Iêmen: uma crise esquecida

Foto: Awadh Mohammed Basaleh

Por Iqra Mobeen Akram, traduzido por Gabriel Deslandes.

De acordo com o Índice de Estados Frágeis 2018 (FSI), o Iêmen é o terceiro país mais frágil do mundo, tendo ficado em quarto lugar no ano passado. E a questão que surge é: estamos esperando que a situação dos iemenitas se torne ainda pior do que essa? As organizações de direitos humanos e a comunidade internacional tomarão medidas urgentes para acabar com o ciclo de violência e a crise humanitária deplorável?

Em dezembro, a ONU informou que mais de oito milhões de pessoas estavam à beira da inanição no Iêmen. E para acrescentar isso, os esforços humanitários foram obstruídos. Milhões de pessoas foram deslocadas. Enquanto o custo humanitário não é acentuado o suficiente, uma revisão do 201SI FSI indica, contudo, a necessidade crítica de conter a crise antes que ela se torne outra Síria.

Geograficamente falando, o Iêmen é o segundo maior país da Península Arábica, fazendo fronteira com o Mar Vermelho, Omã e Arábia Saudita. Entretanto, é um Estado à beira do colapso. Apesar de ser um ponto de comércio histórico, o Iêmen é um dos Estados mais subdesenvolvidos do Oriente Médio. A presença de Bab al-Mandeb e do Mar Vermelho se tornou uma maldição para os iemenitas?

Para entender a crise do Iêmen, é importante saber como tudo começou. O estágio atual da crise remonta à política do Iêmen, provocado pelo impacto da Primavera Árabe em 2011. De modo geral, a mudança de poder do antigo presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh para o deputado Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi é vista como uma das causas do aprofundamento da instabilidade no Iêmen.

Para muitos, a pressão no Iêmen foi se acumulando contra o presidente incumbente, que esteve no poder por mais de 20 anos. Consequentemente, Saleh foi forçado a renunciar em 2012, e um novo governo foi formado pelo vice-presidente Hadi. A resistência dos houthis, no entanto, agravou o cenário de segurança, além da presença de atores não-estatais, bem como baixas por parte do novo governo.

Internamente, o combate está divido principalmente entre as duas partes: os rebeldes houthis e o governo. Todavia, o papel dos Estados Unidos, o Reino Unido, o Reino da Arábia Saudita e o Irã em nível internacional e regional não pode ser ignorado. O fornecimento de armas por parte do Reino Unido, Irã e Arábia Saudita ao Iêmen também foi relatado por muitas fontes. A crise no Iêmen entrou em uma fase crucial em 2015, com o apoio ativo dos EUA à coalizão liderada pela Arábia Saudita e os ataques com mísseis pelos houthis. Inicialmente, a coalizão liderada pela Arábia Saudita alegou ter como alvo as armas oriundas da era soviética; porém, o crescente número de mortes de civis coloca um ponto de interrogação na posição oficial das partes – tanto dos houthis como da coalizão saudita, para ser franco.

Embora a declaração do secretário de Estado dos EUA sobre o papel iraniano seja significativa, uma vez que criticou explicitamente o apoio iraniano às forças da procuração e das milícias no Oriente Médio, ele não acelerou os esforços de paz no Iêmen. Não deveria ser considerado um sinal sombrio para o futuro do Iêmen? Não é motivo de preocupação para os defensores da paz e estabilidade no Oriente Médio?

Apesar da relevância dos pontos comerciais geoestrategicamente importantes no Iêmen esteja associada ao passado otomano, assim como na Turquia, isso não significa que Ancara possa desempenhar um papel para resolver o conflito. Uma pergunta pertinente a ser feita é: a Turquia agiu de forma construtiva na Síria ou agravou a crise? Então, o que fará de Ancara um ator viável para mediar ou acabar com o conflito? Mais ainda, a tentativa da Turquia de expandir sua influência no Iêmen sofreu um forte golpe em 2014, quando as forças houthis assumiram o controle da capital Saná.

Além da política sectária geralmente sublinhada, a escassez de água prejudicou os iemenitas antes do conflito. A questão da escassez, muitas vezes, não é objeto de destaque, atingindo a uma escala perigosa. O nível das águas subterrâneas foi reduzido a tal ponto que o processo de gestão dos recursos hídricos será difícil. Mais de um milhão de pessoas não têm acesso a água potável. Da mesma forma, a destruição implacável da infraestrutura danificou o sistema de esgoto. Isso, por sua vez, contribuiu para a epidemia de cólera. Aproximadamente um milhão de iemenitas foi afetado pela cólera no ano passado. Portanto, há uma necessidade de ressaltar o custo humanitário do conflito e não apenas vê-lo estritamente do ponto de vista da rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã.

Tendo em conta a destruição sistemática das infraestruturas no Iêmen, a eclosão da cólera, bem como a miríade de desafios à segurança humana, é imperativo conter a crise iemenita, bem como a turbulência regional.

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