Macaco, a banda da consciência ecológica

Foto: Facebook

Por Elissandro Santana, para Desacato.info.

Poderia hoje discorrer sobre a miserável política brasileira ou outra desgraça qualquer em algum rincão mundial, mas como esta é a semana de meu aniversário, resolvi buscar a leveza da existência a partir da produção musical de uma das bandas e artistas que mais me toca há anos – Macaco.

Macaco é uma banda musical originária de Barcelona, na Espanha, formada no ano de 1997. Todos os membros que a compõem são oriundos de diferentes países como Brasil, Camarões, Venezuela e Espanha, por isso, talvez, por essa conformação multicultural-nacional, este grupo, na voz de Mono Loco, nosso querido Dani, um artista revolucionário genial, imprime em sua produção artístico-musical uma mistura de sonoridades com estilo eletrônico, latino e, como não poderia faltar, a rumba[1].

Faz-se oportuno dizer que esta banda canta, principalmente, em castelhano, mas, nem por isso, deixa de musicar em idiomas como o português, o francês, o inglês, o italiano e, também, em catalão[2]. Dito isto, chamo a atenção para o fato de que Macaco me toca tão profundamente que, no momento em que pensei em esboçar este artigo para a coluna “A Outra Reflexão”, prontamente fui levado a abrir uma página no youtube para guiar meus pensamentos e escrita através do som mágico produzido por esta banda ecológica ímpar.

Tocado pelo canto e por este som que invade meus canais auditivos, percorrendo as sinapses que me possibilitam processar mensagens codificadas em cada palavra proferida musicalmente, deixo o convite aos leitores para que reservem um tempinho e parem para escutar canções interpretadas por esta banda que cura nossa alma e nos faz pensar a cura do Planeta nestes tempos em que o capitalismo cristaliza o homo economicus sem ligação com a própria mãe que lhe deu a vida, o aguenta e o faz crescer – a mamãe Terra.

Com um canto que rasga a alma e nos faz enxergar a beleza da vida, assim como as mazelas políticas geradoras da miséria, Macaco antecipa discussões que a velha mídia no Brasil e no mundo teima em retardar. Por exemplo, em letras como “Mundo roto”, nos convida a refletir sobre as dores dos refugiados. O vídeo oficial para divulgação desta canção foi gravado no dia 9 de maio de 2009 no campo de refugiados Saharauis de Dajla, a 172 kms de Tundouf, na Argélia, no chamado “deserto dos desertos”. Em “Madre Tierra”, nos conclama ao amor a Pachamama, àquela que nos pariu e que nos protege – o imenso Planeta Terra, tão explorado pela humanidade sem consciência e sem sensibilidade que destrói a possibilidade de futuro. Em “Hijos de un mismo Dios” apresenta os entraves decorrentes da desconexão da humanidade e mostra, de forma muito crítica, o movimento das panelas em São Paulo, dentre outras questões, dado que a letra é deveras profunda e crítica. Na canção “Brindo por ti”, apela para que comemoremos o sabor da existência a partir da ética do amor. Já em “Mensajes del agua” as metáforas nos fazem pensar não somente a questão ambiental, mas o poder de transformação do mundo e de tudo a partir da unidade e do respeito à diferença. A letra está repleta de construções discursivas profundas como:

“E o que posso fazer se eu nasci no Mediterrâneo; e o que posso fazer se perdi as gotas de teu pranto; em tuas gotas me inundei, transparências em minha sede, sonhei tempestades de amor e fé, como a chuva de primavera apagando rachaduras e igualando marés. É que gotas sobre gotas somos ondas que fazem mares. Gotas diferentes, mas gotas todas iguais”.

É oportuno destacar que além das canções mencionadas, outras tocam em temas profundos e plurais, sempre fazendo a interlocução com a existência e a sustentabilidade.

Já para terminar a reflexão, saliento, tempestivamente, que sou grato à Universidade Federal da Bahia e às professoras fantásticas que tive do setor de espanhol do Instituto de Letras, pois minha aproximação ideológico-identitária com este grupo se deu ao longo de minha formação em línguas na referida universidade. Foi nesta instituição que, pela primeira vez, na metade da década de 2000, tive a oportunidade de estudar com profissionais que me aproximaram de artistas mágicos como Daniel, ou Dani Macaco ou Mono Loco e toda a Banda mais ecológica que já tive o prazer de escutar. Ademais, é interessante pontuar que com este grupo, bem como com outros artistas na mesma linha de consciência política, ecológica, social e cultural musical, aprendi a pensar não somente as questões linguísticas, literárias, filológicas e socioculturais do espanhol, mas, também, que a música pode nos possibilitar uma formação de amplo espectro em campos diversos.

Por fim, como costumo ficar mais sensível nos dias que antecedem o meu aniversário, nesta segunda, dia 5 de março do corrente ano, fuçando meu baú de memórias musicais, de repente, deparo-me com a melodia político-ambiental de Macaco e, por isso, resolvi presenteá-los/las com uma análise sensível acerca de interpretações e músicas na doce e ecológica voz de Dani, o Mono Loco ou Dani Macaco, este artista incrível dominado pela consciência musical ecológica que o mundo inteiro precisa conhecer.

Enfim, esta banda brinca com nossa alma, remodelando nossos conceitos e concepções sobre o mundo, fazendo com que cantemos e bailemos ao som da consciência. Por tudo isso, ainda que pareça pretencioso, não deixarei de externar que eu faço aniversário, mas ao sugerir que escutem as canções interpretadas por Macaco, o presente quem ganha é você, caro/a leitor/a do Portal Desacato.

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Rumba

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Língua_portuguesa

+Memórias da censura musical na América Latina

Para ver a obra do Macaco
https://www.youtube.com/channel/UC14Efs7muqPD1RdyOBDq-Lw

 

[avatar user=”Elissandro Santana” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Elissandro Santana é professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

 

2 COMENTÁRIOS

  1. Interessante um artigo desses neste país de corruptos, ladrões e predadores ambientais. Faltou colocarem um link para as tais músicas! Aonde tem isso, no YouTube?

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