Itaú contrata o Bope para palestra de ‘motivação’

a85b1d1a53af9f9de12f707ff039e6c5_LNão é só o governador Sérgio Cabral que usa o Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio (Bope) contra o trabalhador. Numa demonstração de que o assédio moral nos bancos não tem limites, o Itaú contratou um oficial do temível Bope para uma palestra denominada “motivação”, que, no final das contas, transformou-se numa sessão de tortura psicológica e de alguma forma desfez a boa imagem que nem só aqueles empregados do banco sempre fizeram do Bope.

Com 32 gerentes de relacionamento (GR), a reunião foi realizada numa dependência do banco na Avenida Almirante Barroso, no dia 23 de maio, uma quinta-feira que certamente ficará na memória dos funcionários pelo seu caráter ameaçador, violento. Além do palestrante, estiveram presentes, o superintendente Caio Testa Vono, o diretor comercial Leon Gutberg e um gestor do Uniclass de nome Sérgio, além dos gerentes-superintendentes do Uniclass Vanessa Cesário e Fabrizio Cesarino.

O céu como limite

A informação chegou à redação do Jornal Bancário por meio de uma denúncia anônima. Antes de o palestrante convidado entrar em cena, os altos gestores do banco disseram que o Uniclass tem 60% de peso na missão de tornar o Itaú o maior banco de varejo do mundo. Mostraram números que consolidam a ambição de crescimento da empresa neste ano de 2013. Para isso, os funcionários têm que superar suas metas anteriores que já eram absurdas. Para este mês, as metas estão exacerbadas com faixa de 3 milhões de reais para captação de recursos, 240 mil a 300 mil reais de empréstimos, além de seguros de vida e capitalização. Em suas atribuições de relacionamento com o cliente, os funcionários têm uma listagem com o chamado “mapão” de cartões de crédito. A cada telefonema aos clientes, tem que vir a reciprocidade em desbloqueio, ou seja, é tarefa do empregado fazer o cliente gastar.

Corte de comissões

São dolorosos os caminhos de um gerente de relacionamento. Ao constatar que as metas vêm sendo cumpridas, mesmo à custa de suor, lágrimas e sangue, o banco decidiu mexer no comissionamento. Em vez da comissão variável, que permitia melhor renda ao empregado, a diretoria do banco adotou uma comissão de valores fixos, reduzindo os ganhos, que variam de R$265 a R$765, segundo a contagem de pontos acumulados com a venda de produtos. Até mil pontos o GR não ganha comissão. Só vai ganhar o teto se acumular acima de 1200 pontos. Considerando que a contagem começa com 20 pontos, imagine quanto produto tem que vender para alcançar mais de 1200 pontos. Quanto mais o funcionário vende, mais cresce a exigência de superação da meta anterior.

Em vez de estímulo, a abordagem do oficial serviu mais para exacerbar o constrangimento dos funcionários que viam naquilo uma forma usual de pressão para o cumprimento “das metas que eles insandecidamente nos colocam todos os dias”, diz o texto do e-mail enviado à redação do Jornal Bancário.

Ao entrar em cena, o oficial do Bope enfatizou que os fracos não têm vez no mundo competitivo do banco. Que difícil é subir morro para prender bandido, enfrentando tiroteio. Aí, mostrou em vídeo a maneira como os soldados são submetidos a testes de resistência, as posições em que eles devem ficar para suportar as pressões. Mostrou também incursões em favelas e a retirada de obstáculos que os traficantes costumam usar para dificultar a passagem da polícia nas comunidades. “Deu a entender que não há obstáculos para o cumprimento de metas”, diz a denúncia.

Insinuou que quem não consegue bater metas tem um lugar seguro nas ruas, ao mostrar onde são “enterrados” os que aspiram a ser soldados mas não aguentam as pressões.

Por fim, o militar encerrou sua performance com arroubos de narcisismo, enaltecendo suas próprias qualidades de palestrante motivacional, dizendo que os “vencedores” têm a eternidade para dormir. Ou seja, o bancário do Itaú tem que buscar tempo da meiainoite às seis para “resolver suas tarefas”, isto é, vender produtos do banco. Só que em vez de motivados, os ouvintes saíram da sessão sentindo um forte e amargo sabor do assédio moral. Fala sério!

Fonte: Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

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