México: Receita para levar o país ao retrocesso

receta-mexicoPor Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info.

Neste mês de março se comemoram duas datas importantes (bom, três, mas meu aniversário ainda não é motivo de festa nacional). Em 18 de março recordamos a expropriação petroleira, o dia em que o presidente, general Lázaro Cárdenas, nacionalizou a empresa petrolífera, em 1934. Todos os mexicanos se uniram para pagar as indenizações às empresas estrangeiras e conseguimos autonomia energética e econômica por 30 anos (época que se conhece como “Milagre Mexicano”).

Nossa segunda data importante da semana é o 21 de março em que se celebra o natalício de quem também foi presidente de México, Benito Juárez, que separou a Igreja do Estado com suas famosas “Leis de Reforma”. Porém, a esta altura, seguir comemorando estas duas datas é um ato de ignorância histórica e hipocrisia. Uma, porque o petróleo já não é nosso e, dois, porque a igreja anda tão metida no Estado que temas como o aborto e os casamentos igualitários em todo o país simplesmente não passarão.

Mas não são só os temas do petróleo, do aborto e dos casamentos igualitários que mostram um claro retrocesso na história mexicana, também tem outros dois casos que, na verdade, me apavoram. Vamos falar do sistema de saúde que aplica quimioterapia a base de água destilada e os cortes nas bolsas ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Conacyt).

Tudo começou em 16 de janeiro deste ano quando o novo governador do estado de Veracruz, Miguel Ángel Yunes, acusou e garantiu que durante o  mandato do ex-governador prófugo Javier Duarte, foram proporcionados medicamentos a base de água destilada a crianças com câncer. Duarte também é conhecido por ter mandado assassinar ativistas pró-direitos humanos e, além disso, foi acusado de desvio de recursos.

O governador veracruzano acrescentou que também encontraram depósitos cheios de medicamentos com data de validade vencida, os mesmos que eram dados aos pacientes.

“Isto me parece um pecado brutal, um atentado contra a vida das crianças”, disse o mandatário.

Dentro desta macabra trama, coincidentemente desapareceram do Centro de Oncologia, de Veracruz, os prontuários de nove crianças que supostamente faleceram entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015.

“Quando morrem nove crianças no hospital, é uma cifra muito alarmante. As crianças com câncer têm um alto risco de morte, mas não tanto, não é lógico, não se corresponde com a estatística normal”, salientou Juan Antonio Nemi Dib, ex-secretário da Saúde do governo de Veracruz.

O funcionário de fato renunciou a seu cargo da instituição justamente por denunciar este e outros episódios que evidenciam a corrupção e a falta de ética do agora ex-administrador Ricardo Sandoval. Durante a administração de Juan Antonio Nemi, foi criado o Instituto de Oncologia, procurou-se que tivesse personalidade jurídica própria para evitar o desvio de recursos e que os recursos se ocupassem para equipamento, medicamentos e pesquisa em matéria de câncer. Lastimavelmente quando Juan Antonio Nemi deixou de ser o administrador, a instituição desandou e Fernando Benítez Obeso suprimiu o instituto e ficou novamente a cargo da Secretaria da Saúde. Curiosamente, as mortes das nove crianças aconteceram só quando Fernando Benítez Obeso assumiu cargo.

A Associação Mexicana de Ajuda às Crianças com Câncer (AMANC) denunciou deficiências no setor da saúde durante a gestão do ex-governador veracruzano Javier Duarte, entre elas: a falta de medicamentos, falta de infraestrutura médica adequadas para atender crianças e jovens com câncer.

A Comissão Federal para a Proteção Contra Riscos Sanitários (Cofepris) confirmou que não foi encontrado nenhum medicamento com água destilada utilizado para quimioterapia em menores em Veracruz, e muito menos algum menor morto, como denunciou o governador Miguel Ángel Yunes.

A Cofepris que analisou os prontuários médicos e clínicos do próprio governo de Veracruz deu por encerrado este causo porque não encontrou sustentação às denúncias do governador Yunes. Mas acharam algumas ampolas de Avastin (medicamento usado contra o câncer) falsas.

