Grupo de rap P1 Rappers faz música para o MAB e retrata luta dos atingidos em ‘Filhos do Vento’

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Com o Lançamento Político da música “Filhos do Vento”, o grupo fez participação especial no Encontro Regional do MAB no Vale do São Francisco. Foto: MAB.

P1 Rappers é um conhecido grupo de rap de Juazeiro, Bahia. Seu novo disco “Nordestinias” ainda não foi lançado publicamente, mas sua música tema já está na “boca do povo” e é ganhadora de premiação local de música.

Com o Lançamento Político da música “Filhos do Vento”, o grupo fez participação especial no Encontro Regional do MAB no Vale do São Francisco, realizado nos dias 10 e 11 de dezembro. A canção foi escrita e composta para o Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB, em homenagem à luta dos atingidos.

Em entrevista à Comunicação do MAB, o integrante Julio Cesar, mais conhecido como Nup, conta um pouco da ‘correria’ do P1 Rappers, sua relação com outras lutas e a parceria com o MAB.

Comunicação MAB: Como nasceu o P1 Rappers?

Nup – Todos nós fazemos parte do grupo de dança de rua Coletivo Norte-BA Crew, que se reúne na Lagoa de Calu. A partir do grupo surgiu o P1 Rappers, por que a gente tinha necessidade de ter uma música falando do nosso cotidiano, da nossa correria. Eu contribuía com algumas letras antes mas estou no grupo há um ano, e o P1 já tem quase 5 anos.

Como começou essa relação do P1 com o MAB?

O Levante Popular da Juventude sempre colou com o Coletivo Norte-BA Crew, e através deles conhecemos outros movimentos sociais como o IRPAA e o MAB. E a gente consegue ver a nossa correria, a nossa luta nesses movimentos, e fomos nos envolvendo mais e entendendo cada vez mais a correria.

Você fala correria.. É uma outra palavra pra luta?

Isso! Nós falamos da correria, da luta.

A música “Filhos do Vento” traz a realidade de sofrimento e a luta dos atingidos pela Barragem de Sobradinho. Como foi a construção dessa letra?

Eu sentia necessidade de colocar na nossa música algo que retratasse essa galera atingida por barragens. Eu pensei muito antes de escrever, no tema, no que vou escrever, quando veio a inspiração do MAB. A gente participou de Escolas de Formação (do MAB) com o IRPAA, fomos conhecer a barragem em Sobradinho, ouvir histórias que eu não conhecia, e a partir dali foi que veio a ideia do que eu vou falar aqui. ‘Achei um tema, achei mais uma luta pra gente poder lutar junto’, pensei. Através de pesquisa e depoimentos de pessoas que foram atingidas por barragens que comecei a compor.

O P1 Rappers realizou o lançamento político de “Filhos do Vento” no Encontro Regional, em Juazeiro, mesmo que o disco ainda não tenha sido publicamente lançado. De onde vêm essa parceira com o movimento, porque essa confiança no MAB?

Foi um prazer muito grande fazer o Lançamento aqui, era o momento certo de lançar “Filhos do Vento”. A gente estava aguardando o Encontro, tínhamos uma viagem planejada e cancelamos por que essa música é para o MAB, retrata totalmente a correria, a luta desse povo. E o P1 tá junto, tá olhando isso. Foi muito satisfatório mesmo.

Os participantes do Encontro são jovens, mas também pessoas mais velhas e que não estão muito acostumados com o rap. Ainda assim, todos ficaram sentados nas cadeiras, atentos ao show. Como foi pra vocês?

Quando a gente vai pra um espaço em que as pessoas não estão acostumadas a ouvir o rap, principalmente porque o rap não é muito visto, a partir de quando a gente transforma a letra em luta as pessoas param de dar atenção ao ritmo e prestam atenção na letra. É justamente isso que a gente procura, passar a informação e que as pessoas ali sentadas estão entendo, isso é muito satisfatório, muito bacana. Na nossa atividade aqui no MAB eu me senti muito realizado, logo após a gente terminar de cantar muita gente veio falar com a gente. Isso é muito bom.

Como vocês veem a relação com o MAB?

A gente se enxerga muito em movimentos sociais e o MAB é um movimento muito organizado. A gente consegue enxergar isso e está feliz em poder contribuir nessa luta. A gente vai nos espaços e canta a nossa música, vê que as pessoas conseguem se enxergar no som, e é justamente isso que buscamos, passar a nossa mensagem e que as pessoas se vejam. Ficamos felizes em estar nos espaços que o MAB promove, a gente quer estar inserido porque quanto mais conhecimento melhor, e o MAB é uma fonte muito grande de conhecimento pra gente.

As músicas do P1 Rappers são muito sensíveis e falam de muitas outras realidades. Porque se solidarizar com outras correrias?

O Rap é um movimento que tem que enxergar a correria do outro em você, o movimento Hip Hop traz isso. São quatro elementos no Hip Hop, mas a gente costuma dizer que tem o 5º elemento, que é o conhecimento. Quanto mais você conhecer a luta do seu irmão, da sua irmã, da mulher, do negro. E quanto mais agregar na sua música, melhor. A gente ouve já tanta coisa por aí e não consegue se enxergar naquilo, a periferia á muito deixada à margem assim como os movimentos sociais. O Rap está aí junto desse povo, que a gente sabe que essa é a verdade, que a gente tem que lutar. E o P1 vem disso, a gente aprendeu muito com os movimentos sociais e decidiu que a nossa luta tem que ser junto desse povo, tem que ser com essa gente.

E qual é a correria do P1?

Sempre foi esse o nosso contexto. Temos músicas voltadas pra mulher [Burcas], pras etnias do Nordeste [Nordestinias], e são vários contextos que a gente traz, são músicas politizadas, músicas que procuram não menosprezar a imagem de ninguém. A gente costuma dizer que não faz show, a gente faz militância, sobe num palco e exige ali o que a gente quer através das pessoas que estão junto com a gente, que estão na correria do P1. Tem uma música que diz ‘não precisa alcançar milhões, e não é o objetivo. Entre um milhão vazio, prefira um bem instruído’. E é isso eu a gente quer. A luta do P1 é a luta do povo.

Fonte: MAB.

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