Famílias do MST celebram o dia da agricultura familiar com partilha de alimentos no Paraná

Preparação da doações em Rio Bonito do Iguaçu_ Breno Thomé Ortega/ MST-PR.

Além de serem celebrados por produzirem a maior parte dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira, os agricultores e agricultoras familiares e da reforma agrária também são exemplo de solidariedade durante a pandemia do coronavírus. A partilha dos frutos da terra com pessoas e instituições que enfrentam dificuldade marcaram a comemoração do Dia Internacional da Agricultora e do Agricultora Familiar no Paraná, no sábado (25).

 

Camponeses Sem Terra realizaram doações nas regiões centro, norte e sudoeste – onde se somaram também a pequenos agricultores e atingidos por barragens. Somente na ação deste sábado, foram 93 toneladas (93 mil quilos) partilhadas com moradores de áreas urbanas, indígenas, instituições e hospitais. Com as ações de hoje, a campanha de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no (MST) do Paraná atinge 350 toneladas. Em todo do Brasil, a mobilização soma 2.500 toneladas e centenas de iniciativas coletivas de prevenção ao coronavírus e de reação à política genocida do governo Bolsonaro.

O reconhecimento às inúmeras ações solidárias realizadas em todo o Brasil veio também de Roma. O cardeal Michael Czerny, autoridade do vaticano à frente de ações humanitárias no mundo, enviou uma mensagem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em nome dele e do Papa Francisco. Na “Carta de Roma”, o cardeal canadense transmite uma mensagem de gratidão às famílias da Reforma Agrária pelo gesto de distribuição de alimentos às famílias necessitadas nestes tempos da Covid-19. “É um sinal do Reino de Deus que gera solidariedade e comunhão fraterna”, diz o documento.

A mensagem em que o Papa Francisco abençoa os produtos partilhados e reza pelas famílias que produziram, doaram e as que estão recebendo os alimentos é ilustrada por duas passagens bíblicas que falam da compaixão diante da fome e da pobreza do povo. Uma delas é aquela em que Jesus Cristo multiplicou os pães para saciar uma multidão de famintos. O líder da igreja católica diz que reza também para que elas sejam protegidos da pandemia do novo coronavírus e pede coragem e esperança a todos. “E neste dia dos agricultores, que o nosso Bom Deus proteja e abençoe todas as famílias que trabalham na terra e lutam pela partilha da terra e pelo cuidado de nossa casa comum”.

Ao abençoar os alimentos que foram doados pelas famílias do assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas, o Bispo Dom Carlos José de Oliveira lembrou as palavras ditas na carta: “Todos esses produtos maravilhosos, frutos da terra e do trabalho humano, do trabalho de vocês, não são só esses. Mas esses simbolizam toneladas e toneladas, que estão sendo e serão doadas. E nós abençoamos não só estes, mas tudo que será doado. E como a carta do cardeal representante do Papa nos disse: Isto é sinal da benção e da proteção divina. Há muita alegria em poder dar e poder oferecer a aquele que mais precisa”.

Outra leitura foi na Praça São Pedro, no centro de Quedas do Iguaçu, durante a cerimônia de bênção do comboio de caminhões com os alimentos para serem entregues às famílias dos bairros da cidade, entidades assistenciais.

Venilda Castanha, que é integrante da direção estadual do MST e pré-assentada na comunidade de Vilmar Bordin, em Quedas do Iguaçu, ouviu emocionada as palavras e bênçãos do Papa Francisco à partilha de alimentos produzidos pela reforma agrária popular. Só do seu acampamento foram colhidas seis toneladas de produtos para a atividade de hoje. “As palavras do Papa Francisco fortalecem a nossa caminhada e nos anima a cada vez mais dividir o pão com cada irmão que passa dificuldades”, diz ela. “A gente não está doando o que nos sobra, mas repartindo o fruto do trabalho de 136 famílias do acampamento Vilmar Bordin aqui em Quedas do Iguaçu”, completou.