“O governo veracruzano adquiriu estas ampolas apócrifas a través de empresas de procedência duvidosa, Especialidades Médicas del Sureste e Oncopharma. A farmacéutica Roche, fabricante de medicamentos contra o câncer, informou à Cofepris que as empresas “não são suas distribuidoras autorizadas”, e, além disso, o organismo sanitária não as achou nos endereços comerciais fornecidos pela Secretaria de Saúde de Veracruz” .

Encerrar este caso porque os prontuários se perderam, porque não tem provas ou porque não tem jeito de ir além, é atentar contra a vida porque o programa de saúde criado, teoricamente universal e gratuito, não garante que os mexicanos recebam um serviço de saúde adequado e pode ser até mortal.

Como se não fosse cometer um atentado contra a vida dos mexicanos, nosso exemplar e democrático governo também atenta contra nossa educação.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD por sua sigla em inglês), mede o desenvolvimento e a qualidade de vida de um país de acordo a sua capacidade de investimento na pesquisa das ciências e a produção de tecnologias. Mas se falamos de investir na educação e a ciência no México realmente estamos reprovados. O governo mexicano está mais preocupado com a compra de aviões, o aumento dos seus salários e obter mais benefícios do que com a educação.

Já dava para prever o corte das bolsas que outorga o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, porque vinha sendo anunciando do ano passado que essa instituição educativa se veria afetada pelo corte no orçamento e a alta do dólar.

Desde 2013, o Conacyt tinha incrementado ano após ano os apoios acadêmicos; contudo, para 2017 já não houve como obter mais orçamento, o que provoca a redução de bolsas de estudo, fato que afeta os estudantes de pós-graduação. Estes alunos e alunas dependem das bolsas e têm dificuldades porque devem dedicar-se completamente e não conseguem desenvolver outras atividades que ajude a pagar seus estudos.

Pablo Rojo, diretor de bolsas do Conacyt informou no ano passado que

“a afetação por orçamento dependerá do tipo de câmbio: se se mantiver como até agora, muito provavelmente teremos que ajustar as novas bolsas.

Em 2017 poderia ser que outorguemos menos bolsas daquelas que deveríamos, de acordo com a tendência de crescimento dos últimos anos. Possivelmente esta tendência crescente não se manterá, provavelmente nos estanquemos em um número similar ao deste ano”, agregou.

Dito e feito, este ano a Conacyt negou bolsas a estudantes inscritos em seus próprios programas. Só na Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), Unidade Xochimilco, na cidade do México, foram recusadas 73 solicitações, o que afetou alunos de seis pós-graduações. A Conacyt cancelou o financiamento das matrículas dos estudantes de pós-graduação na UAM.

O mesmo caso a contece na cidade de Guadalajara no estado de Jalisco. O corte das bolsas de pós-graduação afetou 200 estudantes da Universidade de Guadalajara (UDEG).

Os estudantes do México todo pedem que as autoridades educativas reavaliem a decisão de limitar o número de bolsas para estudos de mestrado ou doutorado, assim como para pesquisas. Os alunos, professores e pesquisadores consideram que reduzir o número apoios à educação é realmente preocupante porque exclui a possibilidade de manutenção dos alunos e também limita e detém a execução de suas pesquisas. Mas, sobretudo, prejudica os anos de esforços de professores e pesquisadores do país todo, que procuram consolidar programas acadêmicos de qualidade internacional e freia o crescimento deles.

Como disse no início, estamos em uma etapa de retrocesso: o Partido Revolucionário Institucional já fez 88 anos no poder. Falam que “não tem mal que dure 100 anos”. Parece que ainda nos faltam 22. A receita para levar um país em retrocesso é perder a independência energética, deixar que a Igreja continue se metendo na agenda do Estado, atentar contra a saúde dos mexicanos e reduzir os apoios à educação.

Tradução: Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.

Foto de capa: “Luz e Progresso” ( Mexican Peso 2° parte) , Himed&Reyben, no Coletivo, Puebla , México. Mural realizado no festival Maiúscula organizado por Ciudad Mural, no centro histórico de Puebla. “Luz e Progresso” não depende dos que estão acima, senão dos que estamos abaixo, nós, o Povo, aqueles que temos esse “poder” de eleger o rumo do país e atingir essa verdadeira mudança. Somente juntos nos levantaremos das ruínas.


