Grito dos/as excluídos/as: “Em cada bandeira, carregamos uma história de vida”

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

Ninguém pode fazer-nos esquecer de nossos sonhos, eles são o alimento da luta. No dia sete de setembro de 2016, o campo e a cidade coloriram São Miguel do Oeste- SC. Bandeiras de diferentes cores, trazendo símbolos de resistência, rostos pintados com as cores da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), uma luta que há mais de 10 anos é pautada pela Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Igreja, movimentos sociais e populares, foi colocada em evidência, durante o Grito dos/as excluídos/as.

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A proposta da juventude do campo foi anunciada também. “Tudo o que a mídia transmite sobre o jovem do campo é distorcido e nós queremos propor um modo de produção e de vida diferente. A nossa realidade sofre bastante, com esse sistema que criminaliza, faz o jovem sair da roça dizendo que a cidade é o melhor lugar para se viver. Ele abandona sua cultura, tudo o que construiu e deixa o campo. Temos outra proposta, de uma vida boa e de lazer lá na roça. Em cada bandeira, carregamos uma história de vida e essa história precisa ser respeitada”, disse a jovem da PJR, Daniele Casagranda.

Tairi Felipe Zambenedetti, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), também reafirmou a postura dos movimentos e pastorais sociais nas ruas. “O Grito dos/as excluídos/as, é um espaço que usamos para manifestar. Entendemos que a independência brasileira estava sendo construída e sofreu um golpe. Golpe grave que nos preocupa muito. Por isso, além de denunciarmos o golpe, viemos propor a pauta da alimentação saudável, o campus da UFFS, entre outras”, disse ele.

A juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também trouxe propostas para às ruas de São Miguel do Oeste. “A juventude vem mostrar para essa cidade que estamos em luta, queremos nossos direitos e reivindicações colocadas em pauta. Mostrar nossas forças e nossa vontade de lutar pelo povo. A juventude se sente excluída, e por sermos sem-terra, sofremos muito preconceito, nos chamam de baderneiros, e hoje viemos mostrar que a juventude está organizada. Podemos fazer a nossa arte de forma correta, não como falam por ai”, argumentou o jovem Marcelo Weber.

O Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e Movimento das Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU), também levaram para o Grito dos/as excluídos/as, pautas como a da previdência, considerando a atual conjuntura, onde projetos da Presidência preveem aposentadoria para depois dos 60 anos para mulheres e homens.

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 Entrega do Jornal Comunitário nas ruas.

O Jornal Comunitário, elaborado pelo coletivo PJMP/PJR, foi distribuído durante a marcha para a sociedade. Segundo Adriano Prates, de Fraiburgo-SC, é importante que as pessoas conheçam as pautas da luta do povo por meio de um Jornal feito para a comunidade. “As pautas estão todas aqui, nesse jornal e a gente contribui fazendo a entrega por entender a importância que isso tem, para que não nos criminalizem e entendam as nossas realidades”, disse ele.

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Integrantes da Associação Paulo Freire de Cultura e Educação Popular (Apafec) de Fraiburgo, e Associação Vital Karatê-dô, também contribuíram com a entrega do Jornal. Segundo Mariza Aparecida Fidelis Ribeiro Rodrigues, que também fez parte da equipe de comunicação, o grito dos/as excluídos/as foi um momento importante, de encontrar mais uma vez o povo na rua, e de mostrar para a sociedade, por meio do Jornal Comunitário e das bandeiras, que existe muita beleza, diversidade e propostas sendo construídas por esse coletivo.

Arte popular, de resistência.

Intervenções foram realizadas durante o grito dos/as excluídos/as. Logo no início da marcha, juventudes do campo e da favela denunciaram a mídia golpista, que criminaliza a realidade dos jovens. Conforme o Jovem da PJMP, Alexandro Tuni, a favela quer ser reconhecida como um lugar de cultura, de diversidade, com respeito. “Essa mídia discrimina muito o pessoal ‘lá de baixo’, a ‘Tribo da Perifa’. A gente quer falar de nós, e não só da classe média. O jeito é não ficar quieto, nunca deixar esse assunto morrer, quem mora lá pra baixo é sempre criminalizado. O jeito é não se calar”.

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A arte popular, denominada estêncil, foi utilizada, e frases foram desenhadas em cartazes e mostradas para o público. Conforme a Militante do coletivo PJMP/PJR, Cláudia Baumgardt, o estêncil é uma maneira de levar para a sociedade, o caráter popular de entender a favela, o campo, como espaços de vida. “Com ele, mostramos nossas pautas, contra violência e anunciando a construção do novo homem e da nova mulher, na luta Feminista, além de outras propostas que vão de encontro a desconstrução do modelo Capitalista e da produção de alimentos com agrotóxicos, para um novo jeito de viver”, disse ela.

O Golpe de Estado.

