From me to you

Por Clóvis Campêlo.

Foi uma longa e sinuosa caminhada, mas aqui estamos nós prestes a nos encontrarmos no futuro. E tu te aproximas do local do encontro com a intensidade de um meteoro gigante, alterando o sistema vigente e estabelecendo novas condições de equilíbrio e sobrevivência.Mas, valeu a pena a espera por 40 anos. Ainda me lembro daquela jovem tarde de verão, nos anos 60, no Pina, quando o meu primo Zeca Campêlo me apresentou a ti e a teus companheiros. Pirei. Aquele som era demais, repletos de novidades que sacudiram e chacoalharam com a minha cabeça de menino suburbano. A revolução chegara e ninguém mais a ela ficaria impune ou imune.

De nada mais adiantaram os merengues que escutávamos na sede da Troça Carnavalesca Tubarão ou os frevos-canções do bloco Banhistas do Pina. Muito menos os boleros de Bienvenido Granda ou os samba-canções de Adelino Moreira. Havia uma coisa nova, muito nova e quente, partindo do norte com força vital pra chegar ao sul. Era melhor não reagir e deixar essa coisa acontecer.

Confesso, porém, que, na dicotomia existente entre os fans do Fab Four Forever, sempre me coloquei no grupo oposto aos que te admiravam. Achava-te careta e reacionário, simplesmente ridículo com a honraria, a medalha e o título de sir,concedidos pela Rainha Elizabeth ao grupo. Lennon, o beatle militante e politicamente correto, já a havia devolvido por não concordar com o envolvimento da Inglaterra na Guerra do Vietnam. Tu, assim como George e Ringo, a mantinhas como um trofeu bizarro (para mim). Contestar era preciso, meu velho!

Mas o tempo passa, a vida muda, evolui e toma outros rumos. E enquanto o guerreiro Lennon morria no campo de batalha vítima de “bala amiga”, tu sobrevivestes e mentivestes acesa a chama da idolatria.

Hoje, eu te vejo como um cara simples e bem resolvido, sem nenhum sentimento de culpa por ser rico e bonito. Fiquei surpreso ao ver na televisão a tua jovialidade nas chamadas para os shows do Recife. Um menino feliz de quase 70 anos de idade.

Quando em outra matéria te perguntaram como conseguias manter o mesmo nível de atividade com quase 70 anos de idade, respondestes que fazias aquilo com a naturalidade e a simplicidade de quem toma um copo de água. Ou seja, uma pessoa bem definida e que gosta do que faz. Um privilegiado.

Finalmente, no recomposição por mim do teu perfil psicológico, percebi que, acima de tudo, a tua realização pessoal e teu equilíbrio emocional apoiavam-se na vivência familiar nos tempos de Liverpol: no Natal, o pai ao piano, com a família ao redor, cantando velhas canções de época, canções essas resgatadas em discos recentes. Lennon nunca soube o que era isso, abandonado pelo pai e pela mãe ainda menino pequeno e criado pela tia Mimi.

Para o primeiro, resgatar o tempo bom era necessário. Para o segundo, só restariam as mudanças e os rigores da revolução para punir a sociedade hipócrita. Por isso, a junção perfeita da dupla compondo e contrapondo um ao outro as suas visões complementares.

Por isso, eu te reverenciou hoje e amanhã, velho Maca.

Com carinho, from me to you.

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