JRV

Jorge Rafael Videla no Chile.
Jorge Rafael Videla no Chile, convidado de Pinochet.

Por Julio Rudman.

(Português/Español).

– A Silvia Ontivero.

Não lamento a sua morte. Lamento a sua vida. Que significa morte, desaparição forçada de pessoas, roubo de crianças, destruição de cidadania, aniquilação do aparelho produtivo, monopolização e privatização de bens e serviços públicos, censura, terror estatal, genuflexão ante os capitalistas de fora e, sobre tudo, de dentro. Lamento essa vida dedicada a proteger os privilegiados e submeter os desesperados.

Se Auschwitz foi a cúspide técnica ao serviço do mal absoluto, a vida deste homem cinza é mais importante, muito mais importante que sua morte. Que tenha falecido sentado na privada ou na ducha é, em todo caso, anedótico ou, se você preferir, alegórico, porque nem o céu nem o inferno, se é que existem como lugares ou destinos post mortem, terão o beneplácito de receber este ser humano (sim, talvez tenha sido a pior cara da condição humana, mas seria absurdo negar que foi um homem de seu tempo. Embora doa). Como descreio dessas estatuarias tranquilizantes ocupo estas linhas para nos olharmos nessa foto da perversão que gritava os gols nacionais em 78, e no aperto de mãos com Bartolomé Mitre (filho) e Ernestina Herrera de Noble enquanto se apropriavam de “Papel Prensa” na sala de torturas ou na sua maléfica definição dessa categoria infame: os desaparecidos.

Quem sabe a vida e a obra do defunto, e seus sócios civis e eclesiásticos, seja uma das provas mais contundentes da inexistência de qualquer deidade. Fica claro que, em todo caso, deus não é argentino, mas como disse José Saramago a propósito do 11-S: “Deus é inocente. Inocente como algo que não existe” (“O fator Deus”, Jornal “El País”, 18 de setembro de 2001). Então, a sociedade nossa devia assumir o fato de ter permitido e, em alguns casos, colaborado e festejado estas lacras. E o fez. Da mão e por impulso das Mães e Avós (da Praça de Maio) primeiro, de familiares e companheiros depois. Pela vontade política de um pinguim lúcido e valente. É bom lembrar que o mesmo JRV premiou Néstor e Cristina com esta definição: “Os Kirchner foram o pior que nos aconteceu”.

Enquanto isso, com paciência infinita, sigo esperando as sábias e piedosas palavras do sucessor de Pedro, o muito argentino e urubu senhor do Vaticano. Como sigo esperando que parem de proteger um condenado a prisão perpétua por genocídio, Christian von Wernich.

Enquanto isso, com paciência finita, leio os grandes jornais nacionais e suas sucursais provincianas redigir os anúncios necrológicos do tipo como se não tivessem sido seus cúmplices midiáticos, como se não se tivessem beneficiado até a obscenidade com suas negociatas infames. Eles, que hoje declamam pureza moral e independência e reclamam pela corrupção estrutural argentina. A corrupção, essa desculpa esgrimida por cada golpe de Estado, desde 1930 até 1976, em todos. Um exemplo, somente um, para ilustrar esta obra prima da hipocrisia. O mendocino jornal “Los Andes”, na bajada de sua matéria, ao dia seguinte do óbito publicou, textualmente: “Impus um selvagem sistema econômico”,

como se o artigo nos transladasse a Mauritânia ou Cingapura, ao século XIX ou eles recém tivessem ficado sabendo da questão procurando em Google.

Ontem, como hoje, os mestres do medo, os aliciadores, os assaltantes do Estado de Direito para instalar o Estado de Direita, sempre prontos para semear as sementes de fungos venenosos que nos intoxiquem e nos deixem fora de combate.

O símbolo armado da Sociedade Rural e os grupos concentrados da palavra e a imagem terá sua tumba, seu lugar no mundo. E os filhotes de chacal poderão chorá-lo, se acaso.

