“Falar sobre o assunto é um processo de cura”, diz advogada que foi estuprada por contato do Tinder

Por Ivan Longo.

Ana Lucia Keunecke, que é advogada e ativista dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, relatou nesta quarta-feira (27) uma situação que sofreu que é justamente o tipo de situação que recebe como advogada e luta contra: ela foi estuprada. Trata-se do terceiro estupro de sua vida mas este, segundo ela o mais doloroso, aconteceu recentemente e partiu de um homem que ela havia conhecido no aplicativo de relacionamentos Tinder.

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O relato em primeira pessoa detalhando o estupro em que ela foi forçada a fazer sexo anal com o agressor foi publicado no site da revista Marie Claire. No texto, Ana conta que, logo após a violência sofrida, foi ao hospital Pérola Byington (SP), referência no acolhimento de mulheres vítimas de violência sexual, para fazer profilaxia, procedimento usado para evitar contágio de DSTs em vítimas de estupro. Já no hospital se deparou com as dificuldades a que mulheres são submetidas nessas situações: no documento para fazer o exame, o médico classificou o que havia ocorrido como “abuso sexual”. Somente depois de muita discussão que Ana conseguiu que ele mudasse (à caneta) para estupro mediante violência.

Ana não fez Boletim de Ocorrência na delegacia pois sabe que, mesmo que seja bem atendida por uma delegada ou por uma promotora – ela conhece muitas – o processo nesses casos é complicado. Se já no hospital teve dificuldades para que no documento de seu exame constasse “estupro” e chegou a ouvir do médico que “não tem erro nenhum, você permitiu a pessoa entrar na sua casa”, quem dirá o que aconteceria ao decorrer do processo no sistema de Justiça como um todo. Isso acontece com praticamente todas as mulheres e a maioria delas não sabe de seus direitos. Ana, no entanto, sabe. E esse é o motivo pelo qual essa violência, de todas as que já sofreu, foi a que mais doeu.

“Essa foi a que mais doeu porque eu sabia dos meus direitos, mas não tinha o que fazer, a não ser me ferir mais. Eu não tenho prova do não consentimento. Eu tenho provas das feridas que sofri, do atendimento médico… Mas eu não gravei o ato. Em um país onde a justiça é patriarcal, masculina, a gente vê casos notórios e públicos de agressões sexuais que são tratadas como menores. Como uma mulher que sabe de seus direitos vai lá se expor sem ter provas? Não vai conseguir. Fica sempre a palavra da mulher contra a palavra do homem”, disse à Fórum.

Fonte: Portal Fórum

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