Historiador Laurentino Gomes aponta elo entre Nossa Senhora Aparecida e escravidão

"Não por coincidência o maior território escravista do Hemisfério Ocidental tem como padroeira uma santa negra", diz o historiador

Foto: Reprodução/Twitter

Por Luisa Fragão.

No dia em que se comemora o dia da Nossa Senhora Aparecida, santa padroeira do Brasil, o jornalista Laurentino Gomes, autor da trilogia “1808”, “1822” e “1889”, foi às redes sociais nesta segunda-feira (12) para apontar o elo entre a história da santa e a escravidão.

De acordo com ele, o “resgate” de Nossa Senhora por pescadores pode ter sido protagonizado por indígenas e negros escravizados do século 18. “Não por coincidência o maior território escravista do Hemisfério Ocidental tem como padroeira uma santa negra”, afirma o jornalista em publicação no Twitter.

“Em 1717, ano da pesca milagrosa de Aparecida, a corrida do ouro no Brasil estava no auge”, conta. Naquele ano, a Câmara de Santo Antônio de Guaratinguetá, em São Paulo, decidiu homenagear um conde que havia acabado de chegar no Brasil.

“A câmara decidiu homenageá-lo com um banquete que incluía pratos de peixes. Entre os pescadores que saíram da fazenda do capitão José Correia Leite, na vizinha Pindamonhangaba, estavam João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso”, afirma o historiador.

“Foram esses trabalhadores que, ao lançar suas redes, pescaram – primeiro o corpo, depois a cabeça – a imagem enegrecida de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, depois rebatizada como Nossa Senhora de Aparecida. Seriam eles homens escravizados? Provavelmente, sim”, continua. Naquela época, segundo Laurentino, a pesca no Brasil era uma atividade desempenhada especialmente por indígenas ou negros escravizados.

O jornalista aponta ainda outro episódio que também evidencia o elo entre Nossa Senhora Aparecida e a escravidão.

“Um dos primeiros milagres de Aparecida teria sido a libertação de um escravo, Zacarias. Fugido de uma fazenda no PR, ao ser recapturado no Vale do Paraíba, Zacarias fez um pedido ao capitão do mato. Queria rezar aos pés da santa negra. Quando se ajoelhou, as correntes se partiram”, conta.

O estudo completo sobre o tema estará no segundo volume da trilogia “Escravidão”, que será lançado pelo autor na Bienal do Rio de Janeiro em 2021.

Confira:

 

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