Intercâmbio entre a periferia brasileira e argentina agita 1ª semana da Feira do Livro de Buenos Aires

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Lucas Amaral de Oliveira

Poetas puderam conhecer projetos culturais de bairros afastados do centro e trocar experiências; segunda turma de coletivos deve chegar hoje (por ontem) à capital portenha

Por Lucas Amaral de Oliveira.*

Desde a semana passada, saraus, intervenções musicais, lançamentos e debates promovidos por escritores da periferia de São Paulo ocorrem todos os dias no stand reservado à capital paulistana na 40° Feira Internacional do Livro de Buenos Aires (Argentina).

Na quinta-feira (1), aconteceu o último sarau que reuniu diversos coletivos da primeira turma de escritores periféricos que foram à Feira. Entre recitações poéticas e batucadas, os expectadores também tiveram a chance de presenciar um encontro memorável. O argentino Washington Cucurto, autor de “Coisa de Negros”, esteve com os escritores brasileiros Binho, Alessandro Buzo e Serginho Poeta para o lançamento de seus livros, em espanhol, pela editora Eloísa Cartonera.

As atividades também extrapolaram os muros de La Rural, centro de exposição reservado ao evento. Integrantes dos coletivos fizeram uma visita ao conjunto habitacional Piedrabuena, impressionante realização arquitetônica construída em Villa Lugano, sudoeste de Buenos Aires. Lá, puderam trocar experiências com os responsáveis pelo espaço e conheceram seus projetos culturais.

Nesse bairro periférico ainda cheio de estigmas, por exemplo, – onde se encontra o conhecido edifício Elefante Branco –, dois jovens moradores, Pepi Garachico e Luciano Garramuño, coordenam um projeto dentro de um galpão ocupado há mais de oito anos. Ali, onde antes funcionava o depósito abandonado do Teatro Cólon, cresceu um espaço cultural que está transformando a vida de muita gente e a identidade do local. “Nesses arrabaldes, há um antes e um depois de Piedrabuenarte, pode-se dizer, pois nosso objetivo sempre foi revolucionar, pela arte e pela resistência, a dinâmica sociocultural daqui”, afirmam os jovens.

A troca de experiências resultou na realização de um sarau dentro do conjunto habitacional. “Foi um evento impactante para ambos os lados, e essa atividade poética em Piedrabuena foi um fato importantíssimo para nós, para o bairro como um todo”, afirmou Garramuño.

O “Centro Universitario Devoto”, situado no Complexo Penitenciário Federal da Cidade de Buenos Aires, também recebeu de braços abertos, na última quarta-feira (30), alguns poetas brasileiros. Guiados pela pesquisadora Lucía Tennina, os coletivos realizaram uma oficina de leitura e conversaram sobre a produção literária independente.

“Sarauzão” e La Cazona de Flores

Na semana passada, com a participação de vários coletivos, a atividade, que ficou mais conhecida como “sarauzão”, não seguiu as apresentações de praxe. A revoada de declamações poéticas (performáticas, musicais, cênicas) acalorou tanto o ambiente que houve problemas com a organização, por não se tratar de uma apresentação habitual. No entanto, sob a batuta do poeta Binho, a poesia reinou durante horas e tudo terminou com uma grande ciranda.

Na quinta-feira (30), o mesmo esquema foi replicado por ocasião da visita dos escritores à La Cazona de Flores, espaço autônomo e autogestinário compartilhado por diversos coletivos locais. Ao fim do encontro, os poetas paulistanos realizaram um sarau musical junto com companheiros latino-americanos até o fim da madrugada, ponderando recitações poéticas, rap, cocos e cirandas.

Reciclo de Poesia e Eloísa Cartonera

A invasão poética em Buenos Aires também alcançou a zona nordeste da região metropolitana, quando os poetas visitaram, neste sábado (3), o Reciclo de Poesia, um tipo de sarau portenho em que o microfone fica aberto para que todos os apaixonados pela literatura recitem.

Os coletivos ainda alcançaram os limites do sudeste da capital argentina, ocasião em que alguns escritores, acompanhados por Washington Cucurto, visitaram a editora popular Eloísa Cartonera. Cucurto é referência na América Latina não só por suas obras sobre as minorias sociais. Ele ajudou a criar e, hoje, é um dos dirigentes da Cooperativa Editorial Eloísa Cartonera, no bairro de La Boca.

Trata-se de um projeto social que publica, a partir de um processo artesanal, autores latino-americanos em papelão comprado dos catadores informais da capital argentina, denominados “cartoneros”. Os artistas brasileiros visitaram o projeto, conheceram a confecção de livros da editora – que já conta com mais de 200 títulos – e realizaram um sarau na calçada, a poucos metros do lendário estádio de La Bombonera.

Nesse domingo (4), a primeira leva de escritores disse adeus à Buenos Aires, mas outras dezenas deles devem pousar na capital portenha nesta-segunda-feira (5) para dar continuidade às atividades. Entre os coletivos que chegam hoje estão Sarau Perifatividade, Sarau da Brasa, Elo da Corrente, O que Dizem os Umbigos, entre outros.

*De Buenos Aires (ARG).

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/28371

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