“Golpe em gestação” por petróleo da Venezuela, diz embaixador no Brasil

moleroPor Marina Terra.

O embaixador da Venezuela no Brasil, Diego Molero, entra em seu escritório, na embaixada venezuelana em Brasília, segurando dezenas de cópias de montagens feitas com fotografias, disseminadas pela web. “Veja: essas fotos não foram tiradas na Venezuela, mas em países como Egito, Chile e até o Brasil”, fala, enquanto passa as páginas, antes de começar a entrevista exclusiva com Opera Mundi.

Ele lamenta o que o governo venezuelano classifica de “guerra midiática” e critica informações disseminadas por meios de comunicação de seu país e internacionais, que acusam o presidente Nicolás Maduro de reprimir manifestantes e não permitir a liberdade de imprensa. “Se há um país, se há um governo, que realmente respeitou, respeita e continuará respeitando os direitos humanos de sua população, é o venezuelano”, diz.

O diplomata, com uma carreira militar de mais de 35 anos, recebeu Opera Mundi para comentar a atual onda de violência na Venezuela, desatada após três pessoas morrerem e mais de 60 ficarem feridas durante uma manifestação da oposição em Caracas, em 12 de fevereiro. Na conversa, repudiou a ação do que chama de grupos radicais, liderados principalmente pelo dirigente opositor Leopoldo López, do partido Vontade Popular, detido nesta terça-feira (18/02).

Segundo ele, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe e os Estados Unidos estão por trás dessas ações violentas, sendo que o objetivo principal é a posse do petróleo venezuelano. De acordo com a Opep (Organização do Países Exportadores de Petróleo), a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, com 296,5 bilhões de barris em seu solo. “Sabemos que temos mais de 120 anos de petróleo e os EUA, 20, e essa é uma realidade que eles visualizam”, salienta.

Ministro da Defesa de outubro de 2012 a julho de 2013, período marcado pelo retorno do presidente Hugo Chávez a Cuba para se tratar de um câncer e, depois, seu falecimento em 5 de março do ano passado, Molero garantiu que as forças armadas da Venezuela estão preparadas para uma eventual situação de quebra da ordem constitucional. “Hoje temos uma força armada humanista, que é do povo, e para o povo, e está estabelecida para apoiar seu povo”, sublinha.

Opera Mundi: Muitos meios de comunicação e a oposição estão acusando o governo venezuelano de reprimir com violência as manifestações no país. O que está acontecendo na Venezuela e quem está por trás dos protestos?

Diego Molero: Se há um país, se há um governo, que realmente respeitou, respeita e continuará respeitando os direitos humanos de sua população, é o venezuelano, dirigido pelo nosso presidente Nicolás Maduro Moros e todos os funcionários lá. Esse é um legado do nosso comandante Hugo Chávez Frías. Eu posso te dizer, como anunciou o presidente, que o que está acontecendo na Venezuela nada mais é do que um golpe de Estado em gestação. Um golpe de Estado liderado por membros radicais da oposição.

Na oposição ao governo venezuelano há pessoas dignas, respeitáveis, que vêm fazendo sua política enquadrados no que está na Constituição, suas leis, regulamentos. Mas há pequenos grupos radicais, entre esses o de Leopoldo López e outros personagens, apoiados por Álvaro Uribe e por outros elementos que querem que a revolução acabe, apoiados principalmente por meios de comunicação internacionais que tergiversam a verdade.

Um grupo de estudantes brasileiros veio até a embaixada pedir que os diretos humanos dos estudantes seja respeitado e, foram embora, além de contentes [com o diálogo], indignados por ver como os meios de comunicação internacional os têm enganado.

Quando os meios fazem montagens, com fotografias, não estão desrespeitando somente o leitor, mas o povo venezuelano. O que esse lacaios do império norte-americano nada mais fazem é usar o dinheiro que lhes dão para alcançar o poder por interesses não humanistas. O interesse, realmente, é o grande potencial energético que a Venezuela tem e, assim como os EUA fizeram em outros países petroleiros do mundo, querem fazer lá.

