Irmãos Marinho denigrem memória do avô em comemoração de 90 anos do jornal O Globo

Desagravo à memória de Irineu Marinho

Por Raúl Longo.

Irineu Marinho
Irineu Marinho

Alguém tem de ser tirado de circulação por mentira descarada: ou a Wikipédia ou os veículos de comunicação das Organizações Globo.

Diz a redação do Jornal Nacional que com a morte do fundador do O Globo, Irineu Marinho, o filho assumiu a diretoria do jornal.

Desmente o Wikipédia: “Em menos de um mês após o lançamento do jornal, contudo, Irineu faleceu vítima de um ataque cardíaco, e Roberto Marinho tornou-se o principal herdeiro do jornal. No entanto, recusou-se a assumir a direção do diário carioca e o deixou sob responsabilidade de Euclydes de Matos, amigo de seu pai, enquanto continuava seu aprendizado nas funções de repórter, copidesque e redator…”

Mentiu o JN dizendo que Roberto Marinho passou a dirigir o jornal com a morte do pai, menos de um mês depois de ter fundado o O Globo, ou foi o Wikipédia que inventou o Euclydes de Matos?

O Wikipédia também informa data de nascimento e morte de: “Roberto Pisani Marinho (Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 1904 — Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2003)”
Se nascido em 1904 e O Globo fundado em 1925, não é de estranhar que Roberto não tenha assumido a direção do jornal um mês após lançado pelo avô dos Irmãos Marinho. Afinal, 21 anos não é mesmo idade para tanto e mais crível a sequência da informação: “Com a morte de Eurycles de Mattos em 5 de maio de 1931, Roberto Marinho assumiu a direção de “O Globo”, aos 26 anos de idade, colocando em prática um estilo empresarial ousado…

Que “estilo empresarial ousado” foi esse? Igual ao do avô dos Irmãos Marinho?

É também o Wikipédia que informa sobre Irineu: “Em 18 de julho de 1911 é fundado A Noite, primeiro vespertino do Rio de Janeiro, do qual era um dos acionistas, e cuja quota de 25 contos de réis seria proveniente de empréstimos feitos por amigos. Em 1913, seus desafetos da Brasil Railway Co. conseguem infiltrar um representante na sociedade –Gerardo Rocha– complementando a seguir: “Em 1924 viaja à Europa com a família e aproveita para conhecer novas técnicas e equipamentos gráficos mais aperfeiçoados. Neste ínterim, no Brasil, Gerardo Rocha  convoca a assembléia de acionistas e aumenta o capital do jornal, restando com Irineu a condição de acionista minoritário, o que acabou por expurgá-lo da empresa que ajudou a construir”.

Já sobre a “ousadia” do filho de Irineu o que o Wikipédia informa é que: “Foi sob o regime militar que Roberto Marinho deu um salto decisivo na transformação do conglomerado… ele adquiriu uma nova concessão, o Canal 5 de São Paulo, a TV Paulista, e começou a formar a Rede Globo de Televisão.”

É na página referente à “TV Paulista” que o Wikipédia inverte em 180º a biografia de pai e filho. Se ali Irineu é relatado como vítima de golpista e trambicagem do capital estrangeiro, aqui o filho é golpista trambiqueiro: “Em meados da década de 1960 o empresário Roberto Marinho  adquire a TV Paulista… Victor Costa Junior vendeu a Roberto Marinho algo que não era legalmente seu. Ademais, os 673 acionistas minoritários, que juntos detinham 48% do capital da empresa, foram lesados – Marinho se apropriou de suas ações de modo irregular em 1975, declarando-os “mortos” ou “desaparecidos” no recadastramento societário. Com a autorização do Dentel, órgão do Ministério das Comunicações, houve o confisco das ações sob a forma de subscrição por valor unitário de Cr$1,00 (um cruzeiro) por ação, transferidas para o nome de Roberto Marinho, em Assembléia Geral Extraordinária presidida por ele próprio, o que fez de Marinho o único proprietário da estação. Outro caso misterioso, foi o incêndio ocorrido na antiga sede da TV Paulista. Suspeita-se que o incêndio seria criminoso, com a intenção de receber o seguro, que seria usado para a expansão da emissora.”

Ou seja, sob a luz das informações do Wikipédia Roberto Marinho foi ainda mais calhorda com os acionistas da TV Paulista do que Geraldo Roca com seu pai.

