Lideranças denunciam incêndio criminoso na aldeia multiétnica “Filhos Desta Terra”, em SP

Por Claudia Weinman e Julia Saggioratto, para Desacato. info.

No JTT Indigenista de quarta-feira, dia 7 de abril, o Portal Desacato recebeu as lideranças Simone Pankararu e Awa Kuaray Werá (Gilberto), da Aldeia Multiétnica Filhos Desta Terra, localizada no município de Guarulhos, em São Paulo, para denunciar o incêndio criminoso registrado pela comunidade no domingo, dia 4 de abril.

As famílias dos povos Tupi, Pankararé, Pankararú, Xucuru de Urorubá, Kaimbé, Wassu Cocal, Guajajara e Kariri Xocó formam a Aldeia Multiétnica, um espaço territorial construído pelos povos indígenas em contexto urbano de Guarulhos, sendo uma luta que desde 2017 movimenta esse espaço.

Simone Pankararu falou que o fogo atingiu três casas. “Consideramos que foi um atentando, estamos agradecidos por não ter atingido nenhum morador, nenhum parente. Tínhamos a preocupação que tivesse chegado as nossas resistências, mas atingiu as casas de rezas, que são também de extrema importância, espaço de onde vêm a nossa força e, por isso, abalou o nosso povo, porém, nenhuma vida foi tirada, estamos gratos por estarmos vivos”, disse.

Awa Kuaray Werá também ressaltou que as casas de rezas foram construídas com sacrifício e que a aldeia multiétnica tem recebido solidariedade de todo Brasil pelo ocorrido no último domingo. “No ano passado construímos duas casas de reza, com muito sacrifício, foi de grande alegria, cobrimos com capim-sapé. Talvez a pessoa que cometeu esse crime achou que nos diminuiria, mas a gente está vendo que foi ao contrário, nos fortaleceu mais. Aos poucos estamos vendo, está tendo solidariedade de todo Brasil”.

Incêndio criminoso aconteceu no domingo, dia 4 de abril. Foto: Via Comunidade.

As lideranças contextualizaram ainda que no momento do incêndio estavam preparando uma trilha, a partir de um projeto que estão desenvolvendo no território. “No momento estávamos trabalhando na trilha. Já tinha passado pelo susto pela manhã com o primeiro incêndio da primeira oca, por volta das 8h30. A gente não acreditava que durante o dia ainda fosse acontecer mais coisas. Os parentes viram a oca em chamas, mas até a gente chegar lá e conseguir apagar, não deu tempo, pois o sapé é uma espécie de capim, então ele queima muito rápido. Toda essa situação gerou pânico entre os parentes. Na terceira oca, percebemos que a pessoa que cometeu esse ato criminoso tinha acabado de sair do local, então, nos gerou aquela mágoa, levamos meses procurando sapé. Vivemos em um aterro sanitário, nossa reserva é construída em cima de um antigo aterro, não tem matéria-prima para trabalhar. O sapé nós buscamos em lugar distante daqui, foi muito trabalhoso conquistar esse material”, relatou Simone.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) regional Sul publicou uma nota de repúdio, denunciando o descaso e omissão da prefeitura do município de Guarulhos e da Funai, sobre a proteção territorial que se faz necessária para a segurança do território e da vida dos indígenas da Aldeia Multiétnica.

O ataque sofrido pela Aldeia Multiétnica evidencia o descaso e a morosidade da Prefeitura de Guarulhos e da Funai em oficialmente reconhecer o território como Reserva Indígena, garantindo a proteção territorial a essa área, que se encontra vulnerabilizada e sem demarcação física. A comunidade está cansada de se sentir ameaçada e de ficar sem respostas dos órgãos competentes”.

Confira a entrevista completa, no JTT Indigenista:

 

 

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