Madagáscar contra o jugo colonial francês

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Por Roberto Correa Wilson.*

Madagáscar, a quarta maior ilha do mundo, registra como momentos culminantes de sua história as migrações que desde tempos remotos povoaram o território, e as lutas, muitas décadas, do povo malgache contra o jugo colonialista da França.

Esta grande ilha, com fauna e flora impressionantes, possui 595.800 quilômetros quadrados e está situada no Oceano Índico, a 400 quilômetros da costa sudeste do continente africano, do qual está separada pelo Canal de Moçambique.

Segundo alguns historiadores, os primeiros povoadores chegaram a Madagáscar durante o século III antes da nossa era e já sabiam obter e trabalhar o ferro, embora sejam vagos os vestígios que sustentam essas considerações.

Marinheiros da Malásia, Indonésia e até da Polinésia realizavam viagens de milhares de milhas ao longo das costas do Oceano Índico em suas frágeis embarcações, antes de chegar a uma grande ilha desabitada, de clima magnífico, férteis planícies, mesetas e matas com caça abundante.

Os imigrantes das tribos bantus da costa africana tiveram que atravessar uma distância mais curta para chegar a Madagáscar no sentido oposto. Este grupo étnico avançara a partir da África Central até a região do Cone Sul Africano.

Mais tarde, também os árabes começaram a chegar à ilha. A partir do século VII e no decorrer da Idade Média, as costas de Madagáscar foram visitadas por navegantes árabes.

Assim, as migrações de diferentes nacionalidades contribuíram para o mosaico étnico que prevalece no país: malaios, negros, indonésios, árabes, indianos, entre os principais.

Portugal e outros europeus

A historiografia ocidental consideram descobridores da ilha os portugueses. O navegante Diego Díaz chegou a suas costas em 10 de agosto de 1500, denominando-a Ilha de São Lourenço. Viajantes dessa nação também foram os primeiros a explorar zonas do interior.

Um século mais tarde, em 1600, portugueses, holandeses e franceses tentaram estabelecer colônias. A França instalou-se no século XVII ao norte da ilha, mas sua esfera de influência foi limitada à ascendência da monarquia dos hovas no altiplano central.

O Rei Radana (1810-1828) favoreceu os ingleses e permitiu que se implantasse o cristianismo, mas a rainha Ranavolona I (1835), proibiu a prática da religião cristã e pôs fim ao comércio com a Europa.

As dissensões na cúpula dirigente malgache abririam brechas que só favoreciam as potências coloniais, em especial a França e a Grã Bretanha. Ambas nações disputavam a hegemonia na região do Índico, com ambições sobre a ilha de Maurício e o arquipélago das Seychelles, cenários de violentas confrontações.

Depois do fim do comércio com a Europa teve início um período de relações tensas. Radama II outorgou concessões a uma companhia francesa, mas foi assassinado em 1863, sucedendo-lhe sua esposa Rasoherina, que se recusou a ratificar o acordo com os franceses.

Colônia francesa

O governo de Paris reconheceu em 1886 Ranavalona II como rainha de Madagáscar e indicou um cônsul, assim como a Grã Bretanha e os Estados Unidos.

Posteriormente, a França atribuiu-se pela força um mandato de protetorado, reconhecido pela Grã Bretanha em 1890, em troca de concessões em Zanzibar, uma ilha do Oceano Índico (depois de sua independência, em 1963, uniu-se a Tanganica para formar a atual República da Tanzânia).

Em 1895, quando a França exigiu domínio total por meio de um ultimatum, os malgaches se sublevaram, mas foram derrotados pela inexperiência em ações militares, e pela superioridade em armas e seu treinamento em questões bélicas dos franceses.

Não obstante, a partir desse momento iniciou-se uma constante e corajosa luta do povo por sua soberania nacional. Apesar da repressão, as autoridades coloniais governavam um país em permanente tensão.

Um ano mais tarde, em 1896, pipocou outra sublevação popular. De Paris, o governo deu ordens para que as tropas atuassem com mão dura; como resultado o levantamento foi afogado em sangue.

Madagáscar e todas as suas dependências passaram a ser oficialmente colônia. A França aboliu a monarquia e iniciou uma chamada pacificação – que custou a vida a 700.000 malgaches em um período de 20 anos – e deportou a rainha Ranavalona III para a ilha da Reunião e depois para a Argélia. As autoridades coloniais buscavam castigar com o maior rigor a ousadia de lutar pela soberania do país.

Século XX

O povo malgache nunca se conformou com o status colonial aplicado pela metrópole francesa e, no novo século, continuaram as lutas pela independência. Essas lutas eram algumas vezes políticas e outras, verdadeiras sublevações.

Os movimentos progressistas de 1916 e 1929 foram esmagados e, em resposta, o povo se sublevou novamente contra o domínio estrangeiro. Como consequência da repressão desencadeada pelas tropas de Paris contra outra sublevação, em 1947, morreram cerca de 100.000 pessoas.

Desde a instalação da França em solo malgache, no século XVII, o povo viu morrer mais de 800.000 de seus filhos, vítimas de sangrentas repressões. Quanto à economia, a metrópole saqueou impiedosamente as riquezas naturais.

Mas as lutas de dois séculos dariam seus frutos. As autoridades francesas viram-se obrigadas a fazer concessões e, assim, a ilha conheceu vários estatutos: Estado associado da União Francesa; República Autônoma dentro da Comunidade Francesa; e, finalmente, a independência, em 1960.

Com o pleno gozo de sua soberania, Madagáscar incorporava-se ao concerto de nações africanas que tinham se libertado da outra forma de escravidão.

*Prensa Latina, de Havana, especial para Diálogos do Sul – Tradução de Ana Corbisier.

Fonte: Diálogos do Sul.

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