Depois de 43 anos, o general mudou a versão em depoimentos ao Ministério Público Federal e à Comissão Nacional da Verdade. Ele admitiu que recebera ordens do então subcomandante do DOI, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso (já falecido), para levar um Fusca até o Alto da Boa Vista e simular o ataque. Raymundo e os dois sargentos metralharam e incendiaram o carro, jogando um fósforo aceso no tanque de combustível.
Na época, Raymundo afirmou que, durante a abordagem, “todos se jogaram no chão” e em seguida “se postaram para revidar ao ataque, momento em que viram uma pessoa atravessar a rua em meio a outro carro”, pouco antes de Paiva fugir. Na nova versão, admitiu que soube da morte de Paiva antes de seguir para o local da farsa.
Tortura
Até então, duas provas indicavam que Paiva provavelmente fora morto sob torturas no DOI, depois de ser preso em casa, no Leblon, por uma guarnição da Aeronáutica: o depoimento de Amilcar Lobo, médico e ex-tenente que atendia torturados e teria tentado socorrer o deputado; e um ofício encontrado na casa de um ex-comandante do DOI-I, coronel Júlio Molinas Dias, contendo o nome completo do político, de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe, a data e uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Na margem esquerda do documento, à caneta, constava uma assinatura, possivelmente de Paiva.
Esses documentos foram descobertos na casa do coronel Molinas Dias, em Porto Alegre, depois da morte do militar, executado com 15 tiros em novembro de 2012. Ele teria sido vítima de traficantes de armas.
A acusação contra o ex-deputado era manter correspondência com exilados brasileiros no Chile. Agentes da Aeronáutica, armados com metralhadoras, invadiram a casa de Paiva na manhã de 20 de janeiro, sem apresentar mandado. Ele saiu dirigindo o próprio carro. A recuperação posterior desse carro em poder dos militares seria outra prova de que o ex-deputado fora preso.
Fonte: Jornal de Londrina.