Faltaram-me palavras para perguntar.

Foto: Ivan Cima/Cimi Sul.

Por Claudia Weinman, para Desacato. info.

Vitor Pinto, menino Kaingang, tinha dois anos de idade quando foi assassinado em Imbituba/SC, no dia 30 de dezembro de 2015. Ele foi degolado enquanto a mãe, Sônia da Silva, o amamentava, na rodoviária, onde a família trabalhava com a venda do artesanato. Uma semana depois ocorreram mobilizações em denúncia ao caso. O pedido de justiça. Em Chapecó, local de moradia de Vitor, mais de 600 pessoas foram para as ruas. Em Imbituba também teve ato.

Em 14 de março de 2017 o Portal Desacato divulgou a informação, via Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que Matheus de Ávila Silveira, assassino de Vitor, tinha sido condenado há 19 anos, cinco meses e dez dias de reclusão, em regime fechado.

Vitor e outros tantos indígenas, vítimas do preconceito, não voltarão, mas a família anda sem notícias a respeito da indenização, se a pena do condenado foi reduzida, pois é essa informação que chegou até eles nesse momento.

A gente sentou para conversar com a família, mas, faltaram palavras. O pai, Arcelino Pinto, permaneceu mais calado. A mãe Sônia, entre olhares, contou sobre a venda do artesanato, a importância dessa renda mas, por motivos óbvios, se notava a profunda dor pela falta de Vitor.

Nessas situações o que a gente faz é engolir a saliva várias vezes até a boca ficar seca. Precisamos perguntar? Sim. Precisamos que falem para que a gente traga à memória coletiva esse caso e para que isso não aconteça mais? Sim. Mas também nos cabe toda humanidade de não sermos invasivos e respeitarmos essa situação.

Gravamos uma matéria sobre a situação da família desde 2015. Ela será publicada na quinta-feira, dia 25. Importante esse registro a fim de colocar para a sociedade que o caso do pequeno Vitor não é isolado, faz parte da política anti-indigenista, do ódio contra os povos, do extermínio, da não demarcação do território tradicional.

Um relatório do CIMI, divulgado no dia 27 de setembro mostra que: “Em relação à “violência contra a pessoa”, houve um agravamento da situação registrada em sete dos nove tipos avaliados: tentativa de assassinato (27 casos), homicídio culposo (19 casos), ameaça de morte (14), ameaças várias (18), lesões corporais dolosas (12), racismo e discriminação étnico cultural (18) e violência sexual (16). Em relação ao abuso de poder, houve o registro de 8 casos, mesma quantidade de 2016”.

As informações completas podem ser conferidas no link: CIMI.

Vitor Kaingang. Presente!

Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

 

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