Mais Médicos, mais ódio

mais medicosPor João Paulo da Cunha Gomes.
Não gosto de generalizações. Nunca gostei. As generalizações causam muitas vezes injustiças. Em toda e qualquer área existe o bom e o mau profissional; onde existe corporativismo de classe também há o profissional que não compactua com tal “cartel de panelinhas”. Portanto, é prudente que a fala sempre venha destituída de universalizações quando se tratar de crítica a um posicionamento, a uma ideologia, a uma atitude ou à falta dela. Quando a gente lê o termo “Máfia de Branco” obviamente é preciso que filtremos a imagem que vem à nossa mente, em solidariedade aos muitos médicos sensíveis ao problema da falta de profissionais no Brasil e aos profissionais que têm senso de humanidade e do valor que sua profissão representa para a sociedade em geral.
Entretanto, o que temos visto ultimamente no país, em meio ao verdadeiro terrorismo deturpador da opinião pública levado a efeito por grupos adeptos do “quanto pior melhor” (setores com sede de poder travestidos de oposição), é que uma parte da classe médica, talvez imbuída do espírito da Casa Grande, da exclusão, elitista e do preconceito, tenta de todas as formas barrar a vinda dos médicos cubanos simplesmente por corporativismo mesquinho. Eu me recuso, neste momento, a usar o termo nacionalismo, uma característica marcante das sociedades totalitárias. E, sinceramente, ainda não consegui compreender o real motivo do nariz torcido para a iniciativa do Mais Médicos.
É sabido que milhares de cidades brasileiras não têm um único médico. Também é sabido que muitas patologias consideradas mais simples podem ser detectadas com um simples exame clínico. É sabido que, justamente pela falta de profissionais, tais patologias mais simples ainda matam pessoas no interior das selvas brasileiras, no sertão, e nos lugares afastados, onde o Estado tem mais dificuldade de se fazer presente. Faltam médicos.
Ninguém em sã consciência irá afirmar que igualmente o Brasil não careça de infraestrutura. Mas, conforme já colocado, a presença do profissional médico na maioria das vezes representa a qualidade de vida ou a falta dela. Aliás, o argumento majoritário dos indignados é o de que não faltam médicos, e sim estrutura. Balela! Até quando vamos ter que assistir pessoas pobres morrendo de viroses, gripes, e outros males que (leigamente falando) podem ser diagnosticados clinicamente simplesmente porque os médicos não têm interesse em ir atuar nessas regiões?
É totalmente compreensível que o profissional, de qualquer área, queira estar nos grandes centros, em meio à clientela de mais posses, pois ele quer fazer carreira, quer prosperar, quer estar mais perto da modernidade. Não há como deixar de entender isso. Por outro lado, o governo não pode ficar com as mãos amarradas ante o desinteresse dos médicos em atuar nas áreas afastadas e mais pobres, e deixar pessoas morrerem à míngua. Daí eu pergunto (mesmo porque eu ainda não consegui entender a razão do ser que é contrário à vinda dos médicos cubanos): que mal os profissionais estrangeiros causarão para o país? O que isso mudará para o narizinho em pé que tem plano de saúde? Isso é oposição ou é mesquinharia? Até quando a mentalidade fascista de parte da sociedade seguirá representando ameaça à melhora de vida da coletividade?
Também é preciso considerar que os médicos formam-se em universidades públicas, na maioria das vezes. Seus estudos são, portanto, financiados com os impostos pagos por todos, inclusive pelos mais pobres. Obviamente não se trata de dizer que o aluno não tenha gastos com seus estudos; mas o curso, em si, é por conta do governo. Este que ora escreve poderia citar dois exemplos de profissionais que têm noção disso, e que dedicam alguns períodos de sua semana em atendimentos gratuitos em uma santa casa aqui da região. Gostaria de citar seus nomes, mas obviamente não disponho de autorização para tanto; além do que, esses profissionais nunca tiveram qualquer interesse em que seus atos fossem tornados públicos, pois o fazem por conta de sua humanidade e amor à profissão.
Longe, também, de querer afirmar que o médico é obrigado a trabalhar gratuitamente, nos moldes citados acima. O exemplo colocado é apenas para ilustrar o que foi dito no início da análise, sobre o problema das generalizações.
De qualquer maneira, os cubanos estão chegando e serão distribuídos para as áreas mais carentes em termos de assistência médica. Virão para atuar onde os médicos daqui não querem. O cubanos não vêm para sorrir falsamente para a burguesia e para a elite. Eles estão chegando para atuar por aqueles que muitas vezes só dispõem de seus títulos de eleitores.
O problema não está no fato de os profissionais contratados pelo Mais Médicos serem estrangeiros. Ao que parece, o ódio é que são eles oriundos de um país socialista, onde a saúde e a educação públicas funcionam melhor que aqui. Talvez o ódio seja, também, por serem negros em sua maioria (sendo a medicina considerada uma profissão das elites). Ou, ainda, medo de que a eficiência da medicina cubana seja, enfim, mostrada para o Brasil e para outras partes do mundo, o que representaria um “furo” no isolamento ideológico imposto à ilha caribenha pelo império capitalista.
Sejam bem vindos, médicos cubanos. A maioria dos brasileiros não pertence à classe do nojo. A maior parte dos brasileiros é de bem. Os reacionários hipócritas, que flertam com o fascismo, ainda representam a menor parcela da população. Aqueles que necessitam de seus serviços saberão recompensá-los, no mínimo, com um sorriso sincero no rosto, e um muito obrigado.

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