Futebol podia seguir o exemplo da ginástica para enfrentar o racismo

Angelo Assumpção

Por Mariana Lajolo.

A ginástica brasileira fez algo que o futebol até agora não havia conseguido: encarou de frente a questão do racismo, não culpou a vítima e não teve medo de punir. Três ginastas da seleção brasileira, Arthur Nory, 21, Fellipe Arakawa, 21, e Henrique Flores, 24, foram suspensos preventivamente por 30 dias e ficarão sem receber bolsas, incentivos financeiros e sem competir até que saia a decisão final.

Antes mesmo de a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) tomar essa decisão, o trio já havia levado um bom puxão de orelha pelas ofensas feitas a outro ginasta da equipe, Angelo Assumpção. Durante treinamentos em Portugal, os atletas publicaram no Snapchat um vídeo em que aparecem provocando o colega: “Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca. Quando ele estraga é de que cor?”, pergunta Nory, que ouve “Preto!”, como resposta. “O saquinho do supermercado é branco. E o do lixo? É preto!”.

Logo que o vídeo vazou, a confederação disse não compactuar com a atitude dos atletas. Ninguém tergiversou ou fingiu que nada aconteceu. Os garotos erraram e estão pagando por isso.

Uma postura bem diferente da que cartolas e torcedores assumem quando o assunto é futebol. Casos como o do goleiro Aranha e tantos outros continuam a acontecer. E quando um jogador é chamado de macaco, logo aparecem desculpas mágicas: “Ele exagerou”; “No estádio de futebol pode”.

Não pode. Em lugar nenhum.

Os meninos da ginástica são amigos de Angelo. Marcos Goto, técnico da seleção e negro, é pai de um deles. Poucas semanas atrás, na etapa da Copa do Mundo em São Paulo, Angelo foi festejado pelos companheiros e ressaltou a união do grupo. Uma reação que destoa do palavrão que ele soltou no vídeo quando os colegas tentaram minimizar as ofensas feitas a ele.

Se dizem não serem racistas, ao menos foram mal educados. Esses (e tantos garotos por aí) precisam saber que injúria racial dói, ofende, mesmo sendo “brincadeira”, como alegaram. E colocar essa brincadeira nas redes sociais só reforça esse ponto: os garotos queriam aparecer expondo o colega negro.

As redes sociais são uma ferramenta incrível de comunicação, mas não são a sala da sua casa, onde você pode fazer o que quiser. Não podem ser usadas de forma irresponsável, muito menos para diminuir alguém. Ao colocarem o vídeo no ar, os atletas abriram caminho para dezenas, milhares de pessoas acharem que podem fazer o mesmo e ofender Angelo e outros negros, desde que seja “brincadeira”. Só com punições exemplares “brincadeiras” como essa vão acabar. A ginástica está dando o exemplo. Que outros esporte aprendam com ela.

Fonte: Esporte Fino.

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