Ibeyi e a árvore de Ténéré

Por Gabriela Farrabrás

Ibeyi, deusas existem e caminham entre nós, é essa a impressão que me fica sempre que vejo as gêmeas franco-cubanas ao vivo, foram apenas duas vezes, mas foram duas experiências maravilhosas.

Ibeyi é o nome em iorubá de figuras gêmeas, algo como o nosso São Cosme e Damião, e é também o nome da dupla formada pelas irmãs gêmeas Naomi Diaz e Lisa-Kaindé Diaz, nascidas em Cuba e criadas em Paris.

Para mim, sempre tão acostumada às palavras é difícil descrever o que é a música dessas duas mulheres; cantando em espanhol, inglês, francês e iorubá sob batidas eletrônicas, tambores, teclado e as próprias vozes, que são por vezes como instrumentos, elas fazem algo completamente novo e mágico.

Seu primeiro disco intitulado também Ibeyi foi lançado em 2015 e já trazia obras primas como RiverStranger/Lover e a mais emocionante de todas, sem sombra de dúvida, Mama Says, em homenagem ao pai falecido que fez parte da banda cubana Buena Vista Social Club.

No ano passado em 2017 as gêmeas lançaram seu segundo disco intitulado Ash com verdadeiros hinos como DeathlessI wanna be like you e a belíssima Transmission/Michaelion que ganhou hoje um belíssimo clipe.

A música com participação de Meshell Ndegeocello, que carrega em si a voz da mãe das gêmeas, Maya Dagnino lendo Frida Kahlo e sua mais famosa frase “pra que quero pés se tenho asas para voar”, é sobre resiliência e resistência e isso não poderia ser mais belamente traduzido do que foi nesse clipe, que é uma obra de arte.

O clipe mostra Naomi e Lisa cantando sobre a imagem de uma árvore, que resiste a todas as mudanças de tempo por anos e anos, sozinha; essa árvore é conhecida como a árvore de Ténéré, uma acácia nascida no deserto do Sahara, quando esse era verde, de todas as acácias apenas uma sobreviveu. A árvore mais solitária do mundo com 10 pés de altura, a única sombra natural em um raio de 402 km; sua sobrevivência é um milagre, e por isso foi considerada um lugar sagrado, um símbolo da vida. Uma promessa foi feita, os nômades que cruzam o deserto do Sahara em sua peregrinação trabalhariam juntos para garantir que a árvore nunca ficasse sozinha; e assim foi, nenhum galho nunca foi cortado ou algum camelo se alimentou dela. Por 300 anos a árvore de Ténéré esteve sozinha relembrando um antigo Sahara verde. Mas essa história não teve um final feliz, de alguma forma a árvore foi atropelada por um veículo, um motorista bêbado e perdido; em um instante, um único ato descuidado acabou com uma ligação através do tempo – uma história tão profunda plantada no deserto e no coração de gerações que dividiram essa história. O vídeo termina desejando “vida longa a árvore de Ténéré”, vida longa a sua mensagem.

Mas confesso que falar do disco ou dos clipes, apesar de transmitir a beleza que essas gêmeas estão produzindo não vai demonstrar a metade da beleza do que é o show dessas mulheres, apenas as duas dominando o palco inteiro, toda a plateia e produzindo um som que não fica nada a dever a qualquer coisa produzida em estúdio. Muitos portais traduzem a música delas como uma música sobre resiliência e resistência – como já dissemos -, e isso parece imensamente correto de se dizer!

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