Golpismo rachado, tensão alta e bola com o Supremo

Por Tereza Cruvinel.

Prever o que pode acontecer no tobogã político nacional esta semana é exercício de alto risco,  exceto para médiuns e advinhos. Certo é que há muitas variáveis fora de controle desde que a delação da JBS detonou Michel Temer e rachou a antes unida coalizão golpista que derrubou Dilma e sustentava o governo.  Uma destas variáveis que parecem ter saído do script é o próprio Temer. Ele tombou em silêncio na quarta-feira, ao levar o tiro de canhão das primeiras revelações mas,  como não renunciou imediatamente (talvez porque tenha faltado quem pusesse o guiso no gato, tarefa que no passado costumava ser assumida pelos militares), resolveu resistir no cargo. São remotas as chances de que consiga escapar mas isso significa que sua remoção  vai dar mais trabalho aos que decidiram jogá-lo ao mar, confirmando as profecias de que haveria o golpe dentro do golpe quando e se ele se tornasse inútil e descartável.

Um fato que ajudará a determinar o rumo da crise esta semana virá do STF,  caso o plenário resolva apreciar logo, como se espera, o pedido de Temer para que seja suspenso o pedido de investigação contra ele apresentado pelo procurador-geral Rodrigo Janot. O ministro Luiz Fachin, relator da Lava Jato,  acolheu o pedido de perícia na gravação de Joesley Batista com Temer mas remeteu ao plenário a decisão sobre a suspensão da investigação. O presidente é acusado de corrupção passiva, participação em organização criminosa e obstrução da Justiça.

A decisão do plenário pela  continuidade da investigação será fatal para Temer. PSDB e DEM, por exemplo, resolveram esperar pela decisão antes de decidirem se abandonam o governo ou não, cancelando a reunião que teriam no domingo para traçar conjuntamente o rumo. Se as investigações forem mantidas,  o mais provável é que os dois partidos pulem do barco, tentando salvar alguma coisa depois da péssima aposta que fizeram derrubando Dilma. O programa do golpe fracassou, em parte porque Temer é desprovido das condições para o papel que lhe foi dado. Entre elas, não ter rabo preso.  PSDB e DEM são a espinha dorsal daquela base ampla, fisiológica e imoral que apoiou o golpe e sustenta o governo.  Sem eles, a resistência de Temer vira delírio. Mas houve algo também pouco compreensível, o telefonema de FHC a Temer. Não foi de apoio mas soou como estimulo à resistência. “Fique firme”.

Se as investigações continuam, Temer pode teimar em ficar no cargo, mas dele será afastado pelo STF tão logo Janot apresente uma denúncia que o transformará em réu.  Esta pode ser uma solução até melhor que a do TSE. Embora o tribunal possa concluir o julgamento da chapa Dilma-Temer entre os dias 6 e 9, concluindo por sua cassação,  haverá recurso ao próprio TSE, depois ao STF… Enfim, tempo correndo. E o impeachment, já sabemos, é solução demorada demais para o ponto a que chegou a crise.

Enquanto não vem a decisão do STF sobre a investigação de Temer, afora as bombas inesperadas que sempre podem explodir em nossa cara,  veremos seguir a disputa dentro do condomínio do golpe. Atuam pela rápida remoção de Temer da Presidência – não para que o povo vote mas para que um síndico mais eficiente venha tocar a agenda golpista  –   uma parte do sistema de Justiça, especialmente a Lava Jato em sua versão nacional (leia-se Rodrigo Janot)  e as Organizações Globo, com sua descarga diária de artilharia pesada contra o presidente que deixou de apoiar. Já os  dois grandes jornalões paulistas, Folha e Estadão,  parecem sintonizados com outras forças econômicas paulistas que preferem evitar uma disputa pela Presidência agora, engolindo Temer até 2018 apesar de sua corrupção tão escandalosamente revelada. O “mercado”, este apelido do grande capital? Este contempla, dizendo que não importa quem seja o presidente, desde que ele toque a política econômica de Meirelles e aprove as reformas.   Meirelles presidente por eleição indireta? Seria maravilhoso… O que estas forças querem é o “pacto pelo alto”, um acordo das elites que deixa o povo em seu lugar, nada de diretas-já.

As manifestações deste domingo não tiveram a força esperada. Pelo menos em São Paulo foram prejudicadas pela chuva.  Se elas não ganharem impulso nos próximos dias, o golpe dentro do golpe será exitoso, com a troca de Temer por um presidente “indireto”, mais vistoso, menos vulgar, mais eficiente para tocar as reformas e o programa neoliberal. De Nova York, Wesley Batista dará gargalhadas olhando a terra arrasada aqui no Bananão.  A JBS firmará um acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (com anuência de Janot), passando a ser empresa esradunidense.

Uma coisa pelo menos o povo aprendeu com este episódio. Lula não é o dono da Friboi, como tanta gente simples, vitima da lavagem cerebral, acreditava até a semana passada.

Fonte: Brasil 247.

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