Familiares protestam pelo quarto dia em Santo André (SP)

Ato cobra respostas pelo desaparecimento do jovem Lucas Eduardo Martins dos Santos, 14 anos, sumido há cinco dias, em caminhada da Favela do Amor à sede da PM

Amigos e parentes cobraram explicações pelo desaparecimento do jovem | Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

Por Paulo Eduardo Dias.

Familiares, amigos e vizinhos de Lucas Eduardo Martins dos Santos, 14 anos, desaparecido desde a madrugada de quarta-feira (13/11) protestaram durante a tarde de ontem, segunda-feira (18/11), em frente à sede da 2ª Companhia do 41º BPM/M (Batalhão de Policial Militar Metropolitano), no Jardim Santo André, periferia de Santo André, município na Grande São Paulo. É o quarto dia seguido de protesto pelo sumiço do jovem.

Os parentes culpam policiais militares pelo sumiço do estudante, que havia saído de sua casa na Favela do Amor, na Vila Luzita, também em Santo André, para comprar um refrigerante em uma quitanda dentro da comunidade e teria sido abordado por PMs. A cúpula da PM afastou dois integrantes da tropa do trabalho nas ruas, sem redução de salário, por suspeita de envolvimento no caso.

O ato deixou a casa da tia de Lucas, Isabel Daniela dos Santos, 34 anos, por volta das 14h, e fechou importantes vias da cidade – como as Avenidas São Bernardo do Campo e Capitão Mario Toledo de Camargo, além da Estrada do Pedroso – até chegar a sede do batalhão. É neste local que trabalham os policiais afastados temporariamente do serviço de rua.

Participantes enfrentaram chuvisco e neblina na caminhada | Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

A marcha contou com cerca de 60 moradores da comunidade, inclusive muitas crianças, que enfrentaram o frio e uma fina e persistente garoa para chegar até a sede da companhia responsável pela ronda na periferia de Santo André. Os participantes utilizaram uma camiseta estampada com a foto do rosto do menino com um largo sorriso, seguida das frases #QueremosoLucas e #Justiça, confeccionadas após doações. Tia de Lucas, Daniela percorreu quase todo o trajeto segurando sua filha de dois anos no colo. A pequena criança vestia um gorro para se proteger do clima.

Para que pudessem chegar até a sede policial, os participantes da caminhada passaram por entre os prédios da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) Jardim Santo André, local que ficou marcado pelo trágico sequestro e assassinato da jovem Eloá Pimentel, morta em 2008 pelo ex-namorado Lindemberg Alves, dentro de um dos apartamentos do conjunto.

Quando estavam a poucos metros da unidade uma forte neblina tomou conta da via, impossibilitando que se enxergasse a uma curta distância, devido a proximidade com a serra do mar e a represa Billings. Nesse instante, mesmo com o ato formado em sua maioria por mulheres e crianças, viaturas da Polícia Militar foram posicionadas em frente a entrada do posto policial, com os militares perfilados frente aos manifestantes.

Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

Munidos de faixas e cartazes, os familiares, amigos e vizinhos de Lucas permaneceram por cerca de 30 minutos no local até que fossem embora pacificamente, tomando o mesmo rumo para voltarem para casa. Não houve diálogo com os policiais, que chegaram a fotografar com seus celulares os participantes da marcha.

Encontro com comandante

Horas antes da caminhada, a mesma tia de Lucas que organizou o ato , Daniela, se encontrou com o coronel Renato Nery Machado, responsável pelo CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitana 6), com sede na Vila Guiomar, área rica de Santo André, e que é responsável pela tropa que atua em todas as cidades do ABC. O encontro também contou com a presença do deputado estadual Luiz Fernando (PT).

De acordo com a familiar, o oficial contou que as investigações estão “avançadas”. Ainda segundo ela, Nery a informou que foram apreendidos os celulares, os rádios comunicadores e as armas do PMs afastados, mas que as viaturas não contariam com GPS, equipamento capaz de rastrear se, de fato, os policiais estiveram na Favela do Amor na data e horário do desaparecimento de Lucas. “As viaturas não têm GPS, mas têm outros meios de localização”, contou Daniela à Ponte Jornalismo.

Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

Presente na reunião, o parlamentar disse que pediu empenho das autoridades para desvendar o caso. “Amanhã vou ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), em São Paulo, me encontrar com o delegado Domingos Paulo Neto (chefe estadual do departamento), para cobrar uma efetividade das investigações aqui no ABC, para que isso não fique como a maioria dos casos que acontecem nessas comunidades”, disse à reportagem.

A reportagem esteve no Setor de Homicídios de Santo André, no bairro Utinga, mas os responsáveis pela investigação se recusaram a dar explicações ou detalhar como são feitos os trabalhos de buscas.

Com o passar dos dias, Daniela, que sempre se mostrou forte e esperançosa em achar o sobrinho vivo, já passa a conviver com uma incerteza que maltrata seu coração. “Algo me diz que o corpo encontrado (boiando em um lago no Parque Natural Municipal do Pedroso na manha de sexta-feira 15/11, e que aguarda exames de DNA para identificação) é dele. Tem muitas semelhanças no corpo, e ele foi encontrado sem roupa (só de cuca), e as roupas do Lucas foram encontradas atrás da escola”.

Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

Advogada instituída pela família para cuidar do caso, Maria Zaidan afirmou que a polícia tem que continuar a buscar o paradeiro do jovem mesmo após a localização do corpo no parque. “As buscas têm que continuar porque a gente não sabe se o corpo é dele ou não”, finalizou.

O ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, anunciou que pretende receber a família nesta terça-feira (19/11) para uma conversa. Ele disse que tem dialogado com a Polícia Científica na tentativa de agilizar a conclusão do exame de DNA – o prazo médio é de 10 dias -, além de um outro exame que vai confrontar sangue encontrado na viatura.

“É um caso grave, com indícios de que o desaparecimento do garoto Lucas tem participação de policiais militares. Os laudos técnicos de sangue na viatura e de DNA serão importantes para a investigação”, explicou. Mariano também disse que espera ouvir pessoas que se disseram ameaçadas após o desaparecimento.

Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

Questionada pela reportagem, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), diz que “todas as circunstâncias relativas ao fato são apuradas por meio de inquérito policial instaurado pelo Setor de Desaparecimento do SHPP, da Delegacia Seccional de Santo André”.

“A Polícia Militar também instaurou um procedimento para apurar todos os fatos e denúncias referentes ao caso. Preventivamente, afastou do serviço operacional dois agentes que foram apontados por testemunhas como supostos participantes da abordagem. Um corpo encontrado na última sexta-feira (15), no município, foi apreendido e encaminhado para realização de exames de DNA, que estão em elaboração”, posiciona-se a pasta.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.