Receta para llevar a un país al retroceso

Por Ana Rosa Moreno, Puebla, México, para Desacato.info.

En este mes de marzo se conmemoran dos fechas importantes (bueno tres, pero mi cumpleaños aun no es motivo de fiesta nacional). El 18 de marzo recordamos la expropiación petrolera, el día en que el presidente general Lázaro Cárdenas, en 1934, nacionalizó la empresa petrolera. Todos los mexicanos se unieron para pagar las indemnizaciones a las empresas extranjeras y logramos autonomía energética y económica por 30 años (época que se conoce como “Milagro Mexicano”).

Nuestra segunda fecha importante a manera de efeméride de la semana es el 21 de marzo en que se celebra el natalicio de quien también fue presidente de México, Benito Juárez, quien separó la Iglesia del Estado con sus famosas “Leyes de Reforma”.

Sin embargo, a estas alturas, seguir conmemorando estas dos fechas es un acto de ignorancia histórica e hipocresía, una porque el petróleo ya no es nuestro y, dos, porque la Iglesia anda tan metida en el Estado que temas como el aborto y los matrimonios igualitarios en todo el país simplemente no pasarán.

Pero no solo el tema del petróleo, del aborto y de los matrimonios muestran un claro retroceso en la historia mexicana, también hay otros dos casos que, la verdad, me aterran. Vamos a hablar del sistema de salud que aplica quimioterapias a base de agua destilada y los recortes a las becas al Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (Conacyt).

Todo empezó el 16 de enero de este año cuando el nuevo gobernador del estado de Veracruz, Miguel Ángel Yunes, acusó y aseguró que durante el mandato del exgobernador prófugo Javier Duarte fueron suministrados medicamentos a base de agua destilada a niños con cáncer. Duarte también es conocido por haber mandado a asesinar a activistas pro derechos humanos y además se le acusó de desvío de recursos.

El gobernador veracruzano agregó que también encontraron bodegas llenas de medicamentos con caducidad vencida, los mismos que eran suministrados a los pacientes.

“Esto me parece un pecado brutal, un atentado contra la vida de los niños”, señaló el mandatario.

Dentro de esta macabra trama, casualmente, desaparecieron del Centro de Cancerología, de Veracruz, los expedientes de nueves niños que presuntamente fallecieron entre diciembre de 2014 y enero del 2015.

“Cuando se mueren nueves niños en el hospital es una cifra muy alarmante. Los niños con cáncer tienen un alto riesgo de muerte, pero no tanto, no es lógico, no se corresponde con la estadística regular”. Señaló Juan Antonio Nemi Dib, exsecretario de Salud del gobierno de Veracruz.

El funcionario de hecho renunció a su cargo de la dependencia precisamente por denunciar este y otros hechos que evidencian la corrupción y la falta de ética del ahora exadministrador Ricardo Sandoval. Durante la administración de Juan Antonio Nemi, se creó el Instituto de Oncología. Se buscó que tuviera personalidad jurídica propia para evitar el desvío de recursos y que los recursos se ocuparan para equipo, medicamentos e investigación en materia del cáncer. Lamentablemente cuando salió de Juan Antonio Nemi, la institución se vio abajo y Fernando Benítez Obeso suprimió el instituto, que quedó nuevamente a cargo de la Secretaría de Salud. Curiosamente los decesos de los nueves niños se dieron recién cuando Fernando Benítez Obeso tomo el cargo.

La Asociación Mexicana de Ayuda a Niños con Cáncer (AMANC) ha denunciado deficiencias en el sector salud durante la gestión del exgobernador veracruzano Javier Duarte, entre ellas; la falta de medicamentos, falta de infraestructura médica adecuada para atender a niños y a jóvenes con cáncer.

La Comisión Federal para la Protección Contra Riesgos Sanitarios (Cofepris) confirmó que no se halló ningún medicamento con agua destilada usado para quimioterapia en menores en Veracruz, ni mucho menos algún menor fallecido, como denunció el gobernador Miguel Ángel Yunes.

