Mais um problema de gênero no mundo encantado dos publicitários

Por que 45 homens foram indicados ao Young Lions Brazil na categoria "criação" e somente cinco mulheres?

Ilustração: Faces Every Day

Por Maria Guimarães.

Todo ano publicitários ricos do mundo inteiro se reúnem em Cannes, na Costa Azul francesa, para premiar os “melhores trabalhos” da publicidade mundial no Festival de Cannes. São inúmeras categorias e troféus em forma de leão distribuídos depois dos trabalhos serem julgados por um júri composto por outros publicitários. O Festival é tão importante para a elite dessa profissão, que aqui no Brasil, quem sai da França com um “Leão” nas mãos consegue aumentos, empregos melhores, promoções para cargos de liderança e tudo mais. Ou seja, infelizmente ele é importante para quem quer traçar uma carreira dentro das agências.

Sendo tão importante, o Festival deveria ser justo e igualitário. Mas não é. Poucas são as oportunidades dadas às mulheres: vemos poucas subindo ao palco como parte de uma equipe ganhadora; vemos poucas mulheres sendo eleitas Young Lions; vemos poucas mulheres sendo celebradas dentro das suas agências; pouco é discutido no Festival sobre como tornar o mundo publicitário menos agressivo e opressor com as mulheres; muitos assediadores são vistos em cima do palco principal; e, claro, ao longo desse tempo também vemos muitos trabalhos machistas, LGBTfóbicos e racistas sendo premiados.

Um exemplo disso:

Foto: Reprodução

Em 2017, a agência brasileira AlmapBBDO ganhou um Leão com a campanha acima para Aspirina. Com pressão liderada por Cindy Gallop, a organização do Festival retirou o Leão e a agência pediu desculpas pelo ocorrido.

E mesmo assim muitos jovens querem estar lá. Para viabilizar isso, existe o Programa Young Lions: uma competição entre publicitários de até 30 anos que representam seus países nas categorias atendimento, marketer, mídia, planejamento e criação. O que seria uma ótima oportunidade, não fosse ela tão elitista e não fosse ela conduzida como é por aqui: APENAS NO BRASIL, esses profissionais são avaliados por seus portfólios e escolhidos por um júri composto por antigos ganhadores do programa. Sendo assim, na maioria das vezes os escolhidos são pessoas conhecidas do júri, os brothers dos outros brothers que já ganharam. E vejam só: a maioria dos ganhadores é homem. E dada a forma como é formada o júri, isso só se perpetua.

Esse ano, na categoria de criação, dos 50 indicados no shortlist, 45 são homens e apenas 5 mulheres. Arrisco dizer que nenhuma pessoa negra está nessa lista (porque a publicidade é racista não só nas campanhas). Entre os selecionados para ir a Cannes, NENHUMA MULHER. A organização soltou uma cartinha de desculpas péssima que não justifica a forma como são escolhidos os ganhadores e mesmo com toda a comoção de mulheres criativas nas redes, nada foi feito e os rapazes foram para França.

Por ironia do destino, ao chegarem lá na competição de “Film” dentro da categoria de Criação, os rapazes receberam o desafio da competição: criar uma campanha sobre igualdade para garotas. Dois homens. Criando uma campanha de igualdade. Que foram selecionados a partir de um programa que não tem igualdade. Que não quer saber de igualdade. Que ignora a igualdade. Dois homens que representam um mercado inteiro que é machista, racista, LGBTfóbico e elitista.

Foto: Reprodução/Facebook/Young Lions Brazil

Como resposta, a parte do mercado que se importa com igualdade vem tentando criar consultorias, ideias, movimentos, agências que lutam contra isso. Por isso, convido vocês a não ficarem prestando atenção em quem ganhou Cannes, mas em quem está tentando mudar o mercado por dentro e por fora, para que ele não seja mais como é. Conheça o Meu Melhor DefeitoMore Girls e o Fair Lions, as consultorias IdánimoThink EvaPajubá Diversidade em RedeIden Consultoria de Marketing LGBT e 65/10, o guia de Linguagem Não Sexista na PublicidadeFind the WomanYes She Cannes

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