Leituras feministas: “Niketche, Uma história de Poligamia” de Paulina Chiziane

niketche

Apresentado como um conto sobre como a poligamia num Moçambique pós-colonial, em “Niketche” Paulina Chiziane nos dá a conhecer, através de voz de Rumi, as complexas lutas travadas pelas mulheres, desde às mais íntimas às sociais, económicas, e culturais. Nestas lutas há derrotas mas também vitórias, avanços e recuos, tal como acontece nas lutas reais pelo alcance dos direitos das mulheres.

Numa das passagens em que Rumi reflecte sobre o mundo que gostaria que existisse, Paulina constrói um mundo de igualdade entre homens e mulheres, meninas e meninos; se ousarmos dizer, um mundo feminista:

“Juntas celebramos o porvir e juramos: a partir de hoje, caminharemos na marcha de todas as mulheres desprotegidas pela sorte, multiplicaremos a força dos nossos braços e seremos heroínas tombando na batalha do pão de cada dia. A cantar e a dançar, construiremos escolas com alicerces de pedra, onde aprenderemos a escrever e a para as linhas do nosso destino. Atravessaremos o mar com a nau dos nossos olhos porque saberemos navegar até ao além-mar e levaremos a mensagem de solidariedade e fraternidade às mulheres dos quatro cantos do mundo. Ensinaremos aos homens a beleza das coisas proibidas: o prazer do choro, o paladar das asas e patas de galinha, a beleza da paternidade, a magia do ritmo do pilão a more o grão. Amanhã, o mundo será mais natural, e os nossos bebés, tanto meninas como rapazes, terão quatro anos de mamada. Na hora de nascer, as meninas serão também recebidas com cinco salvas de tambor, no teto do lar paterno e na sombra da árvore dos seus antepassados. Marcharemos ao lado dos homens, como soldados fardados de suor e lama, na machamba, na mina, na fábrica, na construção, e levaremos um beijo de mel à boca de cada criança. Seremos mais ricas de pão e paixão. Olharemos para os homens com amor verdadeiro e não para as cifras das notas de banco que pendem nos bolsos das calças. Ao lado dos nossos namorados, maridos e amantes, dançaremos de vitória em vitória no niketche da vida. Com as nossas impurezas menstruais, adubaremos o solo, onde germinará o arco-íris de perfume e flor “.

Fonte: Ondjango Feminista

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