La Comisión Federal para la Protección de Riesgos Sanitarios (Cofepris) quien analizó los expedientes médicos y clínicos del propio gobierno de Veracruz ha dado por cerrado este causo porque no encontró sustento a las denuncias del gobernador Yunes. Pero sí encontraron algunas ampolletas de Avastin (medicamento usado contra el cáncer) falsas.

“El gobierno veracruzano adquirió estas ampolletas apócrifas a través de empresas de dudosa procedencia, Especialidades Médicas del Sureste y Oncopharma. La farmacéutica Roche, fabricante de medicamentos contra el cáncer, informó a Cofepris que ambas “no son sus distribuidores autorizados”, y además la dependencia sanitaria no las localizó en sus domicilios sociales, aportados por la Secretaría de Salud de Veracruz”.

Cerrar este caso porque los expedientes se perdieron, porque no hay pruebas o porque no hay manera de ir más allá es atentar contra la vida porque el programa de salud que se creó y se presume es universal y gratuita no garantiza que los mexicanos reciban un servicio de salud adecuado y hasta puede ser mortal.

Pero si no fuera suficiente atentar contra la vida de los mexicanos, nuestro ejemplar y democrático gobierno también atenta contra nuestra educación.

La Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OECD por sus siglas en ingles), mide el desarrollo y la calidad de vida de un país de acuerdo a su capacidad de inversión a la investigación de las ciencias y la producción de tecnologías. Pero si hablamos de invertir en la educación y la ciencia en México, realmente estamos reprobados, el gobierno mexicano está más preocupado por comprar aviones, aumentar sus salarios y obtener más beneficios que en la educación.

El recorte de las becas que otorga el Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología se venía venir, ya que desde el año pasado se venía anunciando que dicha institución educativa se vería afectada por el recorte del presupuesto y el alza del dólar.

Desde 2013, el Conacyt había incrementado año con año los apoyos académicos; sin embargo, para este 2017 ya no se logró acceder a más presupuesto, lo que ha provocado que se entreguen menos becas afectando así a los estudiantes de posgrados, que por lo pesado que es estar matriculado en un nivel superior deben dedicarle la vida lo que a su vez no les permite realizar otra actividad que les ayude a pagar sus estudios y por ello deban depender de las becas.

Pablo Rojo, director de Becas del Conacyt informó el año pasado que “la afectación por presupuesto dependerá del tipo de cambio: si se mantiene como hasta ahora, muy probablemente tendremos que ajustar las nuevas becas”.

“En 2017 podría ser que otorguemos menos becas de las que deberíamos, de acuerdo con la tendencia de crecimiento de los últimos años. Posiblemente esta tendencia creciente no se mantendrá, probablemente nos estanquemos en un número similar al de este año”, agrego.

Dicho y hecho, este año la Conacyt ha negado becas a estudiantes inscritos en sus propios programas”, tan solo en la Universidad Autónoma Metropolitana (UAM), Unidad Xochimilco en la ciudad de México, se negaron 73 solicitudes, afectando a alumnos de seis posgrados, también la Conacyt canceló el financiamiento de las cuotas de inscripción de los alumnos de posgrado en la UAM.

Otro caso se da en la ciudad de Guadalajara en el estado de Jalisco, el recorte de las becas de posgrados ha afectado a 200 estudiantes de la Universidad de Guadalajara (UDEG)

Los estudiantes de todo México les piden a las autoridades educativas revalorar la decisión de limitar el número de becas para estudios de maestría o doctorado, así como para investigaciones. Los alumnos, profesores e investigadores consideran que reducir el número apoyos a la educación es realmente preocupante ya que excluye de manutención a los alumnos, también limita y detiene la ejecución de sus investigaciones. Pero sobre todo echa a perder años de esfuerzos de profesores e investigadores de todo el país que buscan consolidar programas académicos de calidad internacional y frena el crecimiento de estos.

Como les dije al principio estamos en una etapa de retroceso, el Partido Revolucionario Institucional ya ha cumplido 88 años en el poder, dicen que no hay mal que dure 100 años, al parecer nos faltan 22 años. La receta para llevar a un país en retroceso es perder la independencia energética, dejar que la Iglesia siga entrometiéndose en la agenda del Estado, atentar contra la salud de los mexicanos y reducir los apoyos a la educación.

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