Terras repartidas que geram fartura de alimentos

Mais de 5 mil famílias da região centro do Paraná realizaram a maior doação de alimentos do MST desde o início da pandemia, com cerca de 80 toneladas. A ação envolveu 20 comunidade, de 9 municípios, que juntas formam o maior complexo da Reforma Agrária da América Latina.

Ao todo, 5.300 kits de alimentos foram distribuídos e chegaram nas mãos de famílias em situação de vulnerabilidade e entidades de Laranjeiras do Sul, Rio Bonito de Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu, Goioxim, Cantagalo, e para as 8 comunidades da Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras.

Lindinalva da Cruz Olinto, professora aposentada, é moradora do bairro John Kennedy e integrante da diretoria do Clube de Idosos Santa Edwirges, uma das instituições que recebeu os alimentos neste sábado.

“Há muitas décadas, colhia-se soja e milho no município, mas o retorno disso era limitado. Quedas do Iguaçu tem pouco mais de 50 anos de emancipação e a presença dos assentamentos e pré assentamentos da reforma agrária, pouco mais de uma década. Nesse pouco tempo, a luta pela terra está transformando a realidade. Porque, antes, essas terras tinham um único proprietário. Agora, são diversas comunidades que produzem comida para alimentar as pessoas que precisam e que enfrentam dificuldades neste momento”, garante a aposentada.

A mudança descrita por Lindinalva Olinto começou em 1996, quando 3 mil famílias Sem Terra iniciaram a ocupação de um latifúndio, em Rio Bonito do Iguaçu. Eras áreas griladas pela madeireira Giacomet Marodin, atual Araupel – cerca de 83 mil hectares de áreas públicas, que abrange diferentes municípios da região, foi adquirida ilegalmente pela empresa em 1972.

Em agosto de 2017, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) declarou nulos os títulos de propriedade da madeireira Araupel ocupadas pelo MST, confirmando a prática de grilagem. A determinação resultou de uma ação judicial movida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em 2014. Há dez anos, o Instituto contestava a validade dos títulos do imóvel localizado entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu.

Se antes as dezenas de hectares estavam sob as mãos de um único dono, atualmente a maior parte está dividida entre milhares de famílias camponesas produzem fartura de alimentos, conforme opina Roberto Baggio, da direção nacional do MST. “O que nós estamos fazendo hoje aqui só foi possível porque a terra foi repartida, e essa área dessa grande empresa eram terras públicas, do estado Brasileiro, que ela grilou, expulsou milhares de pessoas, usou violência, e agora ela volta nas mãos dos trabalhadores. E estamos nas mãos dos trabalhadores, gera fartura, trabalho, comunidade, saúde, educação, desenvolvimento, solidariedade, um cuidar do outro”.

Norte do estado, 12 toneladas de alimentos saudáveis foram doados nos municípios de Florestópolis, Porecatu, Centenário do Sul e Arapongas. A ação foi resultado das partilhas de mil famílias camponesas de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária. Já no sudoeste, assentamento e acampamentos do MST contribuíram com 1650 mil quilos das 10 toneladas de alimentos arrecadados de maneira conjunta com diversas entidades.

Marmitas da Terra

Em Curitiba, mil marmitas foram distribuídas às pessoas em situação de rua, moradores da periferia e entregadores por aplicativos, nesta quarta-feira. A ação abriu a celebração do MST do Paraná para o Dia do Agricultor e da Agricultora Familiar. A produção das marmitas é feita por integrantes do MST e de organizações parceiras todas as quartas-feiras, desde o início de maio. Ao todo, cerca de 8.800 marmitas foram produzidas. As refeições têm a maioria dos ingredientes alimentos vindos de comunidades do Movimento, de várias regiões do estado. Também foram produzidas e distribuídas 600 máscaras de tecido.

Fonte: MST/Via Whatsapp.

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