Globo anuncia que vai checar fake news, justo ela

Foto: Captura de tela Youtube

Por Joaquim de Carvalho.

O G1, do grupo de comunicação que criou o fake news que levou Lula à prisão, acaba de anunciar o seu serviço de checagem de notícias.

O título do serviço É “Fato ou fake”.

Segundo o site, o objetivo é alertar os brasileiros sobre conteúdos duvidosos disseminados na internet ou pelo celular, esclarecendo o que é notícia (fato) e o que é falso (fake).

De acordo com o Grupo Globo, jornalistas farão um monitoramento diário para identificar mensagens suspeitas muito compartilhadas nas redes sociais e por aplicativos como o WhatsApp.

“Participam da apuração equipes de G1, O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo”, informa o G1. 

“Cada um desses veículos — prossegue o informe — poderá publicar as checagens feitas em conjunto. Ao juntar forças entre as diversas redações, será possível verificar mais – e mais rápido. A atual editoria É ou não É, do G1, deixa de existir, para dar lugar ao Fato ou Fake.”

O jornal O Globo foi quem noticiou, em 2014, que Lula poderia passar o reveillon no triplex do Guarujá, dando vazão a um boato que circulava naquele cidade, a de que o ex-presidente seria o dono de uma unidade no condomínio Solaris, antigo Mar Cantábrico. 

O jornal publicou como fato a seguinte notícia:

“De sua ampla sacada, poderá ver a queima de fogos, que acontece na orla bem defronte do seu prédio, feito pela OAS, empresa investigada pela Operação Lava-Jato. É que na semana passada terminaram as obras de reforma do apartamento triplex no Edifício Solaris, que ele e dona Marisa Letícia, sua mulher, compraram por meio da Bancoop — a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo —, ainda na planta, em 2006. Acusada de irregularidades e em crise financeira, a Bancoop deixou três mil famílias sem receber os sonhados apartamentos.”

Já naquela ocasião Lula tratou de desmentir a notícia e informou, sem que o jornal desse o devido destaque:

“Dona Marisa Letícia Lula da Silva adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010, referente a um apartamento, que tinha como previsão de entrega 2007”, diz a nota. “Com o atraso, os cooperados decidiram em assembleia, no final de 2009, transferir a conclusão do empreendimento à OAS. A obra foi entregue pela construtora em 2013. Neste processo, todos os cooperados puderam optar por pedir ressarcimento do valor pago ou comprar um apartamento no empreendimento. À época, Dona Marisa não optou por nenhuma destas alternativas esperando a solução da totalidade dos casos dos cooperados do empreendimento. Como este processo está sendo finalizado, ela agora avalia se optará pelo ressarcimento do montante pago ou pela aquisição de algum apartamento, caso ainda haja unidades disponíveis. Qualquer das opções será exercida nas mesmas condições oferecidas a todos os cooperados.”

A Globo já tinha explorado esse assunto em 2010, em O Globo e no Jornal Nacional. Na reportagem da TV, a Globo informava: 

“A lista de mutuários da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo tem um nome ilustre: o do presidente da República”, narrava William Bonner.

O triplex nunca esteve no nome de Lula ou da família, ele nunca desfrutou do apartamento — não passou uma noite sequer lá —, e não tinha as chaves. O que havia é o interesse da OAS para que Lula adquirisse o imóvel. Mas, na única vez em que esteve lá, recusou.

Segundo disse, considerou que não era adequado para ele. E faz sentido o que o ex-presidente afirmou. O Guarujá é uma das praias mais movimentadas do Brasil, e Lula não teria nenhuma privacidade.

Quando o boato ocupou as páginas do Jornal Nacional, o Ministério Público do Estado de São Paulo viu ali a oportunidade de uma grande investigação. E começou a ouvir pessoas, em um procedimento de investigação criminal que resultou em uma ação que, anos depois, foi parar na mesa de Sergio Moro, juiz federal.

Nem o Ministério Público Federal nem o Estadual de São Paulo apresentaram provas de que o triplex pertencia a Lula ou alguém de sua família. Mas Lula foi condenado, e hoje se encontra preso em razão dessa condenação.

O que deu a ação do Ministério Público do Estado de São Paulo que nasceu de um boato? Nada.

A justiça entendeu que não havia evidência de crime. Apenas suspeita, fruto de comentários, e isso não é suficiente para condenar quem quer que seja.

Por isso, absolveu os demais acusados. Mas não pode fazer o mesmo em relação a Lula. É que a parte do processo que envolvia Lula foi encaminhada para Curitiba, por conta da Lava Jato, e lá, apesar da falta de prova e de demonstração de culpa, Lula foi sentenciado.

Na sentença, Sergio Moro cita a reportagem de O Globo como fundamento para condenar Lula. Também aceita como válido para condenação a palavra de um co-réu, Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, beneficiado com redução da pena por conta do que disse.

Juridicamente, são absurdos. Um co-réu pode mentir e, por isso, recomenda a jurisprudência — e o bom senso — que a palavra dele não seja aceita como prova.

Apesar disso, a condenação foi depois confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4a. Região, em um recurso que teve como relator um amigo de Sergio Moro, João Pedro Gebran Neto.

O jornal do grupo que iniciou todo esse processo agora vem a público para anunciar que vai checar fake news.

Seria até engraçado se a ação do grupo não tivesse provocado uma das maiores injustiças da história do Brasil: o fake news que levou um ex-presidente à prisão e tirou de Lula o direito de se eleger presidente, como quer a maioria dos brasileiros.

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