Isabelle, primeira transexual registrada em um time feminino no país

Isabelle Neris. Foto: Daniel Giovanaz
Isabelle Neris. Foto: Daniel Giovanaz

Ela nasceu em um corpo de menino, mas “sempre soube que era homossexual”, relata. Aos 17 anos, começou um tratamento hormonal para reduzir os níveis de testosterona no organismo, e no ano seguinte fez a primeira cirurgia plástica – com apoio dos familiares.

O vôlei é o esporte preferido desde a infância. “Na adolescência, eu vi que não me enquadrava nos padrões masculinos. Porque os meus níveis de testosterona sempre foram mais baixos, mesmo antes do tratamento hormonal”.

Como “não fazia sentido” jogar entre os homens, e a documentação dela não permitia integrar um time feminino, o vôlei virou apenas um hobby. Isabelle Neris estudou, tornou-se técnica em radiologia, e hoje trabalha em um salão de beleza.

Em 2015, foi chamada a integrar o time Voleiras, que disputa torneios locais e regionais. “Deixei bem claro para a comissão técnica e para as outras meninas que eu só poderia participar de treinos”, ressalta. No mesmo ano, ela entrou com recurso para alteração dos documentos, e a comissão técnica da equipe passou a buscar informações sobre a possibilidade de inscrevê-la em uma partida oficial.

Inspiração

“Eu nunca tive notícia de nenhum transexual, homem ou mulher, participando de competições esportivas oficiais”, conta Isabelle. “Foi aí que eu conheci a história da Tiffany, uma brasileira que joga em alto rendimento na Itália”.

Tiffany Abreu jogava em uma equipe masculina no Brasil, “como se fosse um homem”. Ao chegar à Itália, alterou seus documentos e conseguiu uma liberação da Federação Internacional de Voleibol para competir entre as mulheres. “Foi a minha inspiração”, lembra a curitibana.

Em uma decisão inédita, há duas semanas, a CBV autorizou que Isabelle fosse registrada como atleta da equipe feminina. Ao contrário de Tiffany, ela não precisou apresentar a comprovação dos níveis de testosterona, porque vai disputar apenas torneios amadores.

Preconceito

“Quando eu entro em quadra, noto os olhares, as risadinhas, os xingamentos. É muito explícito, muito ofensivo, direcionado, mas eu tento ignorar”, afirma Isabelle. “Porque ninguém é obrigado a gostar de nada, mas tem que respeitar”.

O sonho de ser jogadora profissional ficou para trás, mas Isabelle está tranquila em relação ao futuro no esporte. “Eu já tenho 25 anos, e geralmente as atletas de alto nível começam mais cedo. Mas quero continuar jogando em competições regionais, locais, e ser cada vez mais respeitada”,

No país que mais mata transexuais do mundo, ela sabe que estar em quadra já é uma vitória.

Brasil de Fato

Fonte: Vermelho.

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