Furnas e Cemig preveem paralisar hidrelétrica: as consequências do desastre em Brumadinho para o setor elétrico

Imagem meramente ilustrativa. Pixabay.

A hidrelétrica de Retiro Baixo, no rio Paraopeba, informou que deve paralisar as operações, após o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho (MG), no último dia 25/1, ter gerado um turbilhão de lama que poluiu o manancial e deixou mortos e desaparecidos.

Uma onda de água turva com sedimentos gerada após o incidente tem avançado pelo rio e poderá alcançar a usina na próxima semana, entre 5 e 10 de fevereiro, de acordo com um boletim do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) nesta segunda-feira (28/1).

A Retiro Baixo Energética, que tem como principais sócios Furnas, da Eletrobras, e a mineira Cemig, disse que a parada da usina tem como objetivo “proteger seus equipamentos” e que na ocasião também realizará manobras para fechar suas tomadas d’água.

A usina chegou a ser desligada logo após o incidente, mas retornou à operação no sábado, devido a um deslocamento mais lento que o previsto da lama pelo rio, afirmou a empresa.

A água com rejeitos de minério de ferro pode causar graves danos às turbinas, o que justifica a parada em Retiro Baixo.

A operação é importante também para reduzir riscos de danos à hidrelétrica Três Marias, da Cemig, no rio São Francisco, do qual o Paraopeba é afluente, disse à Reuters o engenheiro civil Carlos Goyano, especialista em projetos hidrelétricos.

“A usina (Retiro Baixo) vai ter que ficar inoperante. Vai inutilizar a usina. Também não pode abrir o vertedouro (para a passagem da água) porque vai contaminar a jusante (no sentido da correnteza). Vai fechar tudo e virar só uma barragem, um prejuízo enorme”, afirmou ele, que já trabalhou em empresas de projetos como Engevix e Enge-Rio.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a usina de Retiro Baixo deve usar seu reservatório para “amortecimento da onda de rejeitos… a depender da operação da usina”. Em nota, a agência acrescentou que “está se avaliando, ainda, se a onda de rejeitos alcançará o reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias”, que fica a 30 quilômetros de distância.

Procurada para comentar a situação de Três Marias, a Cemig disse que “está acompanhando o fluxo da pluma de segmentos”.

Em entrevista nesta segunda-feira (28/1_, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse que a companhia está tomando medidas para bloquear o fluxo de lama, como a instalação de uma membrana na altura do município de Pará de Minas (MG), para evitar que haja interrupção da captação de água nas cidades a jusante do rio Paraopeba. Ele não comentou sobre a situação das hidrelétricas.

Situação se repete

As consequências do desastre para o setor de energia lembram, em menores proporções, o caso da hidrelétrica de Candonga, no rio Doce, que foi invadida em 2015 por rejeitos de mineração após um rompimento de barragem da Samarco, mineradora da qual a Vale é sócia junto à anglo-australiana BHP.

A usina de Candonga, que está parada até hoje, tem como sócios a própria Vale e a Cemig, por meio da Aliança Geração.

Se a capacidade do reservatório de Retiro Baixo para segurar o fluxo for esgotada, a água poderia ser liberada posteriormente para seguir a caminho de Três Marias, mas com potencial de danos já menor, segundo Goyano.

“Acho que em Três Marias, mesmo que chegue, o reservatório lá é muito grande, aí não teria tanto impacto. Aí talvez já tenha (a água) absorvido bastante o ferro e aí o prejuízo é menor”, acrescentou ele, ressaltando que ainda assim poderia haver danos às máquinas.

“Trabalhei mais de 40 anos nessa área e nunca tinha visto essas situações (como em Candonga e agora em Retiro Baixo)”, destacou o engenheiro.

Procurada, a Aliança não respondeu pedidos de comentário sobre a situação da usina de Candonga.

De acordo com o boletim da CPRM, o fluxo de água turva chegaria à usina de Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro se mantida a atual velocidade de deslocamento. (fonte: agência Reuters)

Usina do Retiro Baixo
A usina tem 82 MW de capacidade instalada e está localizada entre os municípios de Curvelo e Pompéu (MG), no baixo curso do Rio Paraopeba, afluente do Rio São Francisco. De acordo com o ONS, apesar da paralisação da usina, o abastecimento de energia no país está garantido, devido ao fato de a usina estar gerando pouca energia.

A usina é um empreendimento conjunto da Cemig (49,9%), Furnas (49%) e Orteng (1,1%). O reservatório tem volume de 240 hectômetros cúbicos.

Lama de Brumadinho chegará ao Rio São Francisco em 15 de fevereiro

Os rejeitos de minério de ferro da barragem  em Brumadinho (MG) chegarão à hidrelétrica de Três Marias, no Rio São Francisco, a partir do dia 15 de fevereiro. A informação de pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Agência Nacional de Águas (ANA) consta no primeiro boletim de monitoramento especial do órgão sobre o Rio Paraopeba, um dos principais afluentes do Velho Chico.

Controlada pela Cemig (companhia elétrica de Minas Gerais), a Três Marias é a primeira instalada ao longo do São Francisco. A onda de lama percorre o local a uma velocidade de 1 km por hora, conforme o governo.

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