Imagem do Brasil no mundo passou de 81% positiva a 85% negativa em 7 anos

A imagem do Brasil na mídia estrangeira alternou do seu ponto mais positivo ao mais negativo em apenas sete anos, segundo um levantamento realizado desde 2009 pela agência de comunicação Imagem Corporativa (IC).

A reportagem é de Daniel Buarque, publicada no blog Brasilianismo, 27-09-2016.


Depois de atingir o patamar de 81,1% de notícias de teor positivo nos principais veículos da imprensa internacional no fim da década passada, neste ano o Brasil aparece com enfoque negativo em 85,5% nas reportagens estrangeiras que citam o país.

O dado faz parte de um livreto da IC, divulgado neste mês, que faz um balanço sobre as oscilações do país e da sua imagem ao longo da última década. O trabalho é um resumo do que a agência costuma produzir na pesquisa ”I See Brazil”, que busca medir as percepções externas em torno do país a partir do que se lê na mídia estrangeira e do que falam especialistas no assunto.

”Um levantamento da Imagem Corporativa que acompanha a imagem do Brasil no exterior desde 2009 mostrou que, naquele ano, 80% das reportagens publicadas sobre o país nos principais veículos da imprensa estrangeira eram positivas. Esse percentual passou para 81% no ano seguinte – ponto alto da exposição favorável da mídia estrangeira ao Brasil. A queda começaria em 2013, quando o percentual caiu para 65%. No ano seguinte houve a reversão: 56% das reportagens publicadas sobre o país eram negativas. Tal percentual cresceria para 72% em 2015 – invertendo completamente o quadro observado poucos anos atrás”, diz o trabalho. O levantamento mais recente, do primeiro semestre deste ano, mostra que 85,5% das reportagens sobre o Brasil eram negativas.

A oscilação da reputação internacional do país já havia sido abordado pela edição mais recente do livro “Brazil, um País do Presente – A Imagem Internacional do ‘País do Futuro’”, escrito pelo autor deste blog Brasilianismo, lançada no ano passado.

A partir de trabalho de reportagem e de estudos de nation branding, competitive identity e diplomacia pública, o livro mostra que a imagem do Brasil mudou de forma surpreendentemente rápida e radical ao longo da última década. Ali vê-se que em 2010, a palavra “euforia” era a que melhor representava a forma como o mundo via o país em seu momento “bola da vez”. Hoje, tudo mudou, e a desconfiança tomou conta das interpretações estrangeiras sobre o país. Depois da euforia, veio a depressão.

Uma década de altos e baixos

O livreto sobre a oscilação brasileira ao longo da década aponta como a economia e a política evoluíram e depois perderam o rumo. Fala sobre como o Brasil impulsionou sua imagem como parte dos ascendentes BRICs e depois dos ”cinco vulneráveis”. Trata ainda do quanto o governo Lula aproveitou a instabilidade na região para promover a imagem do país.

Mostra que, como seria natural, a imagem do país reflete o que acontece de fato dentro dele. E, se o Brasil passou por uma oscilação política econômica tão grande, isso acaba sendo sentido por sua reputação internacional.

”Em tão pouco tempo, o país iniciou uma trajetória ascendente, na qual assistiu à melhoria de seus indicadores econômicos e sociais, aumentou seu grau de protagonismo na arena mundial e sediou dois eventos esportivos internacionais. E também testemunhou a deterioração desses mesmos indicadores econômicos e sociais, ingressou em uma crise política sem precedentes nas últimas décadas e presenciou pela terceira vez em menos de 30 anos a posse de um vice-presidente no lugar do titular escolhido pelo voto.”

Após um panorama da história recente do país, o trabalho do IC apresenta sua pesquisa mais interessante e original – a respeito do protagonismo internacional do país.
”Assim como na economia e na política, a percepção externa em torno do Brasil também teve seus movimentos mais expressivos – positiva e negativamente – ao longo desses dez anos”, diz,

”Um importante ponto desse período foi o fato de o governo brasileiro ser visto no exterior – especialmente pelos EUA tanto de George W. Bush quanto de Barack Obama – como um contraponto ao bolivarianismo”, diz.

Mais uma vez, avaliação semelhante pode ser lida no livro ”Brazil, um país do presente”, em que mostro como a imagem do Brasil conseguia melhorar a partir da comparação com outros países. Isso valia também em relação aos BRICs, já que, mesmo crescendo menos do que os outros, o Brasil era visto como menos corrupto e mais democrático do que a Rússia e a China, e menos pobre do que a Índia.

Segundo o livreto da IC, 2007 é o ano emblemático da alta da imagem do país: Ali, o país ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo e encontrou reservas de petróleo do pré-sal, abrindo caminho para, nos anos seguintes, se tornar ”investment grade” e ser escolhido para sediar os Jogos Olímpicos. A crise financeira global, em 2008, impulsionaria ainda mais a imagem do Brasil, que sobreviveu sem grandes abalos enquanto as maiores economias do mundo tremiam. O Brasil ”seria visto como um exemplo de resiliência em um momento desafiador”, diz.

A euforia internacional, que cresceu tão rapidamente, também não duraria muito tempo, entretanto. ”Assim como se tornou consensual em pouco tempo, essa imagem positiva do Brasil foi rapidamente desconstruída”, diz.

Isso começou em 2013, segundo a IC, com os primeiros indicadores negativos da economia e o início dos protestos contra a política brasileira (incluindo governos locais e o federal).

”É irônico notar que, no momento em que o Brasil exibia um dos pontos altos conquistados na década passada – a realização da Copa do Mundo de Futebol, em junho de 2014 – o país já começava a ser visto com desconfiança lá fora”, diz.

Com as crises do ano seguinte, chegou o ponto a virada da imagem internacional do Brasil, que passou a ser majoritariamente negativa.

Apesar do mau momento atual e das crises, no país e em sua imagem internacional, o trabalho da IC alega que não há motivo para desespero. ”O Brasil enfrentou crises muito mais severas em sua história recente, e certamente superará as dificuldades atuais – com o benefício das lições aprendidas nesses últimos dez anos”.

Fonte: IHU.

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