Missionários avançam sobre terra indígena Vale do Javari (AM)

Lideranças indígenas afirmam que não querem evangelização em suas aldeias. 

Crianças mayoruna da aldeia Lobo (Elaíze Farias)
Crianças mayoruna da aldeia Lobo (Elaíze Farias)

Por Elaíze Farias.

Junto com o precário serviço de saúde, atividade escolar quase inexistente, o desmatamento para criação de boi e a extração de madeira (embora em menor escala) são algumas das principais ameaças contra a sobrevivência dos povos indígenas do Vale do Javari.

Uma pressão razoavelmente recente, contudo, vempreocupando os indigenistas e os próprios indígenas: o avanço da entrada de missionários evangélicos nas aldeias.

Segundo o coordenador regional da Fundação Nacional do Índio em Atalaia do Norte, Bruno Pereira, nos últimos anos o Vale do Javari tem sido o novo alvo de misssionários, mas a maioria das lideranças se recusa a aceitá-los. Ele próprio diz ser procurado pelos missionários, que oferecem ajuda aos indígenas.

Para serem aceitos, a estratégia dos missionários é oferecer serviços inexistentes nas comunidades (e que seria obrigação do Estado brasileiro), como escolas, postos de saúde e até poços artesianos. Outra maneira de aproximação é evangelizar apenas um indígena (que em geral se torna pastor) de uma determinada aldeia (inclusive do Peru) e, tempos depois, promover o seu retorno para que ele continue o trabalho junto aos demais.

O cacique da aldeia Lobo, Waki Mayoruna, é radicalmente contra a entrada de missionários. Na reunião ocorrida em sua aldeia, a presença de um piloto de avião que levou até o local o prefeito de Atalaia do Norte, Nonato Tenazor, incomodou Waki. O cacique teria expulsado o piloto (que mais tarde disse à reportagem ser da “ong” Assembleia de Deus), se não fosse a interferência de outros indígenas.

Em declaração ao jornal A CRÍTICA, Waki disse que não aceita missionários pois estes provocam conflitos e divisões nas aldeias e querem proibir que os indígenas continuem praticando seus rituais e sua cultura.

Gonçalo Mayoruna, que dá aulas em sua casa. Foto: Elaíze Farias

Outro problema identificado nas aldeias mayoruna é a precária estrutura dos polos bases de saúde e na operacionalização do atendimento. A região tem alto índice de malária, hepatite, DST, tuberculose e mansonelose (esta provocada pela picada do mosquito pium e que não tem cobertura do Sistema Único de Saúde). Também não há escolas. Na aldeia Lobo, por exemplo, o professor Gonçalo Mayoruna dá aulas em sua casa, com livros reutilizados.

Fonte: Acrítica

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