Feira de Artes de Florianópolis se apresenta como um mercado popular de arte

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Por Paula Guimarães.

O Teatro da Armação, no centro da capital – um lugar que pela própria arquitetura histórica já respira arte – passou a ser ponto de encontro e comércio na Feira de Artes de Florianópolis (FAF). Inaugurada há um mês, a FAF funciona das 10 às 16h, integrada ao projeto Viva a Cidade.

As telas invadem as paredes e painéis nesse charmoso e aconchegante sobrado centenário, onde artistas se transformam em feirantes e desenvolvem uma relação de sedução com o público. A feira reúne formatos clássicos de arte, como gravuras, pinturas, fotografias e desenhos. São obras exclusivas e reproduções a preços mais acessíveis. Aliás, essa é a proposta da feira: estimular a venda de obras de arte para atingir não somente os apreciadores, mas igualmente o público que não tem o costume ou condição de consumir esse tipo de bem cultural. “A feira é também uma forma de originar um mercado popular de arte”, explica Fifo Lima, idealizador da FAF.

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Em entrevista, o amante das artes e do centro histórico da capital (e agora feirante), fala sobre a iniciativa de vender obras a preços populares no coração da cidade.

Por que uma feira de artes no centro de Florianópolis?
O propósito da feira é ampliar o mercado de arte na cidade. Há dezenas de espaços de exposição, mas a venda, que deveria ser o fechamento de um ciclo para o artista, é restrita a poucas galerias, que operam uma faixa de preço mais elevada. A feira é também uma forma de originar um mercado popular de arte. Na FAF, os preços variam de R$ R$ 20,00 a R$ 400,00. O centro histórico foi escolhido por ser um ambiente de cultura, especialmente para a trajetória de Florianópolis. Foi ali que cidade começou. É ali onde os prédios históricos narram as origens da vila de Nossa Senhora do Desterro. Mas o lugar também foi escolhido pela receptividade de Zica Soares e Édio Nunes, do Grupo de Teatro Armação, entidade gestora do sobrado que abriga a FAF.

 Quem é o público da FAF? A quem ela se destina?
A feira foi idealizada para o público que tem interesse em conhecer e adquirir obras de arte produzidas na cidade onde vive. Mas também para estimular novos compradores e colecionadores.

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 Além do aspecto comercial, o que a feira tem provocado entre os artistas?
Acho que a feira tem feito alguns artistas revirarem as gavetas à procura de obras que possam ser vendidas. Por outro lado, tem provocado novas criações. Há também outro aspecto importante, que é a formação de preço. Na hora de expor para vender, os artistas passam por um processo que é dar um valor de venda para a obra e esse é um bom exercício para quem deseja entrar no mercado de arte.

 A feira se propõe a ser também um espaço de encontros, de relacionamentos entre artistas e apreciadores da arte?
Sim, a ideia é ser um espaço de encontro de quem faz arte, de quem somente admira, de quem coleciona, de quem deseja ambientar sua casa com obras originais, criativas.

Que tipo de obras e atrações a feira oferece? Artistas novos têm espaço?
A feira trabalha com os formatos clássicos de arte, com gravuras, pintura, fotografia, desenho. Estamos planejando também lançamentos e venda de livros de arte. É preferível não fazer distinção entre artistas novos e consagrados, mas muitos jovens artistas estão participando. Na verdade, a feira é um desvio. Um desvio do gosto oficial. A feira propõe que cada um busque a sua própria sedução por uma obra. E na feira, o artista é feirante, é mercador. Conversa com o público, mas também negocia.

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 Como é a programação da FAF? Que caminhos ela deve percorrer?
Vamos pensando a próxima feira a cada edição e a partir de contatos pessoais e diálogos pelo email ([email protected]). A proposta é privilegiar uma técnica a cada sábado. Sempre tentando apresentar como funcionam esses processos de linguagem, demonstrando como é a maquinaria para construção de linguagens.

 A feira tem algum objetivo social?
Abrir uma nova janela comercial para os artistas e para o público talvez seja o principal objetivo social da feira. É provável que por estar localizada num território de cultura popular, a feira chegue a pessoas que não frequentam os espaços habituais de exposições, mas esse é um aspecto que só o tempo dirá.

Para você, a venda de obras de arte encontra resistência na sociedade atual? Por quê? Vencer essa resistência é um desafio para a feira?
Não é uma resistência. Na verdade é uma falta de hábito, uma falta de cultura do brasileiro em adquirir obras de arte. Quando se pensa em presente para um amigo, por exemplo, normalmente se vai ao shopping. Mas acredito que isso ocorra justamente porque não existem oportunidades de comércio de arte a preços compatíveis a todo o público.

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 É possível viver de arte em Florianópolis?
Acho que ao contrário de um passado recente, cada vez um número maior de artistas vive da sua própria arte. Muitas vezes é preciso agregar uma atividade paralela, mas conheço muito artista hoje em Florianópolis que vive do seu trabalho.

 Como você avalia a criação artística na sociedade contemporânea?
Acho que a pluralidade de linguagens é um bom indicador da produção da sociedade contemporânea. Gosto de um texto de Agnaldo Farias em que ele compara a arte contemporânea a um arquipélago “porque cada boa obra engendra uma ilha, com topografia, atmosfera e vegetação particulares, eventualmente semelhante a outra ilha, mas sem confundir-se com ela”.

 O que a arte é capaz de fazer pelos seres humanos? 
A arte é capaz de nos levar além, de provocar leituras sobre o mundo que muitos ensinamentos formais não dão conta. Eu acho que as pessoas que pensam em arte, que dedicam um tempo de sua vida para contemplar uma obra artística, raramente tem disponibilidade para exercitar a intolerância, o ódio, a brutalidade.

SERVIÇO
O quê: FAF – Feira de Artes de Florianópolis
Quando: Todos os sábados, das 10h às 16h
Onde: Casa do Teatro da Armação, Praça XV de Novembro, 344, Centro, Florianópolis
Quanto: Gratuito

Fotos: Paula Guimarães

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