Lua em Sagitário, o Oeste Catarina no Cinema

Lua em SagitárioPor Raul Fitipaldi, Florianópolis, para Desacato.info.

Fotos: Janaína Machado e Rosângela Bion de Assis. 

Não sabia, não esperava, não estava preparado. Nada disso é referente a não ser comentarista de cinema. Foi a armadilha na que me enroscou um filme. De ficção? Nem tanto assim. Nem tanto.

Márcia Paraíso, jornalista, carioca e moradora de Florianópolis, dirigiu e co-roteirizou a boa nova, Lua em Sagitário. A atriz paulistana Manuela Campagna, também moradora de Florianópolis; a argentininha de Ribeirão da Ilha, Clara Ferrari; Chico Caprário; Juliana Kroeger; Andrea Buzato; todos eles corresponderam com a proposta do filme. Mas, para mim, sim, para mim, que já falei, não manjo de comentar cinema, foi muito maior o nível de emoção que me proporcionaram.

Como num passe de mágica surgem, do fundo mais sensual e amoroso da saudade gringa, tipos amados da minha juventude: Charly García, Miguel Abuelo, Nito Mestre, Litto Nebbia, e até o primeiro bolero que aprendi a cantar, Sabor a mí, com o trio Los Panchos e Eydie Gormé. Acredito que escutei Joan Baez, ou imaginei. Quem sabe.

Eu fui convidado para assistir a um filme que falava dos meus amores contemporâneos, os jovens do Extremo Oeste Catarinense. De lá, daquele pedaço valente do Mundo de onde começou a publicar, justamente ontem, o Portal Desacato. Me preparei o tempo todo para isso, porque apenas sobre isso saberia escrever. No entanto, da mão da Márcia, Juliana, de todos estes loucos lindos aparece, do nada, minha juventude rebelde encarnada pelo franco-argentino Jean Pierre Noher. Juro que é um desses pirados geniais que você encontrava há mais de 30 anos nas noites mais espessas de Buenos Aires. Caldo de rock, blues, jazz, amor de asfalto no meio do pequeno município fronteiriço de Princesa, no Extremo Oeste Catarinense.

Doidos, me desarmaram quando apenas tinha começado o filme! O resto nem vou comentar, vocês vão assistir em Florianópolis, Abelardo Luz, Chapecó, Dionísio Cerqueira, espero que em São Miguel do Oeste (essa rapaziada merece um lançamento lá, quem sabe no auditório gigante da Paróquia) e em todo o Brasil, agorinha, em setembro.

O que fui ver e vi

Sem ingenuidade, Lua em Sagitário espelha numa narrativa de ficção, de forma tenra e honesta, firme, bela, aqueles rostos que 27 dias atrás me receberam quase na divisa com a Argentina.

Não é um panfleto, é um filme de ficção feito por jornalistas, atrizes e atores, técnicos, operadores, fotógrafos, todos comprometidos com uma visão de mundo. Porém, conscientes de que precisam que todo mundo assista. E para isso, havia que embrulhar de forma compreensível o assunto, sem subestimar, mas sem martelar demais para que não se quebrasse o encanto do princípio até o fim. Havia que passar símbolos quase sem querer, O Contestado, o Movimento Passe Livre, e sim, todos os símbolos do MST, suas camisas, seus bonés, sua iconografia de luta. Havia que educar quem não conhece o Movimento, seu significado, suas conquistas transformadoras.

Houve cuidado, uma linha imperceptível foi aprofundando o assunto sem gravidade sisuda, com humor, simplicidade e beleza estética confabulada com a natureza pródiga do Oeste Catarina.

E para mim se desenhou de novo a Pastoral da Juventude, a professora rural, o líder comunitário, o agricultor do assentamento, a rua de paralelepípedos irregulares, a divisa com a Argentina, a ponte sobre o rio, a terra que beijei de joelhos do outro lado da fronteira inventada pelos conquistadores, a linha de unidade da Pátria Grande. Estava tudo lá, de novo, 27 dias depois. Isso é o que queria ver, porque ademais de aceitar o gentil convite da produção do filme, eu queria ver o Extremo Oeste de novo, precisava fazer isso. E vi.

Terminou o filme e falei com Márcia Paraíso, com Chico Caprário que fazia anos não via, com a Manu, com Juliana Kroeger, fiz meu trabalho para Desacato e o Jornal dos Trabalhadores. Voltei para minha redação matutando idéias, rememorando vidas, ainda no Extremo Oeste, e aplaudindo em retrô, no Luna Park de Buenos Aires. Acomodei-me ao teclado e fiquei feliz de ser comentarista de política. O filme que acabava de assistir merece e merecerá comentaristas especializados. Este aqui foi só público antecipado por causa de um convite imerecido.

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Lua em Sagitário

Elenco:
Manuela Campagna, Fagundes Emanuel, Jean Pierre Noher, Andrea Buzato, Chico Caprário, Elke Maravilha, Serguei, Ana Cecília Costa, Mitzi Evelyn, Antonio Saboia, Raquel Stupp e Avito Correa.

Equipe Técnica:
Direção – Márcia Paraiso
Produção – Marcia Paraiso e Juliana Kroeger
Roteiro – Marcia Paraiso e Will Martins
Fotografia – Ralf Tambke
Montagem – Glauco Broering

Fotos: Rosangela Bion de Assis e Janaína Machado.

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Parte da equipe do filme: Manuela Campagna, Clara Ferrari, Márcia Paraíso, Ana Cecília Costa e Chico Caprário.

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Márcia Paraíso e Manuela Campagna.

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Manuela Campagna, Clara Ferrari, Márcia Paraíso, Ana Cecília Costa, Ralf Tambke e Chico Caprário.

Foto: Linete Martins
Foto: Linete Martins

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Equipe do filme ao início da apresentação aos jornalistas convidados.

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