Maior greve da história da Índia mobiliza 250 milhões de trabalhadores

Greve geral na Índia. Foto: @kmadhuresh

A greve foi convocada por uma plataforma conjunta de dez sindicatos centrais. Apenas um sindicato, o Bhartiya Mazdoor Sangh, se recusou a participar. A paralisação conta ainda com o apoio de dezenas de federações e sindicatos independentes, bem como de uma plataforma conjunta de 175 organizações de agricultores e trabalhadores agrícolas, a AIKSCC, que apelou a uma greve rural simultânea.

Os sindicatos estimam que 250 milhões de trabalhadores tenham aderido à greve. Ainda que o governo tenha emitido um aviso aos funcionários do governo e do setor público para não participarem do protesto, a adesão foi massiva em setores como o aço, carvão, outras minas, produção de defesa, portos e docas, petróleo e gás natural, telecomunicações e produção de energia, entre outros. Inúmeras indústrias auxiliares encerraram.

Os trabalhadores do setor privado de engenharia, automóveis e componentes, telecomunicações, metais, têxteis e vestuário, energia, entre vários outros, também aderiram massivamente ao protesto. Os transportes foram afetados em todo o país, com os autocarros, táxis, comboios e camiões parados. Em muitos locais, como Bengala Ocidental, Bihar e Punjab os serviços ferroviários foram bloqueados pelos manifestantes.

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Já nas áreas rurais, registaram-se protestos e paralisações de tráfego em cerca de 480 distritos do país, com milhares de agricultores e trabalhadores agrícolas, juntamente com trabalhadores rurais não agrícolas, em protesto.

Os estudantes engrossam a paralisação. Em mais de 60 universidades e instituições, e suas faculdades afiliadas, a greve abrangeu milhares de pessoas, que participaram em marchas de protesto.

As autoridades indianas responderam aos protestos com forte repressão e com prisões em larga escala.

Entre as reivindicações que estão na base do protesto encontram-se a exigência de um salário mínimo digno, o controlo dos preços crescentes, políticas para conter o desemprego, a reversão da legislação laboral que ataca os direitos dos trabalhadores, o fim das privatizações, a renúncia total da dívida dos agricultores, a defesa da Constituição do país, a diminuição dos custos da educação. Os grevistas também condenam os ataques recentes contra estudantes da Jamia Millia Islamia, da Universidade Jawaharlal Nehru, da Universidade Aligarh Muslim, de Jadavpur, entre outras, e protestam contra a proposta de lei da nacionalidade promovida pelo primeiro-ministro Modi, que é considerada “discriminatória” e “inconstitucional” por marginalizar os milhões de muçulmanos que vivem no país.

Ao mesmo tempo que empobrece a grande maioria da população, o governo de Modi é acusado de favorecer as multinacionais e os grandes empresários do país, diminuindo os impostos que lhes são cobrados, concedendo enormes concessões a grandes industriais e abrindo setores ao capital privado e até estrangeiro, como o do carvão, produção de defesa e ferrovias.

O Partido Comunista da Índia (PCI) já veio “felicitar a classe trabalhadora, camponeses, trabalhadores agrícolas, estudantes e outros setores pela magnífica greve em todo o país” desta quarta-feita, “apesar das prisões em grande escala e repressão”.

Em comunicado, o PCI sublinha que está confiante de que a continuidade e intensificação da luta de todos estes trabalhadores e estudantes poderá derrotar “as políticas económicas que empobrecem a esmagadora maioria do povo trabalhador indiano, as políticas de polarização, que promovem os ataques fascistas para minar os próprios fundamentos dos princípios constitucionais da República.

“A greve de hoje abre caminho para uma unidade ainda mais ampla das pessoas forjando lutas mais poderosas”, remata o PCI.

Esta é já a quarta greve nacional de trabalhadores durante o regime de Modi. Tiveram ainda lugar vários protestos setoriais. A greve nacional desta quarta-feira representa uma nova convergência de todas essas lutas e deixa antever protestos ainda mais amplos nos próximos dias.

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