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Outra intervenção aconteceu na metade do percurso da marcha, onde as meninas, mulheres desse grande coletivo, gritaram: “Eu sou mulher, sou feminista, vim pra acabar com seu conceito de machista”, em seguida, os meninos, homens, responderam: “E eu sou homem, não sou machista, por igualdade eu também sou feminista”. Outros gritos de ordem foram feitos, reforçando que a luta é coletiva e move o mundo inteiro. “Globalizemos a luta! Globalizemos a esperança”, diziam os jovens. Meninos e meninas também denunciaram neste momento o golpe de estado que vive o Brasil, gritando: “Golpistas, Fascistas, não passarão”, repetindo-o por diversas vezes.

 A falsa independência.

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A última intervenção, foi feita na área coberta da praça central de São Miguel do Oeste- SC. A Jovem Camila Beatriz, da Pastoral da Juventude do Meio Popular, fez uma demonstração de uma mulher indígena, mostrando que os povos sofreram um grande golpe em 1500, e que de lá para cá, uma falsa independência vem sendo mostrada, aplaudida e conclamada. A jovem, com a bandeira do Brasil em seus braços, foi roubada e ferida com golpes de violência. A intenção foi mostrar que para além dos ferimentos demonstrados no corpo, a vida dos povos historicamente é aniquilada em nome da concentração de renda do grande Capital, da produção em grande escala, de uma modo de vida inventado para poucos e que exclui e mata as gentes, ignorando suas culturas, diversidades e identidades. Mostra ainda, que o Brasil sofreu recentemente mais um golpe, contra a vida da classe trabalhadora explorada, que tem agora, que lutar para não perder mais direitos, que tudo conquistado com muita luta popular está correndo sérios riscos.

Comunicar a luta do povo.  

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Durante toda a marcha do grito dos/as excluídos/as, uma equipe de comunicadores populares e Jornalistas trabalhou para comunicar e anunciar a luta do povo. Julia Saggioratto, militante do coletivo PJMP/PJR, Jornal Comunitário e Portal Desacato, falou sobre a importância de manter a comunicação popular de resistência em sintonia com as mobilizações junto ao povo. “Sempre vimos a grande mídia falando da gente como queria, distorcendo o que acontecia. Nós estamos criando o nosso próprio meio de comunicar.  Esse é um momento em que várias organizações estão nas ruas fazendo luta e é necessário que estejamos juntos e juntas para fazer essa construção coletivamente”, comentou Julia, lembrando que o grupo trabalhou realizando filmagens, fotografias e transmissão ao vivo de todo o ato e que todo material está disponível na página do facebook: Jornal Comunitário, no Portal Desacato e as entrevistas no site da Associação Catarinense de Radiofusão- Abraço: http://abracosc.com.br/?p=11950.

“Esse sistema é insuportável: Exclui, degrada e mata”.

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Seguindo os dizeres do Papa Francisco, o grito dos/as excluídos/as deste ano denunciou a crueldade feita pelo sistema Capitalista contra os povos do mundo, referenciando-o como ‘insuportável’ para os/as trabalhadores/as. “Somos convocados/as pelo evangelho, a ocupar às ruas, pedindo a libertação para o Reino de Deus. São os nossos gritos pela liberdade, por justiça para a classe trabalhadora explorada que nos movem”, explicou o Pároco da Igreja Matriz São Miguel Arcanjo, Reneu Zortea.

Ele disse ainda: Nós queremos construir uma Igreja em Saída, seguindo o que o Papa Francisco nos colocou: ‘Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem-terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum jovem sem oportunidades, nenhum idoso sem uma vida feliz’. E nesse sentido, ocupamos às ruas para reafirmar que o lugar da classe trabalhadora explorada é nas ruas”.

 O Encontrão Campo e Cidade.

O almoço em unidade, também reafirma a opção dessa juventude que sonha e luta por liberdade. Uma tarde com música foi organizada para comemorar a grande luta feita na rua, a coragem das organizações, da classe trabalhadora explorada que propõe outro modo de vida.

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E assim, mais um grito dos/as excluídos/as foi realizado. Pautas, bandeiras, histórias, falas, gritos de ordem, proteção, segurança, disciplina, coletividade, tudo isso foi levado para às ruas para mostrar quais são as propostas e projetos que estão sendo construídos. Haitianos/as, pastorais diversas, sindicatos, como o dos professores/as, também gritaram NÃO ao Golpe de Estado, pediram ensino médio nas escolas, como a do São Sebastião em São Miguel do Oeste, enfatizando que a qualidade da Educação será garantida se os direitos forem respeitados. Encerramos o dia de ontem, dizendo NÃO ao movimento “O Sul é o meu país”, mas hoje, seguimos atentos/as, porque a luta se faz todos os dias.

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Vigilantes, observadores/as, atentos/as a tudo. Assim serão todos os dias de nossas vidas, até que a “Pátria Livre” aconteça nessas lutas, até que a Pachamama receba o dia 07 de setembro como um dia de plena liberdade, sem ilusões, sem ameaças, sem intimidações, sem câmeras contra nossos rostos. Pela terra mãe livre nós seguiremos gritando: “Da luta eu não fujo, na luta continuaremos”. Até a vitória.

Fotos: Pedro Pinheiro e Paulo Fortes. (PJMP/PJR- Portal Desacato).

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