Mas golpismo e trambicagem ocorreram pelos mesmos motivos e através dos mesmos meios, pois o mesmo Wikipédia que aponta no estilo editorial de Irineu “a defesa das causas nacionais, a crítica ao coronelismo e aos grandes trustes internacionais – como Lumber Corporation e Brasil Railway Co.”, portanto um opositor da política coronelista que apoiava a especulação do capital estrangeiro sobre o Brasil e que em 1945 fundou a UDN da qual o Wikipédia lembra ter como “algumas de suas bandeiras a abertura econômica para o capital estrangeiro”,  e que: “Após o Golpe Militar de 1964, muitos quadros da UDN migraram para a Aliança Renovadora Nacional”; é o Wikipédia que conta que “Com empenho pessoal e firme de Roberto Marinho4 , o Grupo Globo não apenas apoiou o golpe de Estado contra Jango, como também deu seu total apoio aos governos militares que se estabeleceram ao longo da ditadura militar brasileira.” (avalizada e escorada na mesma ARENA)

Se na biografia de Irineu o Wikipédia o demonstra como um nacionalista, vítima dos trustes internacionais, na do Roberto o denuncia como traidor dos ideais paternos e aliado dos algozes de Irineu. Um verdadeiro parricídio ideológico conforme se confere neste parágrafo: “Como na época não possuía o capital necessário para o novo empreendimento, Roberto Marinho se uniu ao grupo norte-americano Time-Life, para quem deu 49% de participação. O acordo com o grupo Time-Life representou uma injeção do equivalente hoje a US$ 25 milhões e mais assessoria técnica e comercial avançadas, que mais tarde seria transformada no chamado “Padrão Globo de Qualidade”. Embora o artigo 160 da Constituição brasileira de 1946 vetasse a participação acionária de estrangeiros em empresas de comunicação do país e um relatório de uma Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar o acordo concluiu que a Constituição fora de fato desrespeitada, tanto o procurador-geral da República, em 1967, quanto o presidente Costa e Silva, em 1968, avalizaram a operação como legal.”

Há diversas outras reiteradas afirmações do jornal O Globo e demais veículos da Organização sobre o fundador e seu filho desmentidas pelo Wikipédia, inclusive a constante conferição do título de Doutor ao Roberto Marinho.

Irineu, sim, é dignificado com a indicação de que “Desde cedo, demonstrou ser um aluno aplicado. Em 1891 ingressou no colégio de William Cunditt (Liceu Popular de Niterói) onde fundou o Grêmio Literário Sílvio Romero e os jornais A Pena e O Ensaio. No ano seguinte transferiu-se para o Liceu de Humanidades de Niterói anteriormente denominado (Liceu Popular de Niterói) e iniciou colaboração regular no jornal O Fluminense”.Depois, já na então capital do país, no Diário de Notícias (do Rui Barbosa), noA Tribuna, e no A Notícia (com Olavo Bilac e Arthur de Azevedo), trabalhou em jornadas de até 15 horas para sustentar os filhos. Seis ao todo, mas com o falecimento de uma filha no primeiro ano de idade, segundo o Wikipédia.

Já Roberto Marinho, metido com gente de duvidosa e questionável reputação, envolvida em desvios de dinheiro público, negociatas com o capital estrangeiro e até escândalos sexuais, como seus associados por todo o território nacional: Antônio Carlos Magalhães (BA), Fernando Collor de Melo (AL), José Sarney (MA), Jorge Zahran MS), Maurício Sirotsky (RS e SC), etc.; para ser o “colega jornalista” como o indicam os empregados da Globo, precisaria ter sido mais do que do que um copidesque e colunista social, jeito que Irineu encontrou de aproveitar as relações do filho com a elite carioca através de seus hobbys provas automobilísticas e pistas hípicas.

Colunista social, Ibrahim Sued, afamado como semianalfabeto, também foi, mas daí ou de copidesque a ser um real jornalista há grande distância e talvez por isso muitos considerem dúbio o jornalismo que nesse caso confirma o filho de Irineu como colega.  No entanto, é no título de Doutor que os apontamentos do Wikipédia tornam a coisa ainda mais dúbia ao relatar que Roberto: “Fez seus estudos primários em escolas públicas, depois estudou na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos Colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge, onde concluiu o ensino secundário em 1922”.

E para por aí!… Se Roberto Marinho abandonou os estudos aos 18 anos e só conseguiu concluir o secundário depois de passar por 4 instituições de ensino, não puxou a aplicação escolar do pai e não se tornou doutor de coisa alguma. A não ser que os empregados da Globo estejam contando com alguns Honoris Causa concedidos durante a ditadura militar em reconhecimento ou troca de préstimos e serviços de mútuo interesse. Se é a isso que se referem, como então deveriam indicar o brasileiro mais dignificado pelo mesmo título, entre outros de igual ou maior importância, em todo o mundo: o ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva?

Devidas, indevidas ou duvidosas, honrarias à parte, ainda mais suspeitoso é os dois principais veículos de informações do país – considerando que a internet tem batido as audiências das emissoras da Globo em todas as pesquisas – serem tão contraditórios a respeito de um único personagem que mal ou bem faz parte da história do nosso país.

Ou o Wikipédia não passa de um amontoado de mentiras, ou publicamente os Irmãos Marinho denigriram a imagem do avô ao afirmar na comemoração dos 90 anos da fundação do Jornal O Globo, que na publicação os valores se mantém os mesmos de 1925.

Manteve apenas o mesmo nome, mas a editoria corresponde aos ideais e valores de dois Marinhos totalmente diferentes. Inversos!

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