Tradução: América Latina Palavra Viva.

 JRV

Por Julio Rudman.

– A Silvia Ontivero.

No lamento su muerte. Lamento su vida. Que significa muerte, desaparición forzada de personas, robo de niños, destrucción de ciudadanía, aniquilación del aparato productivo, monopolización y privatización de bienes y servicios públicos, censura, terror estatal, genuflexión ante los capitalistas de afuera y, sobre todo, de adentro. Lamento esa vida dedicada a proteger a los privilegiados y someter a los desesperados.

Si Auschwitz fue la cúspide técnica al servicio del mal absoluto, la vida de este hombre gris es más importante, mucho más importante que su muerte. Que haya fallecido sentado en el inodoro o en la ducha es, en todo caso, anecdótico o, si usted prefiere, alegórico, porque ni el cielo ni el infierno, si es que existen como sitios o destinos posmortem, tendrán el beneplácito de recibir a este ser humano (sí, tal vez haya sido la peor cara de la condición humana, pero sería absurdo negar que fue un hombre de su tiempo. Aunque duela). Como descreo de esas imaginerías tranquilizantes ocupo estas líneas para mirarnos en esa foto de la perversión que gritaba los goles nacionales en el 78, en el apretón de manos con Bartolomé Mitre (h) y Ernestina Herrera de Noble mientras se apropiaban de Papel Prensa en la sala de torturas o en su maléfica definición de esa categoría infame: los desaparecidos.

Quizá la vida y la obra del finado, y sus socios civiles y eclesiásticos, sea una de las pruebas más contundentes de la inexistencia de cualquier deidad. Queda claro que, en todo caso, dios no es argentino, pero como dijo José Saramago a propósito del 11-S: “Dios es inocente. Inocente como algo que no existe” (“El factor Dios”, Diario “El País”, 18 de setiembre de 2001). Entonces, la sociedad nuestra debía hacerse cargo de haber permitido y, en algunos casos, colaborado y festejado a estas lacras. Y lo hizo. De la mano y por impulso de Madres y Abuelas primero, de familiares y compañeros luego. Por la voluntad política de un pingüino lúcido y valiente. Conviene recordar que el mismísimo JRV galardonó a Néstor y a Cristina con esta definición: “Los Kirchner fueron lo peor que nos pasó”.

Mientras tanto, con paciencia infinita, sigo esperando las sabias y piadosas palabras del sucesor de Pedro, el muy argentino y cuervo señor del Vaticano. Como sigo esperando que dejen de proteger a un condenado a perpetua por genocidio, Christian von Wernich.

Mientras tanto, con paciencia finita, leo a los grandes diarios nacionales y sus sucursales de pago chico redactar las necrológicas del tipo como si no hubiesen sido sus cómplices mediáticos, como si no se hubiesen beneficiado hasta la obscenidad con sus negociados infames. Ellos, que hoy declaman pureza moral  e independencia y reclaman por la corrupción estructural argentina. La corrupción, esa excusa esgrimida por cada golpe de Estado, desde 1930 hasta el 1976, en todos. Un ejemplo, sólo uno, para ilustrar esta obra maestra de la hipocresía. El mendocino diario “Los Andes”, en la bajada de su nota, al día siguiente del deceso publicó, textualmente: “Impuso un salvaje sistema económico”, como si el artículo nos trasladara a Mauritania o Singapur, al siglo XIX o ellos recién se hubiesen enterado de la cuestión buscando en Google.

Ayer, como hoy, los maestros del miedo, los embaucadores, los asaltantes del Estado de Derecho para instalar el Estado de Derecha, siempre listos para sembrar las semillas de hongos venenosos que nos intoxiquen y nos dejen fuera de combate.

El símbolo armado de la Sociedad Rural y los grupos concentrados de la palabra y la imagen tendrá su tumba, su lugar en el mundo. Y los cachorros de chacal podrán ir a llorarlo, si es que.

 Foto: 1976. Diego Goldberg (Sygma/Corbis).

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