Lou Andreas Salomé, a mulher por quem Nietzsche chorou

Por Thayane Maria.

Nascida em St. Petersburg, em 1861, Lou Andreas Salomé era filha de um general do exército de Czar e teve sua educação restrita apenas às aulas particulares de um pastor protestante. Aos 19 anos, iniciou seus estudos em Teologia e História da Arte em Zurique. Em uma ida à Roma, conheceu um dos maiores filósofos de todos os tempos: Nietzsche, que estava acompanhado de um amigo e também filósofo Paul Rée. Ambos se apaixonaram por Salomé e a pediram em casamento. No entanto, após recusar o pedido dos dois amigos, Salomé teria sugerido um menáge a trois – mas em um sentido intelectual.

Apesar de à princípio ter negado o pedido de Paul Rée, mais tarde Lou decidiu fugir com ele – o que deixou Nietzsche completamente arrasado. Segundo fontes, ela explicou a ele que seu amor era apenas intelectual, e não físico ou romântico. Especula-se que o agravamento da doença que levou o filósofo à morte foi resultado deste amor não correspondido que Nietzsche nutriu até o fim de sua vida. Em carta ao seu editor, Nietzsche falou um pouco sobre seus sentimentos em relação a partida de Salomé: “Minha relação com Lou está nos últimos e mais dolorosos momentos. Pelo menos assim o creio hoje. Mais tarde – se houver um mais tarde – quero dizer uma palavra a respeito. Compaixão, meu caro amigo, é uma espécie de inferno”, desabafou o filósofo.

Os meios revolucionários da Europa

Após o suicídio de Paul Rée, em 1902, Salomé entrou em uma profunda depressão, a qual o médico austríaco Friedrich Pineles a ajudou a se recuperar. Da amizade nasceu um caso amoroso que resultou em um aborto voluntário de Lou. Após o incidente, Salomé passou a viajar pela Europa, frequentando os meios sociais mais revolucionários de sua época, vivendo por muitos anos entre as cidades de Berlim, Munique, Paris e Viena. Com a efervescência intelectual que vivia e sua profunda admiração pela filosofia, lançou o seu primeiro livro no começo do século, chamado Na luta por DeusPouco tempo depois, comprovou a sua grande admiração pelo amigo Nietzsche, publicando seu segundo livro: Friedrich Nietzsche e sua obra.

Lou era uma mulher à frente do seu tempo: gostava de falar abertamente sobre sexo e erotismo, e tinha um grande interesse por assuntos polêmicos e proibidos para uma mulher em sua época. Desta forma, despertou em muitos homens paixões que beiravam à loucura. Um deles foi o professor universitário Friedrich C. Andreas que, segundo a história, teria ameaçado se suicidar caso Salomé não se casasse com ele. E ela o fez. No entanto, existem boatos que o casamento nunca chegou a ser consumado. Algum tempo depois, conheceu o poeta alemão Rainer Maria Rilke, 14 anos mais jovem do que a escritora, por quem ela se apaixonou. Do relacionamento nasceu um livro com as correspondências que trocaram durante anos, Briefwechsel mit Rilke, em tradução livre Correspondência com Rilke.

Freud: amizade e paixão pela psicanálise

Em 1911, com 50 anos de idade, Lou conheceu Sigmund Freud através de amigos interessados por psicanálise. Foi a primeira mulher a ser aceita no círculo psicanalítico de Viena, e tornou-se amiga pessoal e discípula de Freud. A amizade entre os dois durou pelo resto de suas vidas, na qual Salomé era uma das poucas pessoas que o famoso psicanalista confiava seus pensamentos mais íntimos.

Lou Andreas Salomé foi uma mulher pioneira, tanto no aspecto intelectual quanto no comportamental, e foi essencial na vida de alguns dos pensadores mais importantes de todos os tempos. Mas, apesar de sua inteligência e de sua obra, a fama e o legado foram herdados apenas pelos nomes masculinos com quem se envolveu. Lou faleceu aos 76 anos em 1937, e além de ter inspirado alguns dos homens mais importantes do mundo, foi acima de tudo uma mulher livre, independente, uma grande intelectual e ícone feminino do século XX.

Fonte: Estante Virtual

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