Henry Ramos Allup, o novo síndico da Venezuela

Por Raul Fitipaldi, com informes de Guido González e colaboração de Tali Feld Gleiser.

Henry Ramos Allup fez o juramento como Presidente da nova Assembleia Nacional da República Bolivariana da Venezuela no dia 5 de janeiro passado, acompanhado pelo encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no país. De tal forma, o advogado, nascido em 1943, em Valencia, estado de Carabobo, secretário geral do partido Ação Democrática (democrático, mas golpista em 2002 e outras vezes também), forma parte da MUD (Mesa da Unidade Democrática), a aliança de oposição ao Projeto Bolivariano alicerçado por Hugo Chávez e hoje encabeçado por Nicolás Maduro e Diosdado Cabello. A MUD surge como expressão política de reiteradas tentativas de desestabilização do chavismo, por via de golpe frustrado, violência nas ruas e sabotagem petroleira e informativa. Henry é líder de uma mudança de estratégia que, repetindo ações que já usou o imperialismo contra Salvador Allende, deram frutos: açambarcamento de produtos de primeira necessidade, medicamentos e outros bens de uso diário que, por sua falta, terminaram por irritar o eleitorado venezuelano, que passou meses a fio fazendo filas infinitas em busca do que é básico num lar. Sem respostas contundentes o eleitorado deu lugar ao triunfo da direita na Assembleia Nacional.

Henry Ramos Allup demonstrou sem pudor no momento mesmo do juramento, com seu amigo norte-americano o tutelando presencialmente, a que veio à Assembleia Nacional que hoje preside. A maioria da Assembleia Nacional da Venezuela passou, da noite pro dia, a ser um escritório do que Fidel Castro denominou o Ministério de Colônias ianque, vulgo OEA, secretariada no presente pelo traíra da Frente Ampla uruguaia, Luis Almagro.

quadro Hugo

A ofensiva política do novo aríete dirigido por Henry não se fez esperar. O primeiro ataque foi contra os símbolos da Revolução Bolivariana. Não casualmente é a mesma tática praticada pela ‘ditadura democrática’ de Maurício Macri na Argentina. Henry mandou tirar os quadros de Simón Bolívar (sim, nada menos), do Comandante Chávez e do Presidente Nicolás Maduro de todas as dependências da Assembleia Legislativa. Demonstração simbólica clara do que se propõe a nova legislatura sob o mandato deste senhor, elegido como presidente da Assembleia para o período 2016/2021.

Antes do primor simbólico da retirada dos quadros, Henry Allup permitiu que se juramentassem 3 deputados cuja vitória eleitoral foi, provadamente, viciada de irregularidades segundo a magistrada do Supremo Tribunal de Justiça, Luisa Estella Morales, que advertiu que isto é um desafio ao estado de direito na Venezuela. Henry então cometeu seu primeiro ato de insubordinação e desacato às leis. Henry é advogado e conhece a lei, mas o que lhe importa desde que chegou com o adido ianque à Assembleia é demonstrar que tem o poder, e o poder dele representa os 14 partidos que formam a aliança da direita pró-ianque, a MUD. Um Macri legislativo que passa por cima da Lei. As coincidências continuarão nos futuros dias.

Henry é conhecido do Império de longa data e assim o confirmam informações filtradas por Wikileaks, onde a embaixada dos EUA na Venezuela o perfilava assim: Allup “em lugar de cortejar os votantes venezuelanos, tem como estratégia principal tentar conseguir ajuda da comunidade internacional”. O leitor sabe o que é a comunidade internacional à qual se referem os dados filtrados, essa que tem sede em Miami e no Partido Popular Ibero-americano liderado por José María Aznar e seus sequazes regionais. Outros informes infiltrados por Wikileaks também dão conta das ‘ajudas’ financeiras que Henry recebeu dos Estados Unidos.

O presidente legislativo Allup se espelha num personagem tenebroso da política caribenha, Manuel Rosales, aquele que assinou o decretou de posse do Carmona Stanga, “o breve”, ditador por umas horas durante a detenção de Hugo Chávez no Golpe frustrado de 2002. Sua parceria inclui na mesa da MUD outro personagem temível, o candidato neoliberal bonitão, uma mescla de Macri e o mexicano Peña Nieto, Henrique Capriles Radonski que, mais novinho, foi um dos que assediou a embaixada cubana no dia do golpe frustrado. Um Aécio à venezuelana, só que mais corajoso. Outro sócio político conjuntural de Henry é o delinquente político Leopoldo López que criou seu próprio partido, Voluntad Popular, e que junto com a diva da oposição, María Corina Machado, assinou o documento de insurreição contra o governo chavista, conhecido como A Saída. Todos eles financiados, dentre outros por instituições de intervenção norte-americana como a Fundação Nacional para a Democracia (NED por suas siglas em inglês) e a famigerada USAID, expulsa da Bolívia por tentativas golpistas contra Evo Morales, fato já denunciado há muito tempo pela advogada e comunicadora norte-americana, Eva Golinger.

Voltemos ao novo síndico dos Estados Unidos na Venezuela. Assim que formalizou a Diretoria da casa legislativa, Henry manifestou abertamente, sem rubor nem pudor, sua intenção de acabar com o governo legítimo e democrático de Nicolás Maduro em seis meses. Ou seja, está disposto a criar o caos no país, pois esta medida não será aceita benevolamente pelos seguidores do chavismo, podendo criar uma virtual guerra civil que daria margem à “intervenção humanitária” estrangeira. O roteiro de Honduras, Paraguai, Argentina e Venezuela está escrito pelas mesmas mãos. O que não der pelo voto vai pela imposição. Aliás, é bom que não usemos mais a categoria imposta desde os intelectuais dos Estados Unidos de “golpe brando”, não existe golpe brando, golpe é golpe, seja ela como for desenhado e praticado.

Este é um rápido perfil breve de Henry Ramos Allup, veterano, gozador e conservador, que resurgido do desterro político preside a nova Assembleia Nacional da Venezuela e atua como novo síndico ianque no país. O homem que tratou numa entrevista internacional Chávez e Maduro de pseudo líderes políticos. Que acusou em particular a Chávez de ter profanando a imagem de Bolívar por via de um computador (se refere ao quadro feito seguindo orientações científicas que recupera a imagem aproximada de como teria sido a fisionomia de Bolívar), uma estupidez proposital. Henry pediu que levassem o retrato de Chávez ao cemitério ou que o pessoal da limpeza tomasse conta, mas que o tirassem de lá. Medo de fantasmas?

O povo venezuelano resgatou os quadros de Bolívar, Chávez e Maduro e fez atos públicos de repúdio contra Henry. Resgatará a democracia posta a risco por sua própria decisão, resuscitando os personagens nefastos da IV República, para mal da Venezuela e de toda a região?

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