Jornalistas, saiam das redações (como nós as conhecemos)

freePor Larissa Cabral.

“Como posso transformar para melhor o meu ambiente de trabalho?”, provocou o professor em sala de aula. Diferente do que acontece com a grande maioria dos meus colegas estudantes, meu ambiente de trabalho não é uma redação, nem de TV, nem de jornal impresso. Foi uma opção minha e, frente a lamentações quase diárias sobre tal cenário, estou convicta de que fiz a escolha certa. Digo isso, pois, não acredito em mudanças significativas nas estruturas vigentes. Afinal, a ascenção de jornalistas em uma empresa de comunicação é para quantos? Até onde é possível ir? Onde é possível interferir? Até que ponto essa transformação é possível?

A qualidade da informação e a satisfação pessoal de seus funcionários são aspectos que as grandes empresas jornalísticas não fazem questão de construir e preservar. Pelo menos é o que mostram as constantes notícias de demissões em massa, salários baixos, assédio moral, acúmulo de funções. Apesar de serem muito rentáveis, tais corporações dificilmente são lideradas por jornalistas. Estes são limitados às redações, onde o poder de decisão é quase inexistente e as condições de trabalho pouco permitem a produção de conteúdo aprofundado, de análise ou aquelas tão sonhadas reportagens que, infelizmente, só sairão do papel quando forem comprovadas como rentáveis.

Defendo uma transformação mais profunda, uma inversão da pirâmide da relação trabalhista nas organizações voltadas ao jornalismo e à comunicação. Ou melhor, acredito na combinação de uma relação de trabalho mais humana e horizontal, na qual o jornalista e o comunicador serão chefes de si mesmos, agindo cooperativamente para buscar um gol comum, de verdade. Sendo assim, do meu ponto de vista, a estratégia de gestão que pode efetivamente transformar o ambiente de trabalho é a autogestão, proposta inviável nas corporações existentes, pré-moldadas e pouco maleáveis neste ponto. Penso que é preciso criar um ambiente favorável às perspectivas e ambições de todos os profissionais e que, consequentemente, contribua com a pluralidade e a democratização da informação – de poder informar e ser informado -; mas, os modelos que nos oferecem não suportam essas condições.

Autogestão, autosatisfação

Ao se tornarem chefes de si mesmos, os jornalistas e comunicadores sociais, de modo geral, têm permissão para ousar, criar, pensar e apresentar sua opinião crítica, algo tão raro nas empresas de comunicação regidas por interesses políticos e econômicos.

Vejo que se discute sobre novas formas de produção, novas ferramentas e estilos, mas pouco se discute sobre diferentes meios de propiciar o trabalho. Parece-me que não se enxergam opções, além dos veículos estabelecidos ou dos famosos trainees. Afinal, é assim tão limitada nossa área de atuação? É somente nesse formato e por esses meios que podemos produzir, informar? Será que compartilhamos dos mesmos propósitos, nós e nossos chefes?

Sabe-se que audiência não tem relação com satisfação profissional, de modo que podemos observar a saída frequente de bons profissionais de grande veículos como os da RBS, da Abril, Estadão, Brasil Econômico, Caros Amigos ou da Folha de S. Paulo, por exemplo. Tão pouco se fala e se coloca em prática, nestas empresas, a ideia de comunicação como um bem e um serviço público e dos jornalistas como agentes sociais. Dificilmente se permite a reflexão ou a expressão de qualquer vontade e opinião.

Enfrentar jornadas exaustivas e ver seus direitos trabalhistas desrespeitados são alguns dos motivos mais comuns entre as 14 rescisões contratuais registradas pelo Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (foram na RBS TV, Kzuca Promoções e Diário Catarinense), nos três primeiros meses de 2013. Não sei se é o caso de uma visão pessimista ou otimista demais – prefiro a segunda, mas vejo que a transformação em cenários como estes é limitada e, pessoalmente, não atende aos meus anseios profissionais, sociais e humanos. Pergunto-me: quais são os parâmetros de qualidade, frente às rotinas produtivas das redações? O que é possível produzir nesse ritmo de fast food. Quais são as condições dessa produção?

A facilidade atual para se criar canais de comunicação online, fazem pipocar diversos blogs diariamente, alguns tendem ao narcisismo, mantém-se vinculados a portais noticiosos de empresas tradicionais ou viram exemplos de boas práticas de fato. A tendência, contudo, temo que possa favorecer uma posição muitas vezes – não todas – individual, de forma que a autogestão ainda seja possível. Mas, será que a forma como nos organizamos e nos relacionamos não pode ser diferente? Será que há propostas que podem nos valorizar, aproximar e integrar mais?

Alternativa

Frente à insatisfação – seja dos profissionais da comunicação ou do público -, cresce o espaço para as mídias alternativas e para projetos diferenciados, seja do ponto de vista do investimento ou da própria gestão. Trata-se de uma oportunidade importantíssima para o público e também para jornalistas que querem ver seu trabalho valorizado, livres de cartilhas e manuais de redação enfiados goela abaixo.

Com o tempo, percebi que a formação do jornalista para um ambiente guiado pela autogestão, pelas vias acadêmicas, pode pecar em alguns sentidos. Cito dois: pouco incentivo ao empreendedorismo, à inovação e à independência; e poucas iniciativas para desenvolver a ideia e o sentimento de categoria, de classe, de identidade, de valorização profissional. Nesse sentido também, não se vê uma ação concreta do Sindicado dos Jornalistas, junto aos universitários.

A Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura (CpCC) surge, em dezembro de 2011, como uma alternativa, uma nova forma de organização, caracterizada por um modelo de gestão democrático e participativo, mais voltado para o bem comum, do que para o lucro. Trata-se de uma sociedade civil, comercial, montada para atender aos interesses dos cooperados. Dentre alguns de seus princípios básicos estão: adesão voluntária e livre, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, interesse pela comunidade, gestão democrática e intercooperação. Nesse contexto, o objetivo é compartilhado e o sucesso da organização é resultado do trabalho de todos.

*trabalho produzido para a disciplina de Rádio e TV, do curso de MBA em Jornalismo: Gestão Editorial, do Instituto Superior de Comunicação e Universidade Tuiuti do Paraná

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.