Jornada Cultural da Reforma Agrária é realizada na UFFS de Chapecó-SC, junto, o lançamento do CD “Terra e Arte”

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocupou no último final de semana, a Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), campus de Chapecó-SC, para realização da 4° Jornada Cultural da Reforma Agrária de Santa Catarina. Conforme um dos Coordenadores da atividade, Revero Ribeiro, a primeira jornada aconteceu no ano de 2007, de lá para cá, segundo ele, houve a necessidade de expandir a atividade para fora dos assentamentos e coloca-la para dentro da Universidade.

Ribeiro explicou que durante os três dias de atividade em Chapecó, foram realizadas oficinas de linguagens artísticas, envolvendo música, poesia, teatro, danças, batucada, outras ligadas a construção de um quadro com sementes crioulas, oficina de fitoterapia, plantas medicinais, além dos momentos de formação, estudo, debates com base em textos e vídeos, retomando diálogos a respeito da indústria cultural, da formação da cultura e das identidades.

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Quadro construindo com sementes, durante a Jornada.

Durante os períodos noturnos, Ribeiro também enfatizou que foram realizados saraus de poesia, concretizando o objetivo de interação e complemento com as discussões realizadas durante os dias. Além disso, ele destaca a realização da Feira da Reforma Agrária, no mesmo espaço da Jornada Cultural. “A arte não se distancia da produção. Aliás, a produção de alimentos está ligada a produção da cultura, da arte”, disse ele.

A cultura não se separa do todo

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Momento cultural realizado na noite de sexta-feira, dia 21.

Revero explicou ainda que os/as camponeses/as precisam se reconhecer como artistas, como construtores da cultura e da identidade que a partir disso, é formada. Segundo ele, um dos objetivos da Jornada Cultural era justamente envolver a juventude, mas também, trazer grupos de mulheres, de homens que também podem aprender a partir de uma oficina de teatro, que podem participar de um coral, aprender a dançar, e a se reconhecer dentro desse espaço.

A cultura, para Revero, não está separada do todo. “Temos percebido que as linguagens artísticas, são as ferramentas de maior acesso ao ser humano, tanto no assentamento com no espaço urbano. Por isso, precisamos formar pessoas que tenham a capacidade de mobilizar esse público para contribuir na transformação social”, disse ele.

Projeto Residência Agrária

Revero também explicou que o movimento possui um Projeto denominado “Residência Agrária Jovem”, onde somam-se a essa experiência, 50 jovens bolsistas, pela Universidade do Estado de Santa Catarina. O objetivo conforme ele, é formar agentes culturais para contribuir no processo de resistência da cultura nas realidades onde o movimento possui abrangência. “São dois anos de formação, onde esses jovens recebem o conhecimento para auxiliar o movimento na manutenção dos saberes, das culturas, seja por meio de oficinas de teatro que depois poderão ser realizadas, em sessões de cinema, como já acontece, em trabalhos realizados dentro das rádios do movimento, em unidade com a medicina popular, no contato e aprendizado sobre as ervas medicinais, enfim, essas pessoas possuem a tarefa de disseminar esses saberes”, enfatizou.

CD Terra e Arte

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Durante a sexta-feira, dia 21 de outubro, o Portal Desacato também acompanhou o lançamento do CD que trás como símbolo os 30 anos de Lutas e Conquistas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do estado de Santa Catarina. O ato de lançamento foi realizado nas dependências da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), campus de Chapecó.

O Trabalho, que carrega a história de lutas dos Sem Terra no Estado, foi organizado pelos cantadores do povo, Pedro Munhoz, Victor Batista, João Marcos Negrinho Martins e Paulo Santos. Cada canção, foi escrita a partir do contexto das ocupações, dos enfrentamentos, dos sonhos de muitas famílias, que hoje garantiram um pedaço de chão por meio da luta coletiva. O Portal Desacato, destaca, em meio a tantas canções, “Uma Estrada de Ferro, Um Grito de Resistência”, composição escrita pelo companheiro militante do coletivo PJMP/PJR, e integrante da Cooperativa de Trabalho Desacato, Pedro Pinheiro, que traz o contexto da Guerra do Contestado.

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Pedro Pinheiro é músico, e integra a Cooperativa Desacato, no Oeste Catarinense.

Os elementos refletem na resistência, a contínua concentração de terras no Brasil e no mundo, os conflitos gerados pelos sistemas opressores, que colocam até hoje, povos originários e europeus em disputa. Faz menção a não aceitação da real história de genocídio que refletiu em mudanças significativas na configuração de todo estado Catarinense, principalmente, resultou na “limpeza” e “pureza” das áreas até então habitadas por indígenas e caboclos para o início de um desenvolvimento individual, baseado na lucratividade de patrões e exploração da mão de obra escrava e barata.

As demais canções também mostram o processo de ocupações no Estado, falam sobre as lutas, as conquistas, a dificuldade do povo, o cenário de despejo vivenciado por várias famílias Sem Terra, entre outras realidades que formam o CD Terra e arte, um trabalho que não separa a luta pela terra da construção da arte, do conhecimento.

 

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