Quando escutamos um personagem como Leopoldo López, que convoca os manifestantes a provocar ações hostis, até que o governo saia…

Eu quero dizer ao mundo inteiro que o meu país é um país democrático, que se guia pela Constituição. Se o povo venezuelano, e aqueles políticos conscientes, querem chegar ao poder, aí está o jogo político democrático, através das eleições. Quando eu convoco um povo, um grupo muito específico, a que tome ações contra o governo até que ele saia, o que estou pedindo? Ações fora do contexto constitucional, um golpe de Estado.

Esse senhor Leopoldo López nada mais é do que um golpista, um ressentido, que obteve toda essa fortuna por meio de sua família, do que era a empresa petroleira. Hoje ela é uma empresa que utiliza seus dividendos para o povo, para ações sociais. Eles querem pôr as mãos no que já não é deles e, de fato, não estão buscando as vias constitucionais, mas uma via golpista. Esse elemento está sendo apoiado por Álvaro Uribe e pelo governo imperialista dos EUA.

OM: A oposição também fala de presos políticos.

DM: Quando escutamos o subsecretário adjunto para a América Latina do Departamento de Estado Alex Lee, seus comentarios feitos a nosso embaixador Roy Chaderton [embaixador da Venezuela na OEA], onde ele diz que a Venezuela deve soltar os presos. Quais presos? Esses são presos que foram submetidos à autoridade, à justiça venezuelana, porque assassinaram alguns, são criminosos, assassinos, que destruíram bens dos Estado, da municipalidade e provocaram outros danos. Se é verdade que no dia 12 [de fevereiro] uma grande manifestação de um grupo de estudantes que livremente foram fazer pedidos ao governo, também é verdade que um pequeno grupo, que é pago por esses políticos ultra-radicais de direita, foram chamados a cometer atos violentos. E o que fizeram? Queimaram a Promotoria, destruíram carros. Agora pergunto: realmente a polícia reprimiu um grupo estudantil quando até veículos deles foram queimados? É ilógico. Dos mais de 60 feridos, a maioria é de funcionários da segurança, que dignamente estavam protegendo os manifestantes e que foram agredidos. Atuaram civicamente e humanisticamente para conter as ações agressivas e criminosas desses grupos fascistas. Não são presos políticos, são delinquentes, que atuaram contra o que estabelecem nossas leis.

E esse Alex Lee ainda pede que o governo dialogue com a oposição. Perdão, mas somos um país digno, livre, e isso fica a critério do governo. Nenhum país pode fazer ingerência sobre nossa política.

OM: O senhor confia nas forças armadas venezuelanas?

DM: Com suficiente base, e suficientes elementos, posso te responder. Eu estive nas forças armadas por 35 anos, onde ocupei cargos como comandante de regiões estratégicas, como comandante geral da armada e ministro da Defesa e posso te dizer que vi muito de perto a transformação levada a cabo por nosso comandante supremo da revolução Hugo Chávez Frías, com nossas forças armadas bolivarianas. As forças armadas de Chávez nem se parecem, nem remotamente, às da Quarta República. Hoje temos uma força armada humanista, que é do povo, e para o povo, e está estabelecida para apoiar seu povo.

Mas também está claro que é uma força armada que não vai permitir, sob nenhum conceito, que o fio constitucional seja rompido e isso já demonstramos. Digo isso porque estive no grupo que resgatou a dignidade, no golpe de Estado de 2002. Quando esses mesmos grupos, com o mesmo roteiro que estão usando hoje em dia, derrubaram o governo de Hugo Chávez. Mas o povo, e esse é um fato inédito, saiu junto com as suas forças armadas, para resgatar sua dignidade.

Hoje em dias as forças armadas estão mais sólidas, firmes e comprometidas com seu povo e a Constituição, do que nunca. Por isso tenho certeza que não só as forças armadas estão capacitadas, fisicamente, mas também moralmente e espiritualmente para defender a Constituição da República.

OM: Não há o risco de que setores se levantem contra o governo, como aconteceu em 2002?

