Fascismo, intervenção militar e greve policial

Por Leandro Monerato.

Desde o primeiro levante coxinha em março de 2015, estabeleceu-se uma unidade entre os setores reacionários. Alguns defendiam o nacionalismo, outros o liberalismo, outros Bolsonaro, outros a volta dos militares, etc.

Esse ecletismo ideológico significava para alguns intérpretes idealistas e dogmáticos que não se podia definir a manifestação enquanto fascista. Esquecem-se que exatamente a falta de unidade ideológica marcou o desenvolvimento do fascismo italiano. E de modo geral, um fenômeno político não se deduz a partir do que os seus participantes pensam acerca de.

As manifestações coxinhas, que na sua terceira edição, alcançava unidade tática em defesa do impeachment foram movimentos fascistas, por unir a classe média sob direção do capital financeiro para atacar as organizações de esquerda de massas e derrubar o governo eleito que tinha um pilar de sustentação nessas organizações.

Nesse sentido, ficava claro que o movimento facista levava ao golpe. Assim, o golpe teria como base social o fascismo. O que diria muito sobre como agiria. Acerca disso já não restam dúvidas.

Explicávamos que a reação ao golpe obrigaria inevitavelmente o endurecimento do regime, o que levaria a um regime fascista ou uma nova ditadura militar. Contudo, a resistência contra o golpe nesse momento é um bafo que se sente em todos ambientes, mas não se expressa de modo a ser o fator principal do endurecimento do regime, como havíamos levantado anteriormente. Nesse momento, o que explica é a crise interna à própria direita.

Em março de 2015 Bolsonaro respondia acerca das múltiplas propostas do movimento fascista: “Primeiro derrubamos a Dilma, depois a gente se resolve”. Porém, após o golpe, verificou-se que cada setor está puxando a corda pra seu lado, revelando um impasse no interior do golpe.

O PSDB/DEM quer atropelar o PMDB; PMDB resiste e joga mais merda no ventilador. Todos lados se enfraquecem e quanto mais durar esse impasse interno, mais a solução militar se torna palatável para a burguesia.

Nesse momento, entre o fascismo e a intervenção militar as apostas da burguesia estão com a segunda, mas como veremos, sem deixar de avançar um plano fascista alternativo.

Não há manifestações. Grupos fascistas diminuíram suas atividades na superfície. Enquanto os militares já apareceram como salvadores do caos inúmeras vezes. Temer investiu centenas de milhões nas Forças Armadas e disse que ela atuará sempre que for necessário. A fraqueza do seu governo, a crise institucional do Estado, e uma crise social que surdamente se avoluma de forma pungente, apontam que o Exército será usado muitas vezes. Em perspectiva, a intervenção no Espírito Santo e Rio de Janeiro aparecem como treinamento das tropas e preparação da opinião pública.

Últimas informações apontam Bolsonaro (PSC), Carlos Manato (SD) e o ex-deputado Capitão Assumção como organizadores do motim de policiais.

Este motim policial resultou em caos, em intervenção militar, em migração do governador do ES do PMDB para PSDB, em represália contra os policiais.

Partir da ideia de que Bolsonaro seja o líder isolado dessa ação seria incorrer numa falsificação pretendida por ele mesmo.

Muito mais condizente é que o PSDB, em luta contra setores do PMDB, usou uma ala mais cachorro-louca para mobilizar por baixo os policiais.

Ou seja, para avançar na luta contra o PMDB, o PSDB acaba por estimular duas alternativas: intervenção militar ou o fascismo. Afinal, Bolsonaro fortaleceu-se como liderança dos policiais ao defender os seus interesses particulares, uma corporação que é um verdadeiro manancial de grupos paramilitares de extrema-direita. E a represália contra os grevistas favorece ainda mais que esses policiais passem para o lado Bolsonaro contra o regime que aí está.

Ao mesmo tempo, fortalece no interior das forças armadas o argumento de intervenção contra o caos. Pois revelaria que deputados eleitos estão cometendo ilegalidades para avançar nas negociações. Ou seja, seria necessário intervir para garantir o funcionamento da institucionalidade.

Contudo, não há confiança plena que o exército daria conta do problema, já que a história recente do país torna a população consciente do perigo que isso significa o que aumenta a possibilidade de um levante popular contrário. Por isso, é importante avançar uma opção não institucional, paramilitar, ou seja fascista.

Ou seja, o avançar da crise obriga que o fascismo passe de simples grupos de carecas, para uma posição política de maior vulto dentro do aparelho de repressão, e aí, encontrarão amplo terreno para treinamento e prática do terror.

 

Foto: @otariano

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