Excelência profissional

Por Julio Rudman.

Português/Español.

“O que se cifra no nome”
Jorge Luis Borges

Suas dificuldades começaram quando era pequeno. No bairro não sabiam como chamá-lo. Era um menino amável, carinhoso, cheio de cachos e com pintas, que lhe davam um aspecto de joaninha que, como se sabe, sempre sugere ternura e uma natural tendência à proteção. A questão é que, diante da dificuldade para falar seu nome, lhe diziam Cacho.
Mas Cacho não é Cacho. Quando entrou à escola teve sua primeira dificuldade séria. O dia da matrícula no primeiro ano a gorda Eufêmia, administrativa da Escola “Rudecindo Aristigueta”, ficou brava com a tia de Cacho (sua mãe, envergonhada, se recusou sempre a participar da tramitação) porque pensou que estavam debochando dela. A coitada tia Ausência, esse é seu nome, mostrou a certidão de nascimento e, a relutante, o pseudo Cacho ingressou ao sistema educativo. O primeiro grau foi relativamente normal e em paz. Para isso contou com a solidariedade e compreensão da diretora do estabelecimento que, por essas coisas da vida, também levava um nome e sobrenome, por ser cautos, originais. Se chamava Antes Depois. Sim, embora você pense que sou um fabulador. Explico. Antes era filha de um marinheiro caribenho que, como ainda acontece nessas praias, põem nomes insólitos a seus filhos. E eles, por inércia ou por não malhumorar seus pais, continuam com a tradição. O marinheiro em questão não sabia, não lembrava se tinha engendrado a futura diretora antes ou depois de uma bebedeira monumental que terminou numa transa fértil com quem seria sua companheira da vida toda. Desse coito etilizado nasceu a menina e diante da dúvida (e para não chamá-la Dúvida, precisamente) a chamaram Antes Depois do Vinho, que é o sobrenome do amnésico naval. Em fim, voltemos a Cacho, já entrando na idade das espinhas, ou borbulhante caminho dos hormônios em atividade, o futebol, as baladas e as mulheres.
Não acertava em nada. Foi apaixonadíssimo por Clotilde, nome que a ele parecia sublime, mas ela não quis passear do braço de um menino, já um adolescente, que escondesse seu RG por vergonha. Você já viu que há mulheres muito detalhistas.
Entrou na universidade para estudar jornalismo, persuadido de que a rejeição social o encurralaria na solidão e a solidão lhe permitiria se dedicar à leitura dos melhores. Aliás, Soledad (solidão), esse nome o comovia.
E conseguiu. Se formou, sem honras, em estado de mediania intelectual. Se não passou inadvertido durante esses anos foi por sua marca de identidade. Os grupos anarquistas da Faculdade o acolheram como um deles. É que a confusão vem de longe. Os pais fundadores do movimento costumavam chamar seus filhotes de Insurrecto, Comunardo, Ácrata e o seu não desentoava.
Começou a trabalhar  numa revista alternativa e ali lhe diziam Linha de Pontos. Agora lhe conto, não fique impaciente. Resulta que para qualquer tramitação (transferir um veículo ou comprar uma casa, se registrar num hotel, comprar uma passagem aérea, um documento de identidade, cossas assim, tão cotidianas) a qualquer pessoa lhe fazem escolher nome e sobrenome, ou vice-versa, sobre uma linha de pontos e, aqui revelo a incógnita, o cara se chama Nome Sobrenome.
Imagine sozinha, para isso não me precisa, as dificuldades de todo tipo que teve o cara ao longo da sua vida.
Até que um golpe de fortuna, desses que qualquer ser humano precisda e espera com ânsia, o fez pular de revistas e pasquins marginais ao pasquim maior do país.
Na edição do dia 30 de agosto deste ano, na Seção Política de Clarín, aparece um artigo dedicado à análise da vitória do reeleito governador de Tucumán, José Alperovich. A matéria está assinada por nosso herói, Nome Sobrenome. Para ratificar que é ele e não um impostor se acrescenta o endereço de seu correio eletrônico, a saber [email protected] .
Como dá para ver, um caso de excelência profissional.

