Flexibilização de armas de fogo deve aumentar casos de acidentes com crianças

Imagem: Pixabay.

São Paulo – No Brasil, a cada três dias, uma criança é internada por acidente com arma de fogo. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2015 e 2018, houve 518 internações de crianças e adolescentes de até 14 anos por esse motivo. Uma realidade que, segundo a coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz Natália Pollachi, deve aumentar no país a partir da facilitação da posse de armas permitida pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Temos a preocupação de que a maior quantidade de armas em circulação vai aumentar os acidentes com armas em crianças”, pondera Natália, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual. “A arma de fogo é um produto controlado pelo Exército, não é um tênis que basta ter dinheiro para comprar. Assim como um explosivo, não basta ter dinheiro e comprar só porque eu quero, tem que ter uma justificativa muito bem fundamentada, e a arma de fogo segue a mesma lógica”, explica.

Além dos acidentes com crianças, a coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz acredita que a maior facilidade para a posse e porte de armas deve também aumentar os casos de violência contra a mulher e os suicídios. “Qualquer agressão é muito grave, mas se for feita com arma de fogo, a chance de sobrevivência é muito menor”, afirma. Ela defende que pessoas com posse de arma e que estejam respondendo a processos ou sejam denunciadas por agressão e violência tenham a arma apreendida. De modo semelhante, o Instituto Sou da Paz também defende que pessoas que já estejam respondendo a inquérito por agressão ou ameaça não tenham acesso a arma de fogo.

O aumento dos suicídios é outro problema que preocupa. Para Natália Pollachi, a presença da arma de fogo facilita a ação impulsiva, muitas vezes cometida pelos mais variados motivos como a perda de um emprego ou de um familiar, ou ainda em meio a um processo de depressão. “A pessoa então tem a sua disposição um meio quase instantâneo de cometer o ato. Facilita muito o cometimento e dificulta muito a chance de sobrevivência.”

O decreto de Bolsonaro que flexibilizou as regras para a posse e porte de arma de fogo ainda alterou a validade do teste psicológico exigido, estendendo-o de cinco para 10 anos. Tal medida, para ela, é mais um fator a facilitar o aumento de suicídios causados por arma de fogo.

“É um período muito estendido, pensando-se na utilidade de um teste psicológico. E essa arma fica disponível não só ao proprietário, mas também a todas as pessoas na casa”, explica, enfatizando que, no Brasil, tem aumentado o número de suicídio de adolescentes.

Confira a entrevista na íntegra.

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