Greve geral: Por que algumas pessoas afetadas pelas reformas reagiram com raiva e desinformação?

Foto: Marcelo Luiz Zapelini, para Desacato.info
Foto: Marcelo Luiz Zapelini, para Desacato.info

Por Marcelo Luiz Zapelini, para Desacato.info.

A greve geral realizada dia 28 envolveu 35 milhões de pessoas em todo o país. Cerca de 20 mil saíram às ruas de Florianópolis, em um ato unificado de sete Centrais Sindicais atuantes em SC. Essa tentativa de frear as reformas da previdência e trabalhista e a terceirização irrestrita, porém, recebeu críticas de pessoas que tentavam manter a rotina.

“Vão trabalhar vagabundos”! Essa foi uma das ordens mais repetidas. Houve quem parasse nas calçadas para atribuir a realização da greve à uma desesperada defesa do ex-presidente Lula, réu na operação Lava Jato, porque havia predominância da cor vermelha e não de verde e amarelo, típicas das manifestações anti-PT.

Mas, se todos que estavam na manifestação eram trabalhadores ou estudantes que defendiam “nenhum direito a menos”, por que pessoas igualmente afetadas pelas reformas do governo Temer reagiram com raiva e desinformação?

A culpa é dos meios de comunicação social, acredita Patrízia Ana Bricarello, professora de zootecnia, na UFSC.

“Estão fazendo uma lavagem cerebral. O golpe é na mídia. Ela é a engrenagem do golpe. A pessoa que assiste ao jornal da manhã, do almoço e da noite acredita no que está ouvindo”, disse à reportagem do Portal Desacato, durante a tarde, na concentração dos trabalhadores na Praça de Lutas do Sintraturb.

Um dos objetivos dos grandes veículos é enfraquecer a organização dos trabalhadores. “No jornal de ontem estavam dizendo que o trabalhador não deveria mais contribuir com o sindicato. Mas, se não fosse o sindicato não estaríamos aqui hoje”, alertou.

Para ela, que incentiva debates entre diversos coletivos no campus, a diversidade de fontes de informação estimula o pensar diferente. “As pessoas que estão aqui (na greve) não são tão ligadas na grande mídia. Ou pelo menos, acompanham outras mídias, as alternativas, que existem”.

O será que uma dessas pessoas poderia sugerir aos líderes sindicais? Será que dá enfrentar essa campanha contrária e ampliar a mobilização dos trabalhadores?

Se ampliarem a comunicação com os trabalhadores, dá, indicou Caroline Schwarz de Almeida, advogada do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Assessoria, Perícia, Pesquisa e Informação de SC.

“Me parece que, se os sindicatos conseguissem informar cada vez mais os trabalhadores, conseguiriam com que esses trabalhadores estivessem mais prontos para essa luta de resistência”, analisou.

Caroline também diz que se existissem mais líderes sindicais as ações de conscientização seriam mais eficazes. “É necessário que existam mais e mais líderes, para que os trabalhadores realmente entendam que a força e a união se faz cada vez mais necessária em todos os postos de trabalho”, emendou.

PLANEJAR É PRECISO

Pela manhã, centenas de grevistas reunidos na praça decidiram realizar um  arrastão em algumas ruas do centro para fecharem as lojas ainda abertas.

Os comerciários, que desejavam paralisar e não puderam fazê-lo, demonstram apoio com aplausos e repetiram os gritos de guerra em pé em frente das portas fechadas e das sacadas. Muitos motoristas parados na Beira Mar, à tarde, também aplaudiram o ato.

Mais cedo nesse dia, barricadas levantadas em rodovias estaduais de Florianópolis e na BR 101, em São José, bloquearam acessos. Nesses locais, houve quem pedisse passagem, por bem ou por mal, porque sua presença e o seu trabalho seriam indispensáveis. Como lidar com situações assim?

Para o Técnico em Educação da UFSC, Hélio Rodak de Quadros Jr., que chegou às 16h para participar do ato unificado com sua esposa Gabriela, o movimento sindical tem dificuldade de planejar as greves em relação às especificidades de cada local de trabalho.

“Por exemplo, em um hospital, não dá pra simplesmente dizer: ‘dia 28 fecha’. Para um serviço específico, não se pensa em fazer orientação prévia do que deve parar e o que deve continuar, mesmo na greve”, analisou o engenheiro civil, que escreve sobre sindicalismo em um blog pessoal.

Em seu ponto de vista, poderia haver gradações na paralisação dos serviços, desde os locais que não parassem completamente, até aqueles que poderiam parar parcialmente ou integralmente por algumas horas ou em alguns turnos.

Além disso, um planejamento anterior poderia contribuir com os trabalhadores que não tem força para paralisar ou estão sujeitos à penalidades, como nas lojas de shoppings, que são multadas se não abrirem.

“Uma greve planejada não deixaria nas costas de cada um ‘fechar o seu setor’, ainda mais se isso implicar riscos ao seu emprego. Ela remanejaria outras pessoas para o auxílio nestas tarefas mais impopulares, porém necessárias”, exemplificou Hélio.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.