Mais um ano letivo no Complexo Integrado de Educação de Porto Seguro: uma escola em transformação

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Por Elissandro dos Santos Santana, Porto Seguro, para Desacato.info.

Diante do fato de que o CIEPS começará mais um ano de ensino e de práticas transformadoras na educação da região, é oportuno apresentar mais uma vez esta escola mostrando que outra educação é possível no sistema público de ensino da Bahia. Para isso, recorri a uma entrevista dada pelos professores Wellington Salgado e Denys Henrique Rodrigues Câmara ao Portal Desacato, em 2016, na qual eles discorreram sobre as mudanças pelas quais passou o antigo CEPAC, escola pertencente ao governo do Estado da Bahia, Brasil, ao se transformar em complexo integrado de educação de tempo integral, experiência pública única no município que, ainda que lentamente, apresenta resultados positivos e mostra que outra educação é possível em Porto Seguro, no estado e em todo o Brasil.

Na entrevista, os professores citados, de forma sensível e comprometida, apresentaram, a partir de uma análise comparativa, características do atual projeto e da escola anterior. Dentre as questões atuais, citaram que o Complexo Integrado de Educação de Porto Seguro é uma proposta inovadora na educação na cidade de Porto Seguro, em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e com a Secretaria Estadual de Educação da Bahia.

Mostrou-se que no CIEPS os alunos têm educação em tempo integral com aulas voltadas não somente para o conteúdo tradicional, mas para a interdisciplinaridade em forma de projetos atrelados aos conteúdos. O trabalho do docente é um trabalho de/em equipe, no qual sempre estão inovando, formando e aprendendo um com o outro. Por ser uma escola integral, o aluno passa grande período do dia no complexo estudando e aprendendo a trabalhar com projetos e a atuar na transformação da comunidade na qual se insere.

Complexo Integrado de Educação de Porto Seguro (CIEPS), uma escola integral rumo à educação ecológica

Mesmo com uma proposta de transformação da realidade, no CIEPS o aluno também é preparado para o ENEM, principal exame para a entrada nas universidades públicas do país por meio do SISU, sem contar que o resultado do exame também pode ser usado para entrar em universidade privadas por meio de bolsas de estudo do PROUNI. Qualquer que seja o caso, na instituição, o discente é preparado para a vida de modo a cuidar de si, do outro e do nosso planeta, tendo a consciência de que ele é um cidadão pleno de valores e responsabilidades.

Para ampliar ainda mais o campo de informações acerca do novo projeto, o professor Wellington, na época, pontuou que no Complexo Integrado trabalha-se trimestralmente e que a cada período se desenvolve um eixo temático. Por exemplo, no ano passado, no primeiro trimestre de 2016, apresentou-se o tema patrimônio e turismo, no segundo trimestre, o tema sustentabilidade e meio ambiente e, no terceiro trimestre, alimentação e saúde. Cada tema ou eixo foi atrelado ao conteúdo.

Outro dado importante que prova que a escola, para além dos conteúdos, começa a desenvolver políticas de educação ambiental é que, atualmente, conta com a captação de água da chuva para os projetos horta e paisagismo. Na horta orgânica, os produtos produzidos são utilizados na alimentação dos alunos e de toda a comunidade pertencente ao Complexo Integrado.

O paisagismo do CIEPS forneceu uma nova identidade à escola, tornando-a mais bonita e agradável. Há também a coleta seletiva do lixo, a reciclagem de resíduos sólidos compostos por materiais descartáveis como: garrafa pet, pneus e sacolas plásticas, dentre outros. Esses resíduos são utilizados no complexo, transformados em roupas, brinquedos e objetos de utilização na própria escola. Os alunos estão restaurando a biblioteca da escola, bem como participando, de forma democrática, da reestruturando, conservação e preservação de outros espaços da instituição. Ademais, nas aulas de campo, docentes e discentes já visitaram áreas desmatadas e de queimada, ou seja, degradadas ambientalmente, com vistas à conscientização acerca do que nós estamos fazendo com o planeta, percorrendo as praias da cidade para mitigação ambiental a partir da retirada de resíduos desses espaços. Enfim, o aluno no CIEPS tem uma consciência ecológica mais ampla no que concerne ao todo, bem mais do que antes. Ao longo de 2016, percebeu-se que os alunos estão se preocupando mais com os espaços da escola e da cidade. Todos são chamados a cuidar do meio ambiente e a aplicar o que aprendem na escola e na vida.

