MC Soffia: Menina pretinha empodera com suas rimas

Por Juliana Gonçalves.

Era uma vez uma menina pretinha que descobriu que tinha o dom de rimar. Mas rimar não é fácil e ela quis fazer música que deixasse outras crianças felizes. Para isso, precisou mergulhar na sua história e estudar quem foram seus ancestrais. Conheceu Dandara, guerreira que liderou o quilombo de Palmares ao lado de Zumbi, e leu Carolina de Jesus, escritora que lançou livros sobre a situação da população negra da favela.

Essa menina pretinha se chama Soffia, tem apenas 12 anos e canta hip hop. Como toda criança, vai à escola, gosta de estudar e de brincar, principalmente com as bonecas negras costuradas pela avó materna Lucia Makena – nome queniano que significa “a feliz”.

“Menina pretinha’’ é o nome de uma das músicas de MC Soffia. “Faço música de força e resistência. Quero ajudar as meninas negras para que elas se amem e se aceitem como são’’, afirma Soffia.

Influências

A relação de Soffia com a música começou com a influência da família. No lado paterno, a bisavó cantava, o bisavô riscava o chão do salão nos bailes blacks, os tios dançavam samba e samba-rock, todos juntos cantavam no karaokê da família.

Foi ao lado da família materna que conheceu o rap e o ativismo em prol da igualdade racial. “Em um evento de hip hop que fui com minha mãe, vi um menino cantando e me espantei por ser uma criança, antes só conhecia o filho do Will Simth [Jaden]”, conta.

Depois disso, Soffia fez várias oficinas de rap, participava de eventos e pedia para mandar uma rima. “O primeiro grande show que fiz foi no aniversário de São Paulo deste ano [2016], no Anhangabaú’’.

Recentemente, Soffia lançou a o clipe da música “Minha Rapunzel de Dread”. “Essa Rapunzel é africana da Etiópia e não precisa do príncipe para se salvar, é empoderada e não tem inimigas’’, fala a MC que se divertiu muito na gravação do vídeo da música, que mistura hip hop com rock.

Para encenar a Rapunzel, Soffia convidou a amiga vlogueira Ana Paula Xongani. “Ela tem dreads e é bem bonita, alongou os cabelos e parecia uma Rapunzel de verdade’’, ri.

Escola

Na escola, Soffia tem espaço para falar sobre o que quiser. Há grupos específicos que discutem racismo e bullying. “Acho que poucas escolas têm isso, mais escolas deveriam falar sobre essas questões’’, diz.

Além disso, a rapper mirim está sempre estudando sua história. “Minha mãe [Kamilah Pimentel] e minha avó Lucia me dão os nomes das pessoas importantes para eu pesquisar e aprender’’, diz.

Luta

Para Soffia, o dia 25 de julho, é dia de luta. ‘’Mais crianças deveriam saber sobre esse dia, as escolas tinham que falar mais, porque é importante não só para as mulheres, mas para as meninas negras também’’.

Para as meninas pretinhas, Soffia manda o recado: “Conheçam a sua história. As famílias dessas crianças precisam escutar o que elas têm a dizer’’.

Futuro

Soffia está entre os nomes confirmados para a abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ao lado de nomes como Elza Soares e Ludmilla.

Neste ano, quer ainda gravar seu CD e no futuro sonha em ser médica cardiologista. Mas na história de MC Soffia, ela pode ser o que quiser.

Fonte: Brasil de Fato

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