sí, tal vez algún día, lo haga el presidente de EE.UU.

by courtesy & © 2011 Marc H. Ellis

Marc H. Ellis es profesor universitario de Estudios Estadounidenses y Judíos y director del Centro para Estudios Estadounidenses y Judíos en la Universidad Baylor University en Waco, Texas. Envió este artículo a Media Monitors Network (MMN).

Traducción: German Leyens.

 

 

 

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.