Um ponto da entrevista que mereceu destaque foi o fato de que a escola, até certo ponto, também se reinventa enquanto prática pedagógica, ainda que alguns profissionais ainda não tenham compreendido a nova proposta.

Quando da entrevista, o professor Wellington pontuou que a equipe pedagógica se preocupa diariamente em que a interdisciplinaridade ou a transdisciplinaridade sejam aplicadas em cada sala e que isso está sendo feito a partir da formação do docente com o apoio da Universidade Federal do Sul da Bahia, ajuda das secretarias de educação, saúde e meio ambiente da Prefeitura da cidade de Porto Seguro, planejamento voltado para cada eixo temático de forma que o docente seja capaz de perceber, conscientizar-se e conscientizar nossos alunos dentro de cada disciplina e do conteúdo dado, sempre atrelado a um projeto e a outras disciplinas. O docente tem que ser um fomentador destes temas dentro do complexo e, claro, todos nós temos que ser este transformador do meio em que estamos inseridos.

A parceria com a UFSB tem se dado de forma democrática e quando a Secretaria de Educação do Estado da Bahia fez esta parceria com a Universidade Federal, durante todo o tempo evidenciou que todo processo dos complexos integrados de educação teria que se dar democraticamente levando em consideração que a escola tem uma história de 60 anos que não pode ser esquecida.

No ano passado, um projeto colocado em execução que deu certo foi o projeto Praia Limpa. A referida ação insere a escola no contexto da sociedade, atuando em prol da educação ambiental, com a conscientização e com a sensibilização ecológica dos corpos de aprendizagem docente e discente para além dos muros da escola.

Projetos como Praia Limpa, Horta, Paisagismo e outras ações corroboram que estão ocorrendo modificações no corpo docente na forma de pensar e agir, porém é um processo, segundo informações fornecidas pelos professores entrevistados.

O professor Denys Henrique Rodrigues Câmara, na época da entrevista, pontuou algo importante sobre os projetos que estão sendo desenvolvidos na escola, mostrando que eles sensibilizam em campos amplos. Desde a horta escolar ao paisagismo, projetos desenvolvidos pelos/as colegas das Ciências da Natureza e Matemática e suas tecnologias ao Projeto Praia limpa, desenvolvido pelos docentes da área de linguagens, bem como em relação a outras ações executadas na escola, como a reestruturação da biblioteca, otimização espacial escolar e outras questões, pode-se compreender que a educação ambiental tem sido uma prática recorrente em todos e isso interfere, positivamente, na própria visão de integração do aluno no tangente à escola.

De acordo com os dois docentes entrevistados, o Projeto Praia Limpa é uma das ações e vertentes do Projeto Pachamama do CIEPS, um subprojeto de um projeto maior e os resultados alcançados na ação, para além da retirada do lixo, contribuíram para a formação da consciência e da sensibilização de todos os atores da escola que se envolveram na execução do projeto. Com certeza, dentre as lições que ficam, podem ser citadas as seguintes: formação do aluno ecocidadão, mudança cultural na relação sociedade-meio ambiente de todos os agentes que participaram do projeto Praia Limpa, limpeza dos espaços e, principalmente, o impacto que a ação ambiental pode ter provocado no imaginário de todas as pessoas e banhistas que estavam na praia naquele momento.

Enfim, conversando com estes profissionais, evidenciou-se que o CIEPS é outra escola bem diferente do antigo CEPAC, um espaço que provoca mudanças em todos no âmbito da gestão, dos discentes, do corpo docente, do corpo técnico administrativo e de outros atores pertencentes ou que dialogam, direta ou indiretamente, com esse espaço de aprendizagem.

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