Versão em português: Tali Feld Gleiser.

Excelencia profesional

“Lo que se cifra en el nombre”
Jorge Luis Borges

Sus dificultades comenzaron desde pequeño. En el barrio no sabían cómo llamarlo. Era un pibe amable, cariñoso, lleno de rulos y con lunares, los que le daban un aspecto de vaquita de San Antonio que, como se sabe, siempre despierta ternura y una natural tendencia a la protección. La cuestión es que, ante la dificultad para nombrarlo, le dijeron Cacho.
Pero Cacho no es Cacho. Cuando ingresó a la escuela tuvo su primera dificultad seria. El día de la inscripción a primer grado la gorda Eufemia, administrativa de la Escuela “Rudecindo Aristigueta”, se enojó con la tía de Cacho (su madre, avergonzada, se negó siempre a participar de los trámites) porque creyó que le estaba tomando el pelo. La pobre tía Ausencia, así se llama, mostró el certificado de nacimiento y, a regañadientes, el pseudo Cacho ingresó al sistema educativo. Hizo una primaria relativamente normal y en paz. Para eso contó con la solidaridad y comprensión de la directora del establecimiento que, por esas cosas de la vida, también llevaba un nombre y apellido, por ser cautos, originales. Se llamaba Antes Después. Sí, aunque usted piense que soy un fabulador. Le explico. Antes era hija de un marinero caribeño que, como ocurre todavía en esas playas, le ponen nombres insólitos a sus hijos. Y éstos, por inercia o por no malhumorar a sus padres, continúan con la tradición. El marinero en cuestión no sabía, no recordaba, si había engendrado a la futura directora antes o después de una borrachera monumental que terminó en encamada fértil con quien sería su compañera de toda la vida. De ese coito etilizado nació la niña y ante la duda (y para no ponerle Duda, precisamente) le pusieron Antes Después del Vino, que es el apellido del amnésico naval. En fin, volvamos a Cacho, ya entrando en la edad de las espinillas, el burbujeante camino de las hormonas en actividad, el futbol, los bailecitos y las minas.
No pegaba una. Estuvo enamoradísimo de Clotilde, nombre que a él le parecía sublime, pero ella no quiso pasearse del brazo de un pibe, un muchacho ya, que escondiera su DNI por vergüenza. Usted vio, hay mujeres muy detallistas.
Ingresó a la universidad para estudiar periodismo, persuadido de que el rechazo social lo arrinconaría en la soledad y la soledad le permitiría dedicarse a la lectura de los mejores. A propósito, Soledad, ese nombre lo conmovía.
Lo logró. Se recibió, sin honores, en estado de medianía intelectual. Si no pasó inadvertido durante esos años fue por su marca identitaria. Los grupos anarquistas de la Facultad lo acogieron como uno de los suyos. Es que la confusión viene de lejos. Los padres fundadores del movimiento solían ponerles a sus cachorros nombres como Insurrecto, Comunardo, Ácrata y el suyo no desentonaba.
Empezó a laburar en una revista alternativa y allí le decían Línea Punteada. Ahora le cuento, no se impaciente. Resulta que para cualquier trámite (transferir un vehículo o comprar una casa, registrarse en un hotel, sacar un pasaje aéreo, un documento de identidad, cosas así, tan cotidianas) a cualquier persona le hacen poner apellido y nombre, o viceversa, sobre una línea punteada y, aquí revelo la incógnita, el tipo se llama Nombre Apellido.
Imagine solita, para eso no me necesita, las dificultades de todo tipo que tuvo el tipo a lo largo de su vida.
Hasta que un golpe de fortuna, de esos que cualquier ser humano necesita y espera con ansias, lo hizo saltar de revistas y pasquines marginales al pasquín mayor del país.
En la edición del día 30 de agosto de este año, en la Sección Política de Clarín, aparece un artículo dedicado al análisis del triunfo del reelecto gobernador de Tucumán, José Alperovich. La nota está firmada por nuestro héroe, Nombre Apellido. Para ratificar que es él y no un impostor se agrega la dirección de su correo electrónico, a saber [email protected] .
Como se ve, un caso de excelencia profesional.

 

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