Imagem do descaso com a memória de Florianópolis

Por Celso Martins.*

Edificação do século 18 foi Casa de Câmara e Cadeia mas virou Casa do Papai Noel e da Mãe Joana.

É criminoso o que estão fazendo com o prédio da antiga Casa de Câmara e Cadeia, edificação do século 18, imponente, centro dos principais acontecimentos do Estado por mais de dois séculos, situada no coração de Florianópolis, ombreando com a Catedral Metropolitana e o Palácio Cruz e Souza.
Na tarde da última sexta-feira (29.12) um grupo de turistas se reuniu curioso em frente ao imóvel, cercado por tapumes, com placas indicando processo de restauração. Na parte da frente e na lateral da rua Tiradentes, quatro ninhos de joão-de-barro são claros indicadores do abandono. Uma pomba defecando sobre a casinha do pássaro simboliza a importância dada a esse importante patrimônio da cidade.
Três janelões abertos no meio da semana, coincidindo com a chegada de uma onda de calor, indica um local habitado por alguma alma e ou almas desamparadas ou maliciosas. Um turista comentou que “se chover vai encharcar tudo lá dentro”, disse, lembrando a previsão de muita chuva e completa perguntando “como deixaram chegar nesse ponto?”

Thomaz
Bem, foi difícil explicar que o prédio ocupado pela Câmara Municipal foi Imagem do descaso com a memória da cidade. Detalhe do prédio da antiga Câmara, edificação dos anos 1770.. Foto: Celso Martins (28.12.2012)abandonado em 2006 e deixado sob os cuidados da Prefeitura Municipal. A invés de passar por uma restauração e posterior uso cultural e turístico, se tornou “Casa do Papai Noel” e assemelhados, sub-utilizado, recebendo pregos nas paredes externas e internas, faixas, cartazes e outros adereços. Intervenções promovidas por deslumbrados com o poder, seguindo padrões estéticos de gosto duvidoso mas de grande sucesso entre os das espécie “novus ricus”.
Como a conversa ia chegar a searas outras, segui a trilha da importância daquele patrimônio. Lembrei as informações obtidas no Figueira prospera com abandono oficial. Foto: Celso Martins (28.12.2012)livro1 da professora Sara Regina Poyares dos Reis sobre o tema. O edifício foi projetado e construído por Thomaz Francisco da Costa, açoriano da Ilha do Faial nascido por volta de 1723, tendo chegado à Ilha de Santa Catarina com a grande leva imigratória dos Açores entre 1748 e 1756.

Fachada
No início do século 20 sua construção sóbria ganhou adornos do ecletismo em moda, assemelhando-se ao então Palácio do Governo, Imagem do descaso com a memória da cidade. Detalhe do prédio da antiga Câmara, edificação dos anos 1770.. Foto: Celso Martins (28.12.2012)feição mantida até hoje. Foi usado pela Câmara nos tempos em que tinha atribuições de Executivo, além do Legislativo, um espaço compartilhado durante décadas pelos dois poderes (Câmara e Prefeitura, surgida no século 20).
Os turistas com seus olhos arregalados escutavam a narrativa entre encantados e atônitos. Alguns tiraram fotografias, outros se movimentaram para observar as laterais do prédio. Eles se despediram, seguindo na direção da Catedral, deixando para trás a imagem do descaso e da incompetência oficiais, o desleixo com nossa memória, o abandono dos marcos físicos e imateriais de nossa História.

Por outro lado
O restauro da edificação de 1854 na Ponta do Sambaqui que serviu de Posto da Alfândega de Florianopolis (e seu Porto), talvez tenha sido a única intervenção positiva no patrimônio histórico-arquitetônico da cidade na última década. Sede da Associação do Bairro de Sambaqui (ABS), conhecido por Casarão da Ponta, o imóvel ainda passa por obras em um anexo na parte dos fundos. Além de sede da ABS, abriga a Cooperativa de Rendeiras de Sambaqui e um grupo de artesãos locais.

1 – POYARES DOS REIS, Sara Regina. A Casa de Câmara e Cadeia da

Antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro. Sua História. Florianópolis: Papa-Livro, 2008.

*Celso Martins é jornalista editor do Portal de Notícias Daqui na Rede, bacharel e licenciado em História (Udesc, 2007), residente em Sambaqui.

Fonte: Daqui Na Rede

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