DM: Há uma diferença entre 2002 e agora. Naquela época, ainda restavam redutos da Quarta República. Hoje em dia, todos os generais e almirantes são filhos de Chávez. E há um fenômeno no qual, à medida que a pirâmide vai baixando, quanto mais baixo, maior é a fortaleza de espírito, de compromisso desses soldados, desses sargentos, com seu povo, Constituição e presidente eleito.

OM: Nesse contexto de “guerra midiática”, o que deve ser feito pelo governo venezuelano?

DM: A Venezuela mudou sua política de ação comunicacional. Os meios do Estado, nesse caso a VTV, e também a TeleSur, transmitem a verdade constantemente, não somente sobre a Venezuela, mas sobre o mundo.

Hoje o venezuelano não é como o de antes, que quando colocavam uma situação nos meios de comunicação, acreditava cegamente. Hoje em dia, o venezuelano vê, procura, analisa, estuda, verifica essas mentiras estúpidas e brutas, nas quais os meios querem que o mundo acredite.

Há um caso para ser analisado. Existe um grupo juvenil no meu país chamado JAVU (Juventude Ativa Venezuela Unida), financiado pelo império norte-americano. Por aí se diz que receberam mais de 80 milhões de dólares. Inclusive, há elementos e provas que demonstram que a oposição venezuelana – esses grupos radicais – receberam mais de 120 bilhões de bolívares, uma soma impressionante. Quando se vê que esses supostos estudantes, que levam panfletos onde se lê “A Venezuela precisa de você. Mate um chavista”. Mate, assassine um chavista!

Os chavistas e os não chavistas são todos irmãos. Eu amo os chavistas, mas também todos os meus concidadãos venezuelanos. Quem incita, quem inculca em seus seguidores esse sentimento de matança, de ódio, criminoso, são esses elementos da oposição. Um chavista é um venezuelano, um irmão deles. No entanto, jamais verão aqueles que apoiam o governo revolucionário com esse tipo de atividade. Apesar de tergiversarem a verdade, ela sempre será conhecida.

OM: Como o senhor qualifica a importância do apoio dos países latino-americanos, especialmente os que estão reunidos em torno da Unasul e Mercosul?

DM: Nós temos alianças com muitos países do continente americano, do Caribe, inclusive com outros países do mundo. Nesse caso, quero que saibam do que está acontecendo. De fato, os governos sabem e se preocupam, são aliados. Vimos uma infinidade de manifestações de governos amigos, do Mercosul, Celac, Alba, seus gestos de solidariedade com a democracia , com a atual situação que vive a Venezuela. É importante também que, além dos governos, isso seja conhecido a nível de povo, que saibam da realidade do que está acontecendo na Venezuela. E que sirva também de exemplo para esses países, para que no futuro sirva de experiência para todos os países, não só da região, mas para todos os países do mundo. Porque esse mesmo roteiro que está sendo desenvolvido atualmente na Venezuela já foi visto em outros países, especialmente naqueles que têm grande quantidade de petróleo e foram invadidos pelos EUA.

OM: O senhor acredita que o que está acontecendo na Venezuela faz parte de um plano global de desestabilização? Vocês têm medo que a situação possa se tornar parecida com a da Ucrânia ou Síria?

DM: Esse roteiro foi utilizado na Ucrânia, na Síria, em outros países, como Iraque, Líbia, onde vimos supostas agressões e ações do governo contra que povo que, depois da invasão da OTAN, ou no Iraque, dos EUA, se mostraram falsas. E a Venezuela não escapa dessa realidade, porque temos petróleo. Quais são os países que foram assediados pelos governos norte-americanos? Os países que têm petróleo. Ou os países que são progressistas, de esquerda, vistos como mau exemplo para a hegemonia que eles realizam no mundo. Nós, não é que temos medo. Nós nos cuidamos para que não aconteçam situações similares às que ocorreram nesses lugares. Como eu, há mutos venezuelanos no mundo mostrando a realidade do que acontece no nosso país. O povo e as forças armadas jamais vão permitir que se caia numa situação que nos afete e nos leve a uma situação adversa. Sabemos que temos mais de 120 anos de petróleo e os EUA, 20, e essa é uma realidade que eles visualizam.

Fonte: Ópera Mundi.

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