Irão utilizar todos os meios necessários à institucionalização do golpe

Por José Álvaro de Lima Cardoso.

A espinha dorsal do programa golpista, que está sendo colocado em prática, é uma espécie de vingança do capital financeiro contra os trabalhadores, especialmente os mais pobres. Esta política é composta por:

a) Diminuição agressiva do mercado de consumo de massas (Emenda Constitucional 95, já em vigor e outras medidas recessivas);
b) destruição dos direitos sociais e trabalhistas (Terceirização sem limites, reforma trabalhista, ambas em vigor);
c) destruição da Seguridade Social (PEC 287), que irão tentar votar em fevereiro/18;
d) desmonte da Petrobrás e entrega do pré-sal (em célere andamento);
e) entrega das riquezas naturais e das estatais estratégicas (em andamento através de uma série de ações);
f) liquidação de qualquer vestígio de Estado de bem-estar social. São dezenas de ações neste sentido, quase não se consegue acompanhar.

O Brasil hoje é um laboratório de testes de um programa ultra neoliberal, que fará o Brasil conhecer a pobreza como nunca aconteceu. É a aplicação da chamada “Terapia de Choque”, a qual implementam através de verdadeira “agenda de guerra”. Estão fazendo tudo muito rapidamente, como recomenda a tal Doutrina do Choque. Como não existe uma ditadura aberta (pelo menos por enquanto), todas as ações golpistas são operadas com base na mentira, que é derramada em profusão sobre a população. De qualquer forma, a democracia, apesar de ainda vigorar formalmente, já foi muito restringida, o que é uma inevitabilidade dos golpes de Estado, mesmo os chamados “brandos”.

A intensificação do ataque à soberania nacional se alastra para toda a América latina. Para entender o tabuleiro atual, é importante se reportar à crise mundial de 2008 que, com nuances em cada país, continua. Há dez anos, havia novidades importantes nesta parte do mundo. A América Latina, que era considerada um quintal dos EUA, estava em processo de mudanças, vários países vinham desenvolvendo políticas mais soberanas e a favor dos seus povos. Alguns países, naquele período (Bolívia, Chile, Brasil, Venezuela, Argentina, Equador) vinham adotando políticas desenvolvimentistas e melhorando a vida de suas populações, na contramão, inclusive, que ocorria nos países centrais do capitalismo mundial.

A região começava a combater a pobreza, investir na indústria, proteger mais suas riquezas naturais e reduzir sua subordinação aos países imperialistas, principalmente em relação aos Estados Unidos. A América do Sul toda vinha diversificando suas relações com o restante do mundo. O Brasil, por exemplo, desenvolveu uma linha diplomática chamada de “ativa e altiva” na qual priorizou a relação Sul-Sul e passou a investir no relacionamento com os vizinhos latino-americanos. O país se aproximou também de outros países fundamentais, fora do campo imperialista, através dos Brics, estreitando relações comerciais e diplomáticas, com alguns dos maiores inimigos dos EUA. Estas políticas desenvolvidas por países da América do Sul atingiram a América Central. Países que historicamente eram completamente servis aos EUA, e considerados por este, verdadeiros quintais, começaram a adotar políticas mais soberanas. Honduras, por exemplo, ingressou na ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), proposta lançada e liderada pela Venezuela.

O fato é que, passada uma década da crise de 2008, os governos populares da América do Sul perderam as eleições, ou estão sob fogo cerrado. A crise mundial levou o imperialismo a mudar suas estratégias e adotar políticas mais agressivas. Mesmo as políticas moderadas do governo democrático do Brasil (lei de Partilha, aproximação com China e Rússia via Brics, políticas de distribuição de renda e combate à fome) se tornaram insuportáveis para o imperialismo. Foi necessário também liberar completamente o acesso às fontes de matérias primas (água, minerais, petróleo) para as multinacionais. Como os golpistas não tiveram sucesso pela via eleitoral, em Honduras, Paraguai e Brasil, conduziram a aplicação de golpes, valendo-se da grande mídia, judiciário e da direita parlamentar desses países.

Os processos específicos variam a depender de inúmeros fatores, como posicionamento das forças armadas, nível de mobilização da sociedade, capacidade de reação do governo atacado, etc. Os golpes em Honduras, Paraguai e Brasil, foi como roubar doce de criança. No entanto, por exemplo, na Venezuela, país onde a população está relativamente organizada, os imperialistas encontram vigorosa reação. Para os vizinhos sul-americanos, o golpe no Brasil representou um duro retrocesso, em função da importância regional do País, nos aspectos políticos, econômicos e sociais.

O imperialismo vem aplicando golpes no mundo todo: Oriente Médio, América Latina, etc. Se conseguirem implantar até as últimas consequências no Brasil, as medidas recomendadas pelo Consenso de Washington para os países periféricos, isso deve influenciar toda a política na Região, em função do peso geopolítico do país. Quem comanda o golpe no Brasil é o imperialismo, que não está disposto a virar a página do golpe, ou admitir mesmo governos moderados, do campo popular. Sabem que o golpe no Brasil com esse grau de truculência é perigoso, porém querem garantir seus lucros e poder, de qualquer maneira. Não irão recuar diante de manifestações esparsas e eventuais do movimento sindical e popular. Irão utilizar todos os meios necessários à institucionalização do golpe: prisão de líderes populares, mudança do regime político (parlamentarismo), golpe militar se precisar. Por isso é um equívoco apostar todas as fichas nas eleições.

*Economista.

1 COMENTÁRIO

  1. Não concordo. Dentro do processo do GOLPE existem várias etapas várias batalhas. Vejo a garantia das eleições 2018 como um importante marco no cumprimento do estado democrático de direito. Uma vez violado esse direito o golpe tomará um curso perigoso. Por isso uma batalha por vez. E as eleições serão um divisor de águas especialmente se Lula não estiver na disputa.

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